Os desafios do PSOL e as eleições municipais

Sobre os desafios do PSOL na luta contra Bolsonaro e nas eleições municipais de 2020.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 13 ago 2020, 14:40

O Diretório Nacional do PSOL se reuniu, de forma virtual, no último final de semana. Em meio a esta inédita situação – em que se combinam a crise sanitária e uma crise econômica, cujos efeitos apenas começamos a sentir –, o desafio de fazer política pela esquerda é ainda maior.

A responsabilidade de enfrentar o governo de extrema-direita que transformou o Brasil, conscientemente, em epicentro mundial da Covid-19 (junto com os Estados Unidos de Trump), é enorme. Bolsonaro e seu governo de milicianos, rapineiros do capital financeiro e generais entreguistas, quer impor um retrocesso, uma derrota histórica para o povo e os trabalhadores brasileiros. Mais um exemplo de seus intentos golpistas foi revelado pela edição deste mês da Revista Piauí, que narrou a disposição de Bolsonaro de intervir no Supremo Tribunal Federal, cassando seus ministros, em 22 de maio. Sua gestão desastrosa, no entanto, tem trazido sérias dificuldades e instabilidade no governo.

A discussão sobre as tarefas do PSOL deve refletir o debate que está sendo feito pelo ativismo: como parar Bolsonaro e, ao mesmo tempo, construir uma alternativa anticapitalista e de massas no Brasil? Na reunião do DN-PSOL, foram aprovadas resoluções unitárias no campo internacional sobre Bolívia e Honduras; moções em memória de Dom Pedro Casaldáliga e Chica Xavier, ícones da luta do povo mortos no último sábado; além das resoluções de conjuntura nacional, tática eleitoral e os critérios gerais de distribuição do Fundo Eleitoral, este último aprovado por quase unanimidade. Houve uma votação muito apertada para definir o processo de prévias democráticas com fins de uma candidatura própria em Recife, recurso defendido pelo companheiro Paulo Rubem Santiago.

Além do triunfo político e democrático que significou um entendimento entre diferentes setores para a aprovação dos critérios do FEFC, foram seis diferentes resoluções apresentadas no temário nacional e seis no de tática eleitoral. A seguir, indicamos nossa visão sobre as batalhas e tarefas que o PSOL tem pela frente.

A esquerda e a pandemia no mundo

A pandemia da Covid-19 desnudou os principais elementos da fase neoliberal do capitalismo: desigualdade estrutural e a necessidade de que a maioria social pague a conta. Junto aos milhões de infectados e centenas de milhares de mortes, a pandemia combina-se com a destruição da natureza e com uma profunda crise econômica. As projeções da recessão em 2020 em todo o mundo são assustadoras. Uma nova “pandemia” associada ronda a classe trabalhadora de todos os países: a pandemia do desemprego, da brutal precarização do trabalho, da concentração de riqueza nas mãos de um punhado de grandes capitalistas bilionários, como Jeff Bezzos, e a farta “distribuição” da pobreza e da miséria.

A polarização é a marca da disputa política. Uma polarização em várias dimensões. A extrema-direita polariza contra os direitos democráticos, a saúde, a ciência e o conhecimento, como mostraram as manifestações antivacina em Berlim. Tal polarização tem como ponto alto a disputa eleitoral nos Estados Unidos, em que Trump busca impor uma vitória de seus planos. Sua derrota seria um alento para os povos do mundo e um golpe duríssimo no coração da extrema-direita e dos agrupamentos neofascistas. A polarização alcança outras formas, como disputas entre Estados, inclusive pela posse e distribuição dos protótipos de vacina. E também é a polarização que explica as incipientes rebeliões populares, como a grande rebelião antirracista que mudou a situação política nos Estados Unidos e mesmo a rebelião que, novamente, tomou as ruas do Líbano após a trágica explosão no porto de Beirute.

Nessa conflitiva situação internacional, o governo de Bolsonaro apresenta-se de forma completamente subordinada, como um pilar da extrema-direita, da política trumpista e do sionismo na América Latina. O DN-PSOL aprovou uma importante campanha contra o golpismo e por eleições livres na Bolívia, além de seguir a denúncia das relações espúrias entre o governo de Bolsonaro, um fantoche de Trump, e a linha colonialista do Estado de Israel, que mais uma vez avança sobre os territórios palestinos. Acompanhar a política internacional e, especialmente, o pulso da situação boliviana, que nas próximas semanas pode indicar uma inflexão na política continental, é uma das tarefas centrais de nosso partido e de todo ativismo.

