O PSOL e as eleições para governador de SP em 2022
Não é parte da tradição do PSOL a definição de sua política a partir de cálculos e de negociações eleitorais de cúpula.
O ex-candidato a prefeito pelo PSOL com um ótimo resultado em 2020, Guilherme Boulos, apresentou-se como pré-candidato a governador de São Paulo em 2022. Tal anúncio foi levado a cabo sem um debate nas instâncias partidárias e por meio de uma entrevista em que, abertamente, se atrelava a ideia de Boulos governador, com apoio do PT e de uma frente de esquerda, em compensação a Lula presidente, com apoio do PSOL.
Agora, nesta terça-feira (15), a Folha de S.Paulo noticiou que o PT deseja demover Boulos dessa candidatura, estimulando-o a que se lance a deputado em 2022, em troca de em 2024 contar com o apoio do PT à prefeitura. Nas redes sociais, Boulos e seus apoiadores saíram em defesa do seu nome (e não de Haddad, pré-candidato do PT) para governador.
Não é parte da tradição do PSOL a definição de sua política a partir de cálculos e de negociações eleitorais de cúpula, desatreladas do programa e da independência de classe do nosso partido. Por isso, desde sua fundação, o PSOL é reconhecido por ter como regra candidaturas próprias aos cargos majoritários, a começar pela presidência da república.
Para 2022, os debates se tornam mais complexos pela absoluta prioridade de se derrotar o bolsonarismo nacionalmente e, também nos estados, onde possível, impedir a reprodução da extrema-direita ou da direita liberal, como representada por Doria. A partir disso se desdobram discussões sobre a unidade da esquerda.
O principal risco colocado ao PSOL atualmente é o de igualar esta discussão a uma dissolução do partido sob a direção de Lula e do PT, que já deram mostras de governar em benefício da burguesia e não apontam qualquer direcionamento diferente para 2022. Com a alta probabilidade de Lula estar no segundo turno e, sendo contra Bolsonaro, receber nosso apoio, assim como qualquer outro que enfrente o fascismo, o PSOL tem por obrigação manter erguida a bandeira de seu programa anticapitalista e independente. Por essa razão, apoiamos a pré-candidatura de Glauber Braga à presidência.
Sob esse viés devemos olhar a situação nos estados. Começando por identificar que, em nome de seu projeto nacional, a movimentação de Lula e do PT é para ao mesmo tempo controlar como esvaziar o PSOL, impedindo uma alternativa à esquerda de si, enquanto segue compondo com a direita tradicional. Assim, foi Lula quem endereçou a migração de Freixo ao PSB para afiançar apoio a ele ao governo do estado, e em São Paulo, mesmo possuindo estreita amizade com Boulos, reluta a dar aval imediato a seu nome. O fato contraditório é que, dentro do PSOL, Boulos é justamente o representante principal da política de alinhamento do PT, já tendo deixado claro, antes mesmo do partido, sua orientação de apoiar a candidatura presidencial de Lula.
Entretanto, a afirmação do PSOL e de candidaturas próprias do partido não deve estar atrelada às barganhas com o petismo ou qualquer setor do establishment, mas sim conectadas com nossa militância e com o nosso programa, que aponta para transformações econômicas e sociais profundas, e não para a administração pura e simples do Estado.
Encabeçada por quem estiver à altura da tarefa de defender nossas bandeiras, nosso programa e nossa estratégia, o PSOL deve ter candidatura própria ao governo do estado em 2022, e candidatura própria à presidência da república.