Brasil ultrapassa mais de 40 mil mortes com “causa indeterminada”
O Coronavírus no Brasil certamente já tirou a vida de quase 100 mil brasileiros
O fenômeno da subnotificação não se dá apenas quanto aos casos confirmados. As quase 1,6 milhões de confirmações [1] basicamente refletem os casos cujas complicações acarretaram internações hospitalares. De acordo com especialistas da Fiocruz à USP, não restam dúvidas de que o número de casos reais podem ser de 12x a 20x maiores [2]— o que leva a conclusão que algo entre 10 a 15% da população brasileira já foi infectada pelo Covid-19 no país — somando casos ativos, óbitos e curados.
Todavia, o número de mortes também está subnotificada. A insuficiência sistemática de testes leva a uma explosão de óbitos que tem a causa mortis constatada como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) de causa indeterminada — quando o paciente morre por insuficiência respiratória, sem que haja a oportunidade de estabelecer um diagnóstico definido. Nos últimos quatro anos, a média anual de mortes por SRAG foi de apenas 5 mil. Chegando ainda à metade de 2020, já contabilizamos mais de 26 mil mortes por insuficiência respiratória decorrente de causas indeterminadas [3]. Estes dados são incontestes, uma vez que constam no último boletim epidemiológico lançado pelo militarizado Ministério da Saúde [4].
Com os leitos de UTI lotados na maioria dos estados do país, muitos brasileiros e brasileiras estão morrendo em casa, sem nem chegar a ingressarem no sistema de saúde público ou privado. Em julho de 2020, o número de óbitos em domicílio já contabiliza um aumento de 15 mil em relação ao ano passado. Uma verdadeira tragédia silenciosa. [5]
Na última semana, o Ministério da Saúde também contabilizou cerca de 4 mil mortes em investigação, das quais ainda haverá ou não a confirmação se a causa do óbito tem relação com o Coronavírus [6].
A verdade sobre a pandemia no Brasil está obscurecida por falta de condições materiais (insuficiência generalizada de testes), pelo obscurantismo científico e por motivações políticas de minimizar a maior catástrofe de saúde pública da história do país. Mas não é impossível montar este quebra-cabeça. Basta encaixar as peças.
É completamente realista afirmar que, no início de julho de 2020, a pandemia do Covid-19 já tirou a vida de praticamente 100 mil brasileiros e brasileiras.
Verdadeiro laboratório epidemiológico mundial, a esperança de poupar vidas do povo brasileiro que pouco importa ao governo federal agora depende da eficácia e do sucesso das inúmeras vacinas que estão sendo testadas em território nacional. Ainda há a questão da produção em escala massiva das vacinas, que apesar de terem sido inventadas em tempo recorde, depende de toda uma política de reorientação industrial em verdadeiro clima de guerra. Até lá, só podemos nutrir esperanças do fim derradeiro da pandemia quando ao menos metade da população for infectada: o que representaria atingirmos a cifra de pelo menos 200 mil mortes no Brasil [2]. Seguimos, assim, nossa mórbida trilha no caminho espinhoso e obscurantista imposto pelo governo Bolsonaro — à nossa própria sorte.
Referências
[4] http://saude.gov.br/images/pdf/2020/July/01/Boletim-epidemiologico-COVID-20-3.pdf