O rastro de morte se alastra num país à deriva: unidade total para derrubar Bolsonaro!
É hora de unidade: Fora, Bolsonaro! Impeachment já!
O Brasil está à deriva. Pode-se falar na maior tragédia política em 40 anos. Todos os dias, Bolsonaro comete uma afronta à vida, um crime político. Sua continuidade no poder representa uma ameaça, no momento em que o país torna-se o epicentro mundial da pandemia de Covid-19, apesar da enorme subnotificação e da falta de testes.
No terreno econômico, todas as projeções apontam para uma queda de mais de 5% do PIB, quadro recessivo e aumento do endividamento das famílias e empresas. O índice de desemprego cresce intensamente e o dólar bate a marca de seis reais. Os banqueiros e grandes capitalistas aplaudem Guedes para arrancar direitos, reduzir salários e destruir o serviço público, justo quando ele se faz mais necessário.
A indignação toma conta do Brasil. Todas as pesquisas de opinião indicam a queda da popularidade do governo, acentuada pela saída de seus ministros mais populares, Moro e Mandetta. A luta pelo impeachment, por sua vez, continua na ordem do dia.
O que ainda sustenta Bolsonaro?
Muitos ativistas perguntam-se, depois de Bolsonaro ter ultrapassado todos os limites, por que ele segue governando. Para responder a esta questão, temos que sublinhar os atores fundamentais que ainda o sustentam e sua relação com seus índices de popularidade em descenso, mas ainda resilientes.
Podem-se indicar cinco razões para a garantia de suporte ou de alguma estabilidade ao governo Bolsonaro, apesar da escalada da crise: 1) a ação do imperialismo estadunidense, que tem em Bolsonaro um vassalo útil em Brasília; 2) a adesão de partidos do “centrão” ao governo, oferecendo-lhe meios para resistir a um processo de impeachment no Congresso; 3) a tutela e a participação no governo de altos oficiais, da ativa e da reserva, das Forças Armadas; 4) a omissão da oposição, que, em geral, tem assistido aos acontecimentos passivamente ou restringido sua ação a declarações inócuas; e 5) uma parte da base popular ainda se ilude e não pode simplesmente aceitar a ideia do isolamento social, quando tem que sair às ruas todos os dias para poder comer. Bolsonaro tentou falar para estes últimos em alguns momentos ainda que, felizmente, a experiência com o genocida venha sendo feita entre esses setores.
As razões descritas acima são também aspectos fundamentais para que Bolsonaro evite que sua base seja totalmente desmantelada. O núcleo do governo atua, precisamente, para evitar este risco. Tomem-se como exemplos a política de isenção fiscal para igrejas neopentecostais, os acenos para o Exército e a abertura de postos bem remunerados para oficiais no governo, além da difusão orquestrada das mentiras sobre o novo coronavírus, que chegam por whatsapp ao Brasil profundo e o alinhamento criminoso, uma verdadeira traição nacional, do governo brasileiro aos interesses e ao discurso de Donald Trump.
A pesquisa XP/Ipesp – encomendada por uma das maiores gestoras de fundos de investimentos brasileira, que mantém estreita colaboração com Guedes, portanto, não pode ser acusada de antigoverno – indica uma importante tendência: a oposição se torna majoritária, bem como o apoio anterior de 1/3 para o bolsonarismo vai sendo “achatado”: 50% dos entrevistados avaliam o governo como ruim ou péssimo; 23% avaliam-no como regular e 25% avaliam-no como ótimo ou bom.
O tempo político da crise pode acelerar-se. Bolsonaro pretende comprar o “centrão”, colocar em formação de tropa suas milícias (ainda mais virtuais do que de carne e osso, vide a ação dos “300” de Brasília), e controlar a Polícia Federal como uma polícia política. Por outro lado, há um quase consenso nos meios de imprensa de que Bolsonaro precisa ser parado: Globo, Folha, Estadão e Isto É apresentam-se de modo crescentemente crítico ao governo. Record segue na sustentação do governo e tem audiência popular
A provável divulgação, nos próximos dias, do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril – em que Bolsonaro afirma seu interesse em intervir na seção fluminense na PF e são feitas ameaças golpistas por Weintraub e Damares a ministros do STF, prefeitos e governadores – associada ao depoimento de Paulo Marinho, ex-aliado e braço direito de Gustavo Bebianno, indicam que a crise do governo deve intensificar-se. As condições para que Bolsonaro deixe a presidência evidenciam-se a cada dia, apesar da discordância de tempos de setores da oposição.
