A pandemia terminou?
Enquanto governos e empresas fingem haver uma “volta à normalidade”, educadores e a comunidade escolar mobilizam-se em defesa da vida.
Com presença do bolsonarista Luciano Hang, a abertura de uma nova loja da Havan em Belém (PA) no último sábado gerou uma inacreditável aglomeração, com milhares de pessoas espremendo-se nas portas do estabelecimento. Cenas como esta tornaram-se comuns nas últimas semanas, incentivadas pelo discurso dos governos e de empresários de que a “volta à normalidade” é uma realidade quando o país já supera a marca de 150 mil mortes.
A desaceleração do contágio e das mortes – que permanecem entre os mais altos do mundo – tem dado base a uma verdadeira operação de banalização da pandemia e de seus efeitos. Bolsonaro, que sempre desdenhou dos riscos e das vítimas da Covid-19, posa como soberbo, enquanto o Ministério da Saúde segue inoperante, sem transparência na aplicação dos recursos e há ausência de estímulo à produção científica e à reconversão industrial que seriam capazes de atenuar os efeitos da pandemia. O Brasil segue perdendo essa guerra.
Os trabalhadores dos setores essenciais são os mais expostos e seguem sofrendo as consequências do descaso governamental, que já levou ao contágio de 5 milhões de pessoas – sem se levar em conta a enorme subnotificação de casos. Como revelou reportagem recente da Folha de S. Paulo, as cidades com maior presença de trabalho informal são epicentros da Covid-19.
A má condução política da crise sanitária no mundo pode ser verificada nos dados: quase metade dos óbitos e mais da metade dos casos mundiais concentram-se em três países liderados pela extrema-direita e pelo negacionismo científico: o Brasil de Bolsonaro, a Índia de Modi e, por óbvio, os Estados Unidos de Trump. A relação entre a visão política e a ampliação do contágio e das mortes é objetiva e evidente.
As previsões sobre a vacina ainda não estão confirmadas. Ainda não se sabe quando e como chegarão aos povos vacinas capazes de trazer imunidade para o coronavírus. Há uma corrida intensa, envolvendo corporações transnacionais e Estados, numa disputa científica, geopolítica e por enormes lucros, para dar o início à imunização em massa. A OMS declarou ser antiético fazer o vírus circular livremente, como querem os arautos do negacionismo, baseando-se na tese da “imunização de rebanho”. Aliás, a confirmação do primeiro caso internacional de reinfecção por Covid-19 acende alertas em todo o mundo.
Enquanto, na Europa, se avaliam os riscos de uma segunda onda de contágios, nos Estados Unidos e no Brasil, a pandemia é tema central da pauta eleitoral e da queda de braço em curso pela reabertura a qualquer custo das escolas, expondo ao contágio milhões de crianças, professores, funcionários e pais.
Pandemia e eleições
No debate eleitoral estadunidense, a Covid-19 tornou-se assunto central. Trump, após negar a gravidade da situação e conduzir os Estados Unidos à liderança do ranking da morte mundial, foi contaminado, confrontando, uma vez mais, as teorias da conspiração da extrema-direita que o apoia.
No Brasil, após duas semanas de campanha municipal – na qual a esquerda tem atuado, em geral, com todo o cuidado para seguir as normas sanitárias –, temos uma eleição ainda pouco definida, com a maioria da população bastante alheia ao processo. Ao mesmo tempo em que a banalização da pandemia pode trazer consequências sanitárias graves, a redução pela metade do auxílio-emergencial empurrará milhões de famílias para a pobreza e para a fome. Ao mesmo tempo, o governo, a cúpula do regime e os patrões organizam um acordão em favor do ajuste e da estabilidade para Bolsonaro, fazendo com que a conta da crise seja paga pelos trabalhadores.
Por tudo isso, as cidades devem apresentar um plano de emergência para a pandemia e suas consequências para a saúde pública, a economia e a educação. Essa deve ser a política do PSOL e de suas lideranças nestas eleições.
Em 15 de outubro, segue a batalha pela vida e pela educação
Para evitar a banalização da morte e da pandemia, é preciso lutar em defesa da educação, das professoras, professores, profissionais da educação, estudantes e suas famílias. Não é possível aceitar uma reabertura sem critérios, cujo objetivo é apenas fazer as cidades voltarem à “normalidade”, ampliando a atividade econômica às custas do risco à saúde de milhões, expostos à contaminação em escolas despreparadas para enfrentar uma emergência sanitária desse tipo pelo descaso dos governos.
Vários exemplos no mundo mostram os riscos, com uma reabertura desordenada, de repique do contágio. Por tudo isso, estamos com os educadores e seus sindicatos na defesa da vida e da educação de qualidade! As e os educadores da rede municipal de Porto Alegre deram um exemplo a todo o país, aprovando em assembleia a greve sanitária. Não à reabertura enquanto não houver condições seguras para crianças, professores e suas famílias! Vamos defender a vida!