Crise no andar de cima, mal-estar popular: é necessária uma resposta!

É preciso subir o tom contra Bolsonaro e organizar uma campanha de agitação para ganhar e mobilizar a maioria do povo.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 30 maio 2020, 17:49

A semana foi marcada por uma maior escalada no conflito dentro do aparelho de Estado. Após a revelação do vídeo da reunião ministerial, duas operações da Polícia Federal tiveram destaque. A primeira delas mirou o governador Wilson Witzel e os esquemas de corrupção no Rio de Janeiro. A operação foi vazada no dia anterior pela deputada bolsonarista Carla Zambelli. A segunda operação, na quarta-feira dia 27/05, teve como alvo o “gabinete do ódio”, buscando atingir em cheio o esquema de difusão de fake news. O conflito entre o governo e o STF chegou a níveis inéditos.

As profundezas do conflito ficaram ainda mais evidentes com a publicação do vídeo da reunião ministerial. O que se identificou, uma espécie de “bolsonarismo sem superego”, foi a sinceridade em atacar o povo e “passar a boiada”, nas palavras de Ricardo Salles. Abraham Weintraub, por sua vez, sugeriu a prisão de ministros do STF e Damares Alves previu a prisão de governadores e prefeitos. O vídeo também deixou claro o medo de Bolsonaro de ser preso, além de sua obsessão por controlar a Polícia Federal para defender os interesses de sua família. Com tal agressividade, evidencia-se o despreparo de um governo acuado.

Ao mesmo tempo, além da violência promovida pelo bolsonarismo contra a opinião pública, prima um verdadeiro genocídio contra o povo. A Covid-19 já matou quase 30 mil brasileiros enquanto se aprofunda o desastre governamental: há semanas sem ministro da Saúde, o país assiste à completa falta de coordenação e ao início da reabertura econômica, como a anunciada por João Doria em São Paulo, antes mesmo de a pandemia atingir seu pico. As consequências econômicas são trágicas e os levantamentos mostram que, de março a abril, mais de um milhão de empregos foram perdidos. A violência estatal, por sua vez, segue manifestando, como o trágico assassinato do menino João Pedro numa operação da PM do Rio de Janeiro.

Escalada cada vez mais tensa

Além da ruptura de Sergio Moro, a face mais visível do fenômeno, outros bolsonaristas, como o senador Major Olímpio, passam a manifestar oposição ao governo Bolsonaro. Na imprensa, o apresentador José Luiz Datena, até então próximo do presidente, afasta-se do bolsonarismo e passa a criticá-lo.

Valendo-se da conduta corrupta das elites tradicionais, por sua vez, Bolsonaro mira os governadores de oposição para causar impacto, como na ação da PF sobre Witzel no Rio de Janeiro.

No dia seguinte, no entanto, o STF deu uma resposta ao governo ao ordenar ação da PF no inquérito sobre as fake news, que investiga ameaças à corte e a seus membros. Os agentes investigados estão no coração da operação bolsonarista na internet organizada desde a campanha de 2018, com apoio de empresários, para promover Bolsonaro e disseminar ataques contra adversários e instituições por meio de uma chuva de notícias mentirosas. Entre os alvos da operação desta semana, estão Roberto Jefferson, deputados estaduais paulistas bolsonaristas, Allan Santos (editor do site bolsonarista “Terça Livre”), além dos donos da Havan e da Smart FIT. Como resposta, Bolsonaro, seus filhos e aliados subiram o tom, ameaçando abertamente com uma “ruptura”, um golpe de Estado, caso continuem na mira das investigações do STF.

Subir o tom: por um plano de lutas para enfrentar Bolsonaro!

Diante da escalada da crise, a resposta da oposição e do movimento de massas enfrenta o problema lógico da quarentena, que dificulta a mobilização e a organização de ações de rua massivas. Desse modo, Bolsonaro fica livre para ir às ruas, defendendo a qualquer custo o retorno da atividade econômica, com suas “carreatas da morte” e com a agitação golpista de seu séquito, visivelmente reduzido, mas mais fanatizado e agressivo. Ao mesmo tempo, está clara a debilidade das direções do movimento de massas, que não apontam uma saída clara, não estimulam a mobilização e o enfrentamento à escalada golpista de Bolsonaro, levando à desorientação do movimento de massas e do povo.

É preciso subir o tom contra Bolsonaro e organizar uma campanha de agitação para ganhar e mobilizar a maioria do povo. Está na hora de um plano sustentado de lutas, com protestos que garantam o distanciamento social, mas que coloquem as entidades do campo opositor e popular nas ruas. Com agitações visuais, campanhas de ruas e redes, para barrar a ação dos grupos de extrema-direita.

Há questões urgentes, que exigem a mobilização popular e a iniciativa da oposição, como a permanência da renda básica, diante do desemprego e da crise econômica, e a luta por uma fila única de leitos hospitalares, evitando o colapso dos hospitais do SUS e a falta de assistência aos doentes.

Nos últimos dias, houve alguns bons exemplos, como as manifestações de profissionais da saúde pelo Brasil e as manifestações antifascistas em Porto Alegre, que começam a se espalhar por outras cidades.

Viva a rebelião da juventude negra nos EUA

Por último, este é o momento de aprofundar o internacionalismo, tomando os exemplos de combate à Covid-19 e a luta no mundo contra as agressões contra os povos. Saudamos a luta em curso em Mineápolis, uma rebelião contra o assassinato de mais um homem negro pela polícia racista dos Estados Unidos.

Depois de quatro dias de conflitos, a juventude negra se levanta nacionalmente contra o assassinato de George Floyd e contra a violência policial, colocando Trump e a elite branca na defensiva, com protestos radicalizados nas mais importantes cidades dos Estados Unidos, chegando a cercar a Casa Branca. Um exemplo de luta que contagia o mundo, despertando a simpatia e solidariedade da negritude em todo planeta, da classe trabalhadora e dos povos do mundo. 


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