A luta fundamental pelo impeachment
A disseminação da Covid-19 no Brasil sob o comando de um genocida colocou na ordem do dia o impedimento de Bolsonaro. A ruptura iniciada pelo maior panelaço até aqui, em 18 de março, abriu uma nova conjuntura. Nesse momento, propusemos um pedido de impeachment, com artistas e intelectuais, apoiado por mais de um milhão de brasileiros, visando a oferecer um caminho diante dos ataques e do golpismo de Bolsonaro. A amplitude alcançada por este pedido teve papel fundamental para colocar a tarefa de retirar Bolsonaro da presidência na ordem do dia.
Nos últimos dias, houve dois movimentos importantes da oposição a Bolsonaro em direção à luta por seu impedimento. Primeiro, na terça-feira, partidos de centro-esquerda que haviam protocolado pedidos de impeachment, organizaram o importante ato “Janelas contra Bolsonaro” exigindo a saída do presidente. Nesta quinta-feira, por sua vez, foi oficializado um pedido unificado de setores de movimentos sociais e partidos políticos de esquerda como PSOL, PT, PCdoB, PSTU, PCB e UP. Foi demorado e perdeu o tempo político para estimular a combatividade do povo que espontaneamente estava fazendo panelaços, mas foi feito, mesmo que muito depois do clamor dado pelo barulho nas janelas. Saudamos que tenha ocorrido.
Consideramos uma vitória a luta nas bases das esquerdas contra a paralisia de muitas direções políticas que ou vacilavam ou posicionavam-se contrariamente à abertura de processos de impeachment.
Como derrubar o governo Bolsonaro?
Há uma série de forças em ação. Além das já mencionadas ao longo deste editorial, é preciso também acompanhar o movimento dos governadores e prefeitos que, em geral e até aqui, tiveram uma postura de defesa do isolamento e das regras da OMS – o que não quer dizer que não existam desgastes importantes, como a demissões de vários secretários de saúde e educação dos estados envolvidos em casos de corrupção na compra de aparelhos essenciais como os respiradores.
É preciso acompanhar as mobilizações em curso. A luta dos trabalhadores da saúde em todo o país marca e dá força. Além de engajarem-se para salvar vidas, estes profissionais têm lutado para garantir melhores condições de trabalho, EPIs e a aplicação de testes massivos.
Existem duas tarefas fundamentais para derrotar o governo e colocar Bolsonaro para fora. A primeira é evitar que a extrema-direita levante a cabeça. A extrema-direita só se fortalece se não é combatida. Pouco a pouco, alguns exemplos de combate mostram que eles não estão mais jogando sozinhos em seus protestos golpistas e obscurantistas. Primeiro, em São Paulo, a iniciativa de torcedores antifascistas corintianos mostrou o caminho para impedir mais uma das manifestações “da morte” do bolsonarismo. No último dia 17, um novo exemplo: a ação antifascista em Porto Alegre intimidou os fascistas que se reuniam em mais uma concentração pelo golpe e pela morte. Eis a verdadeira importância da unidade antifascista.
A segunda tarefa é batalhar para que os pedidos de impeachment possam ser unificados, sem sectarismo, para que seja possível avançar a mobilização social, com pixações, placas, faixas, cartazes, panelaços e todas as iniciativas possíveis em todo o Brasil.
Além disso, é preciso seguir a luta em defesa da vida, dos profissionais de saúde e da atenção aos doentes. A solidariedade ativa e o prolongamento da renda básica assistencial são nossas bandeiras. A defesa das vidas e da saúde de nossos familiares, amigos e companheiros une-se com a defesa das liberdades democráticas, do emprego e da renda para o povo brasileiro. É hora de unidade: Fora, Bolsonaro! Impeachment já!