Colômbia e o novo levante contra a reforma tributária

Entrevista com Juan David Forero, do Coletivo Ambiental Social Local.

Juan David Forero 30 abr 2021, 18:19

O movimento de paralisação na Colômbia tem repercutido em todo mundo como uma demonstração de força do povo colombiano. Por quais motivos a população saiu às ruas?

O projeto da paralisação nacional não nasceu durante a pandemia, mas existe na Colômbia desde 2019. Nossa luta desde lá continua sendo a mesma, a luta da proteção de direitos humanos, a defesa das necessidades do povo que nosso Estado que está falido não atua. O principal elemento é a reforma tributária que está sendo proposta. Enquanto o presidente Ivan Duque dá subsídios para as grandes empresas, como o caso da Avianca que tem uma parte enorme de seu capital estrangeiro, não há garantias mínimas para os pobres, que estão sem renda básica e com gente morrendo de fome. Muitas pessoas que não tem como manter distanciamento porque não tem condições de sobreviver sem trabalhar. Além disso temos o tema da vacinação e a crise carcerária como temas muito relevantes.

Como tem se desenvolvido as manifestações? Quem são os atores sociais que estão em luta no país?

 Bogotá é considerada na América Latina como uma das cidades onde mais há manifestações no continente e isso corresponde muito a falta de garantias que temos de direitos na Colômnia. Essa falta de garantias se mostra em vários lugares, desde a saúde até a falta de acesso ao trabalho.
E agora nesse momento da pandemia, essas divisões sociais e políticas que existem no país se apresentam ainda mais.
Durante as manifestações estamos vendo todo tipo de pessoas participando das mobilizações, são negros e negras, LGBTIs, estudantes, jovens desempregados, pais, filhos e netos. O peso da juventude é muito grande, mas não somos os únicos.
E efetivamente são atos grandes que cabem muitas pessoas e que precisam avanaar. Mesmo havendo um comitê de paralisação desde dois anos atrás, muitos que nem conhecem o comitê tem participado das marchas.
O Estado tem respondido com uma política de repressão, como foi em Bogotá que os policiais mataram manifestantes.

O Governo de Ivan Duque é um dos governos mais reacionários do continente. Isso tem gerado mobilizações na Colômbia desde o início do seu mandato. De que forma as atuais manifestações se conectam com as lutas dos últimos anos no país?

Ivan Duque é um fantoche, ele não toma decisões, ele só as transmite. Então as lutas contra o Ivan Duque as vezes não têm uma conexão clara, porque ele não é quem verdadeiramente dirige o país. Seu Governo tem dificuldade de se apresentar e criar diálogos na sociedade.
O que está acontecendo agora é uma consequência de várias lutas que se desenvolveram nos últimos anos que vieram mostrando como o Governo tem descumprido suas promessas. É o caso da paralisação de camponeses que aconteceu no país, a luta dos estudantes e daqueles que tem defendido os direitos humanos – diversas promessas foram feitas e nenhuma foi cumprida, gerando mobilizações de vários setores.

Agora com a reforma tributária o governo diz que acabou o dinheiro e que todos precisaríamos nos sacrificar, mas a taxação é feita nos elementos básicos do dia a dia da população, como o açúcar.
Ivan Duque e seus ministros vivem num país que não existe, eles tem valores econômicos que não fazem sentido para a maioria da população. O exemplo tem sido com a vacinação: todo dia o governo diz que estão chegando novas levas de vacina para a segunda dose dos idosos e elas nunca chegam.

Efetivamente devemos fazer uma luta eficaz, ou seja, uma luta que não espere só desculpas e assinaturas que não serão cumpridas. Temos que seguir com a paralisação, mas apresentar um projeto, que não possibilite o assassinato dos jovens e esse tipo de política do Governo.

De que forma você vê o futuro das mobilizações na Colômbia?

Hoje estamos vendo que os jovens têm levantado sua voz. Precisamos debater como vamos apresentar novas formas de pensar nosso Estado, que não seja só um Estado representativo, mas que tenha espaço para os diferentes setores se apresentarem, pensando espaços de organização da juventude, mulheres etc

Acho que a luta vai continuar, tanto em Colômbia, quanto na América Latina, quanto no mundo. A gente está vivendo uma crise há muitos anos, sem uma economia estável e vejo que é essa situação em diversos países. A luta da América Latina precisa se converter um ponto em comum e criarmos um movimento que rompa as fronteiras. Porque o que vemos aqui na Colômbia também vemos por exemplo em Myanmar.

Uma pessoa muito importante na Colômbia um dia disse que “se vocês, os jovens, não tomam as rédeas de seus países, ninguém vai fazer por vocês” e acho que essa é uma luta para toda América Latina, nossa geração precisa tomar as rédeas de toda América Latina!


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