As facetas da fome no Brasil

Com a pandemia da Covid-19, aumenta a fome no Brasil.

Mayra Ribeiro 5 abr 2021, 19:03

No Brasil, vivemos um agravamento da crise econômica, sanitária, social e política, a qual atinge milhares de trabalhadores e trabalhadoras em todo o país.

Para além disso, sabemos que o presidente não tem políticas para controlar os avanços da pandemia, tendo em vista que ele não investe na saúde, ciência, pesquisa e educação. Ademais, Bolsonaro não respeita as medidas de isolamento social, repudia o uso de máscaras, inclusive em todos os eventos da presidência a grande maioria de seus ministros, convidados e funcionários não usam o equipamento de proteção. Ele também indica medicamentos para o tratamento da doença que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já demonstrou cientificamente através de pesquisas que não são eficazes para combater a covid-19.

Nesse sentido, em razão dessas políticas de morte, quem irá sofrer será a população brasileira que está em situação de pobreza e que nesse momento não tem condições necessárias para realizar duas refeições cotidianamente sem o auxílio do Serviço Social, das Centrais Únicas das Favelas (CUFAS), dos partidos de esquerda, das cozinhas comunitárias, dos Movimentos Sociais e das ONGS.

De acordo com o G10 favelas, a situação nas favelas do Brasil, nunca foi fácil, falta de saneamento, desemprego, desinformação, falta de investimento em políticas para a população e fome.

Dessa maneira, dados do Instituto Data Favela, nos mostram que 68% das famílias, as quais vivem em favelas não tem dinheiro para comprar comida. A pesquisa foi realizada com 2.087 pessoas maiores de 16 anos em todas as unidades da Federação, no período de 9 a 11 de fevereiro de 2021, ademais, como já citado os dados destacam que o número de refeições feitas pelas famílias caiu de uma média de 2,4, em agosto de 2020, para 1,9, em fevereiro de 2021.

Desse modo as lideranças que atuam nas favelas destacam que os dados são extremamente preocupantes, pois de acordo com o levantamento 71% das famílias estão sobrevivendo, atualmente com menos da metade da renda, que obtinham antes da pandemia.

A pesquisa também aponta que 93% dos moradores não tem nenhum dinheiro guardado, e principal impacto é na geração de renda, haja vista que existe uma grande quantidade de trabalhadores informais, que acabam totalmente desprotegidos e não tem acesso a previdência social, registro em carteira, políticas de assistência social e prevenção. Outra questão de suma importância a ser tratada, é que as famílias tiveram uma grande dificuldade em ter acesso no início da pandemia ao auxílio emergencial, por isso, as comunidades sofreram um impacto gigantesco na renda e os pequenos comerciantes que residem no local também, pois se os moradores não possuem dinheiro para gastar, a economia do local não irá se movimentar, fazendo com que uma das consequências desse movimento seja a fome e a precariedade.

Sabemos que para conter os avanços da pandemia é necessário lockdown nacional, todavia a população não tem condições de realizar isolamento social com a criação do novo auxílio emergencial, o qual teve seu valor reduzido pelo Presidente Jair Bolsonaro, com isso, ele excluiu 22,6 milhões do benefício. O auxílio só será pago em abril a quem já recebeu em 2020, mesmo com 14 milhões de brasileiros desempregados como demonstram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

É importante salientar que o valor do auxílio é bem menor do que em 2020 e que as famílias terão que escolher entre garantir sua alimentação, ou pagar as contas da casa. O auxílio será pago para trabalhadores informais e beneficiários do Programa Bolsa Família.

No ano passado, devido a mobilização dos partidos de oposição, principalmente o PSOL, o valor das parcelas eram de 600 reais e beneficiaram 62,2 milhões de pessoas. Já o novo auxílio contará com quatro parcelas e os valores variam entre 150 reais, 250 reais e 375 reais. Desse modo, somente 45,6 milhões de brasileiros serão beneficiados.

Na cidade de Ribeirão Preto, a situação não poderia ser diferente do cenário nacional, tendo em vista que o prefeito não investe em políticas para proteger a população que sucumbe em razão da covid-19.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), temos uma população de 711.825 habitantes, os quais não conseguiram realizar o isolamento social em meio a pandemia, pois tem que sair para trabalhar para garantir o sustento familiar.

Nesse sentido, sabemos que as pessoas que estão residindo em favelas e comunidades ocupadas enfrentam cotidianamente essa falta de políticas.

Segundo dados do Plano Local de Habitação de Interesse Social, da cidade de Ribeirão Preto, temos 87 assentamentos irregulares com 9 mil 734 unidades habitacionais, contudo, os Movimentos de luta por moradia dizem que o número é maior.

Nesse movimento de agravamento da pandemia estas famílias acabam recorrendo as ações de solidariedade ativa do Emancipa para conseguirem sobreviver.

É de suma importância salientar que o Emancipa de Ribeirão Preto, iniciou suas ações de Solidariedade Ativa em março de 2020, com a criação de uma cozinha comunitária em uma comunidade na zona oeste de Ribeirão Preto.

Partindo desta primeira ação o Emancipa continuou realizando diversas ações de Solidariedade Ativa em 2020. Na Comunidade Nova Vila União, o Emancipa, as famílias da comunidade e o Coletivo Juntas, em parceria realizam atividades com as crianças e adolescentes na escola do quintal e com as mulheres, as quais são mães dessas crianças são feitas rodas de conversa para abordar temas como saúde, prevenção, machismo, direitos sociais, racismo, capacitismo e diversos outros.

A escola do quintal surge através de uma iniciativa de duas moradoras da comunidade, que se preocuparam com a situação das crianças e adolescentes, pois com a pandemia eles não conseguiam assistir as aulas online, haja vista que as famílias da comunidade não têm acesso a internet.

A comunidade também conta com uma cozinha comunitária, que serve refeições para as famílias, três vezes por semana, segunda, quarta e sexta no horário do almoço. Podemos notar, que as mulheres estão muito presentes nas ações da cozinha, elas fazem a alimentação e também a distribuição da comida. Percebe-se, que este é um momento de doação, de prazer e de compartilhamento entre os moradores da comunidade.

O Emancipa e o Coletivo Juntas já distribuíram alimentos para a cozinha e também cestas básicas para as famílias.

Para além da distribuição para a comunidade, no último domingo, dia 28 de março os dois coletivos realizaram uma atividade no acampamento Plantio Verde, com o objetivo de distribuir cestas para as famílias, apresentar suas atividades e conhecer os moradores do local para compreender a totalidade e poder captar as demandas do coletivo. Sabemos que esse momento demanda essas ações para que a população não esteja desamparada, entretanto essa situação nos chama para a luta, pois precisamos derrotar o governo de Jair Bolsonaro antes das eleições de 2022, tendo em vista que ele é o principal responsável por essa tragédia que assola a vida de milhares de brasileiros e brasileiras.


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Pedro Micussi