A tragédia da Covid-19 no Brasil e a luta contra Bolsonaro

Houve uma mudança importante na conjuntura brasileira com o espraiamento da Covid-19: os quatro meses da pandemia indicam uma nova dinâmica nacional. Bolsonaro perdeu apoio: as camadas médias urbanas, sua principal base de apoio na eleição de 2018, passaram para a oposição, apesar da dificuldade do movimento de massas, por razões como o alto desemprego, a queda no nível de vida, os ataques à classe, a interdição das ruas motivada pela quarentena e a falta de uma alternativa com autoridade para organizar e centralizar a luta.

É certo que Bolsonaro não caiu, fruto da inércia da situação e da linha dos setores majoritários da oposição, mas a luta segue. Depois da queda de Moro e o desastre no Ministério da Saúde, agora é a economia que dá sinais de esgotamento. Paulo Guedes classificou como uma “debandada” a saída de sete de seus principais secretários nas últimas semanas. Estamos perto do fim da era do “Posto Ipiranga”.

Do ponto de vista da luta política, reivindicamos o acerto das duas orientações principais: a luta pelo impeachment, pelo “Fora, Bolsonaro” e a saída às ruas no dia 7/6. Isso foi chave para brecar o intento autoritário de Bolsonaro, que mesmo debilitado, segue fustigando com sua retórica e seus planos golpistas.

Apesar dos revezes, Bolsonaro manteve certa resiliência e pôde recuperar algum apoio popular com os pagamentos do auxílio emergencial, a que busca reivindicar paternidade, apesar de sua aprovação pelo Congresso ter sido uma derrota do governo. Por outro lado, o governo e a burguesia estão às voltas, agora, com o plano de ajuste que querem impor e cujos custos serão enormes para o povo brasileiro, como aliás já está claro na sinalização de uma reforma tributária pró-patronal, que pretende obrigar a sociedade a pagar parte dos custos trabalhistas das empresas por meio de uma nova CPMF. A pandemia, por sua vez, está longe de terminar e a irresponsabilidade do governo já condenou à morte mais de 100 mil brasileiros, numa escalada macabra que parece não ter qualquer perspectiva de encerramento.

As tarefas do PSOL: construir a frente única contra Bolsonaro e uma alternativa socialista para o Brasil

A eleição municipal será um momento de debate e balanço da experiência do povo com os ataques do bolsonarismo e as ações de governos municipais e estaduais. Há espaço para o PSOL propor uma alternativa socialista e popular à crise, que reflita as duras lutas recentes, como as dos trabalhadores em aplicativos, das e dos trabalhadores da saúde, da educação e dos metroviários de São Paulo.

Por um lado, temos a questão da unidade. A primeira tarefa para derrotar Bolsonaro é lograr construir uma frente única na ação, a exemplo das enormes manifestações do “Ele Não”, do “Tsunami da Educação” e dos recentes atos antifascistas e antirracistas. Este impulso de luta, fundamental para debilitar Bolsonaro, precisa seguir. Ao mesmo tempo, é necessário construir uma alternativa independente e socialista, que ofereça um caminho para o povo e a classe trabalhadora. A eleição de 2020 será “a quente” e é papel do PSOL dispor-se a apontar, com suas candidaturas, o enfrentamento ao ajuste estrutural de Bolsonaro, Guedes e de seus sócios, nos ataques ao povo, no Congresso e nos governos locais. O ajuste unifica a burguesia, a direita tradicional opositora e mesmo os governos de centro-esquerda que se engajaram tenazmente para aprovar, por exemplo, a reforma da previdência e privatizações.

As eleições devem significar um novo salto para o PSOL e o MES será parte dessa luta, já que nosso partido pode apresentar uma esquerda superadora do que foi a experiência do PT e do lulismo. Por isso, é preciso apresentar, com nossas candidaturas, um perfil combativo e com capilaridade, unindo as tarefas democráticas contra o bolsonarismo e a luta em defesa dos interesses do povo e da classe trabalhadora por emprego, renda, salário, teto, terra, educação, saúde e direitos, os elementos fundamentais de um programa para a construção de um sólido projeto socialista para o país.


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Pedro Micussi