Às ruas, dia 29 de maio pelo Fora Bolsonaro

Vamos sair às ruas sem medo de ter cuidado, mas com muito cuidado para não ter medo.

Camila Souza e Israel Dutra 27 maio 2021, 19:34

Quando um governo é mais perigoso que um vírus, o povo deve ir às ruas. Assim estava escrito nos cartazes dos protestos contra o governo colombiano. E por isso devemos voltar às ruas para o dia 29, em uma centena de cidades do Brasil.

Contando com um cuidado sanitário, munidos de máscaras pff2 e álcool-gel, preparamos a nossa ida para as ruas. Vamos pressionar pela saída do governo, gritando fora Bolsonaro, pelo impeachment, além da defesa de um amplo plano de vacinação, com auxílio-emergencial de 600 reais, contra os cortes da educação e a violência polical contra o povo negro e as reformas neoliberais que retiram direitos, como a reforma administrativa. Essas são as bandeiras que unificam o movimento social e popular que sai às ruas no sábado, dia 29.

A indignação que se acentua no humor social, com Bolsonaro se isolando e sofrendo importantes quedas em sua avaliação popular, está represada por conta da pandemia. Mas um governo autoritário responde radicalizando, numa nova escalada: convocou manifestações para o dia 15 de maio e organizou uma demonstração de força com o “desfile” de motocicletas que encabeçou Bolsonaro no Rio de Janeiro. Na manifestação, todos sem máscaras, e com contornos de um verdadeiro ato de desagravo a Pazuello, protagonista presente no palanque, infringindo leis que não permitem que um militar da ativa tome lugar em atividades políticas.

No palco da CPI, acompanhada pela imprensa e por milhões de brasileiros, os representantes do governo repetem uma verdadeira atuação teatral, empilhando mentiras e contradições. Depois de Pazuello, quem se destacou por incongruências e disparates, foi a secretária-executiva do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, apelidada de ‘capitã cloroquina’ por seu apego à prescrição do tratamento precoce. Foi notório a falta de veracidade nos depoimentos, evidenciando a omissão quanto à distribuição de vacinas, quanto à crise de oxigênio em Manaus, um verdadeiro desastre na gestão do ministério da saúde, configurando diversos crimes de responsabilidade que levaram aos números absurdos de vítimas da covid no Brasil. Diante de tantos absurdos, para que a CPI não acabe em pizza, o povo precisa entrar em cena.

Enquanto isso, outro personagem nefasto, Ricardo Salles, é cada vez mais questionado. A PF o indiciou por esquemas de compra ilegal de madeira. A “boiada” que Salles quer passar chega às aldeias indígenas, numa situação de calamidade, com a ofensiva genocida dos garimpeiros.

O cenário social está cada vez mais degradado. Nos grandes centros urbanos e nas periferias do país, a fome, o desemprego e o trabalho informal assolam a ampla maioria das famílias. Enquanto isso na canetada, Bolsonaro aumenta o seu próprio salário e de seu gabinete próximo enquanto o salário dos servidores públicos estão congelados. Sem falar que hoje na CPI da pandemia, mais uma vez ficou evidente a omissão do governo federal na compra das vacinas. Dimas Covas, diretor do Butantan disse à CPI que Brasil poderia ter sido um dos primeiro países a vacinar, segundo ele a primeira proposta ao governo federal tinha previsão de entregar 60 milhões de doses da CoronaVac em dezembro.

Diante desse quadro, se colocou a necessidade imperativa de unificar as lutas numa jornada comum. Fruto dessa compreensão, setores e movimentos se articularam sob a marca e articulação da iniciativa da página “Povo na Rua” para convocar o dia 29 de maio como dia nacional de lutas e mobilização. Sabemos que não dá para sangrar Bolsonaro até 2022, a necessidade de derrotá-lo é urgente.

Já existem indicativos, apesar das dificuldades, da disposição do povo de lutar. A juventude está na vanguarda. Seja a juventude negra e periférica que respondeu nas ruas no dia 13 de maio, denunciando o massacre de Jacarezinho e o genocídio da juventude negra, seja também nas universidades que se levantam contra os cortes e o sucateamento, em fortes manifestações, a exemplo do dia 14, na UFRJ, e as demais ações descentralizadas no dia 19 de maio junto aos sindicatos da educação, como o ANDES. Os metroviários de São Paulo e Belo Horizonte foram às greves. Seguem importantes greves sanitárias de educadores. Portanto, apesar das desigualdades, existem focos de luta e resistência por todo país.

O ativismo recebe a influência dos novos ventos que sopram no continente. Segue a heroica rebelião popular na Colômbia, a esquerda disputa a eleição mais polarizada dos últimos anos no Peru, a eleição chilena votou para enterrar a constituição pinochetista, há alguns meses o Paraguai conheceu um levante popular contra o governo. Essas lutas nos inspiram e nos encorajam.

Necessitamos que o dia 29 seja o encontro dessas lutas, e que com prioridade seja construído nas bases de cada categoria e movimento social. Vamos sair às ruas como falou Duvivier, sem medo de ter cuidado, mas com muito cuidado para não ter medo. É urgente darmos um grito de basta!


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