Queremos Vacina, Não Copa!
Hoje, 31, a Conmebol anunciou o Brasil como país sede da Copa América. Sara Azevedo e Felipe Duque debatem tal anúncio à luz da conjuntura brasileira.
No final da noite do dia 30 de maio, a CONMEBOL anunciou que a Argentina não sediaria mais a Copa América, competição continental de seleções, e estaria aberta a receber propostas para nova sede.
Na manhã de hoje, 31/05, já tinha um novo anúncio de que o Brasil teria se proposto a ser sede. A rapidez na resposta, nunca antes vista – que o digam os representantes da farmacêutica Pfizer – fez com que Bolsonaro e a CBF fossem saudados e referenciados pela entidade organizadora.
“Brasil: Ame-o ou deixe-o”
A Copa América é um torneio continental de seleções que possui uma história de promoção do futebol, especialmente latino americano. O mais antigo dos torneios entre nações no mundo tem sido também usado para ampliar hegemonias no nosso continente e o uso do futebol como arma política é recorrente também, assim como escândalos de corrupção envolvendo as entidades esportivas.
Em 2015, estourou um escândalo conhecido mundialmente como FIFAGATE que levou à prisão vários cartolas brasileiros, como o ex-presidente da CBF José Maria Marin, e teve outros ex-presidentes sendo acusados de corrupção. Na última edição da Copa América, realizada no Brasil em 2019, além dos altíssimos preços dos ingressos, que afastaram os torcedores dos estádios, levou o Estado do Rio de janeiro a uma crise fiscal gigantesca, promovendo congelamento dos salários dos servidores públicos, contraditoriamente aos lucros da CBF que giram em torno de centenas de milhões.
A CONMEBOL, na tentativa de se igualar a EUROCOPA, tornou o torneio, que se realizava de 4 em 4 anos, praticamente anual. A insistência na realização, após ter sido adiado e recebido pedido de cancelamento pelo governo colombiano, onde a onda de protestos contra o presidente direitista Ivan Duque chegaram aos estádios, que ficaram vazios de torcedores, e receberam as fumaças da repressão nas ruas – os incidentes ocorreram nos jogos da Copa Libertadores da América nas partidas de Fluminense (alterada em seu local) e Atlético Mineiro contra times da Colômbia.
Após a Copa América ter sido negada por Colômbia, Argentina, Chile e EUA, com argumento legítimo da pandemia, o governo brasileiro traz para o Brasil no momento que já perdemos quase meio milhão de brasileiros para o novo coronavírus e de uma onda de grandes manifestações que se realizaram em mais de 180 cidades do país, se tornando a maior mobilização após a pandemia.
Com isso, Bolsonaro tenta se equiparar a Médici, ditador brasileiro que, na Copa do Mundo de 1970, fez diversas campanhas nacionalistas, trazendo o torneio e levantando uma onda cívica para encobrir um governo genocida.
A política do “Pão e Circo” é uma característica de governos ditatoriais para inculcar uma ideia de “festa”, em contraste às desigualdades sociais. Bolsonaro tenta reeditar essa chamada no Brasil de 2021, quando não temos o “Pão”. São cerca de 28% da população brasileira em situação de insegurança alimentar ou passando fome no país. O “Circo” não tem platéia pois, com mais de 450 mil mortos, a torcida virou velório. E o picadeiro já não encanta o público que, cansado, diz não à copa.
Contra atacar
Atrelado a essa megalomania irresponsável, temos um impacto perene das medidas ultra-neoliberais de Paulo Guedes, abraçadas pela base de Bolsonaro com os famosos “mensalões”, onde o resquício de social do Estado se esvai, assim como a soberania nacional com a venda da Eletrobrás.
Enquanto nossos ativos são praticamente “doados” como uma Republiqueta de Bananas, Bolsonaro vê no evento a possibilidade de coesionar sua base pseudo-patriótica que usa a blusa da seleção e presta continência para a estátua das lojas do “Véio da Havan”.
Uma jogada arriscada, é o famoso “esticar a corda”. Em contrapartida, depois de protestos efusivos no dia 29, que pediram sua saída, o atual presidente pode acender uma faísca perto de um depósito de dinamites.
Que o dinheiro que a CONMEBOL e CBF buscam com a Copa, seja revertido em vacinas e na garantia de que elas cheguem no braço de cada brasileiro, comida no prato para todos e segurança sanitária para que os gritos de gol possam ecoar no país.