O que esperar do VII Congresso do PSOL?

O que esperar do VII Congresso do PSOL?

O PSOL tem duas tarefas fundamentais: derrotar imediatamente Bolsonaro e abrir caminho para uma alternativa, independente e anticapitalista.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 20 jul 2021, 21:06

No último domingo (18), encerrou-se a etapa virtual do VII Congresso do PSOL. Apesar do importante esforço de parcela da militância do partido, a apresentação e o debate entre as diferentes teses foram muito aquém do necessário pelo esvaziamento da convocação das reuniões municipais. Algumas cidades chegaram a ter mais gente de fora participando das plenárias virtuais do que militantes do local. A votação presencial, por sua vez, contra a qual nos posicionamos, será um processo atropelado e despolitizado.

Nessa nova etapa que começa, queremos seguir debatendo com o conjunto dos filiados as duas tarefas que organizam toda a nossa política: derrotar imediatamente Bolsonaro e abrir caminho para construir uma alternativa, independente e anticapitalista, que seja útil e necessária para a maioria social.

Derrotar Bolsonaro agora

As últimas semanas foram de desgaste intenso de Bolsonaro com as atividades da CPI da Covid-19, que têm revelado a responsabilidade da política genocida do governo nas mortes de mais de meio milhão de brasileiros, o atraso e as negociatas na compra de vacinas, envolvendo militares, policiais, pastores evangélicos e todo tipo de picaretas que ocupam cargos neste governo. Buscando conter o derretimento de sua popularidade, Bolsonaro utilizou uma internação para tratar obstrução intestinal como estratégia para mudar a pauta da imprensa e requentar, uma vez mais, o caso da facada de 2018.

Enquanto isso, seus operadores no Congresso e o centrão aprovaram a lei orçamentária de 2022 com um aumento no fundo eleitoral de R$ 2 bilhões para inacreditáveis R$ 5,7 bilhões. Ao mesmo tempo, Arthur Lira organiza um conjunto de mudanças na legislação eleitoral e partidária, como a introdução do “distritão” na eleição proporcional. O objetivo de tais medidas, obviamente, é reproduzir os postos parlamentares do centrão, os privilégios materiais e a corrupção de burocracias partidárias.

Lira também tem dado declarações a favor da aprovação do “semipresidencialismo”, em conjunto com Gilmar Mendes, lideranças burguesas e comentaristas da mídia empresarial. Trata-se de mais uma tentativa de esvaziar o direito ao voto e de um ataque à soberania popular no contexto da aguda crise de legitimidade do regime vivida nos últimos anos. A burguesia vai testando hipóteses para manter seu programa antipopular e antinacional sem Bolsonaro.

Por tudo isso, a manifestação do próximo sábado, 24 de julho, é fundamental para recuperar protagonismo das ruas, aumentar a pressão pela queda de Bolsonaro e enfrentar as manobras da burguesia. A saída para o povo brasileiro não é esperar 2022 e os mesmos arranjos e conchavos de sempre com a direita e com a burguesia. Todos às ruas! Fora, Bolsonaro e seu governo genocida e corrupto!

Construir uma alternativa independente e anticapitalista com o PSOL

As principais polêmicas do VII Congresso dizem respeito à orientação do PSOL e, em particular, sobre como o PSOL deve se posicionar diante do lulismo. Esta polêmica tem implicações tanto na disputa mais geral, inclusive no terreno eleitoral, quanto na tática para o movimento de massas. A tese “PSOL Popular” e a corrente Resistência sustentam uma posição que transforma a tática da frente única numa estratégia permanente, subordinando o capital político acumulado pelo PSOL nas últimas décadas ao lulismo.

Isso leva a importantes equívocos. Um deles foi verificado no movimento social, quando tais forças apoiaram a convocação, para mais de um mês depois, da próxima manifestação contra Bolsonaro, apesar de seu desgaste crescente. A própria realidade – marcada pelas novas denúncias de corrupção na compra de vacinas – e a pressão das bases fizeram com que as “frentes” organizassem uma reunião de emergência, retificando a convocatória para 3 de julho. Seguimos insistindo para que seja construído um plano unitário e coerente de lutas, para transformar as atuais manifestações de sábado em atos com maior influência de massas, sobretudo em dias de semana, questionando a “normalidade” das cidades. E a direção lulista, que tem grandes responsabilidades, adota postura dúbia e não coloca toda a sua força e estrutura sindical a serviço da mobilização.

Defendemos a frente única. Ela é uma necessidade e as manifestações são fruto dessa unidade. Assim foram as principais manifestações dos últimos anos contra o governo: a marcha “Ele Não”, o “tsunami da educação” em 2019, a luta antifascista e antirracista em 2020. No entanto, não confundimos a unidade com o apoio a algumas direções.

A indisposição de afirmar uma alternativa e a submissão à estratégia de Lula apagam o PSOL da conjuntura política. A pré-candidatura do companheiro Glauber Braga foi lançada justamente para evitar um retrocesso em nosso partido. O PSOL precisa apresentar seu programa, oferecer um diagnóstico da crise ao povo brasileiro e se propor a ser uma ferramenta de organização e luta.

No atual cenário, segundo as pesquisas, Lula irá ao segundo turno com folga contra Bolsonaro. O PT já busca construir alianças pela direita, com oligarquias regionais como Renan Calheiros em Alagoas e os Barbalho no Pará, e com partidos e setores burgueses como o PSD de Kassab e a empresária Luiza Trajano. A importância da pré-candidatura de Glauber Braga é garantir que as bandeiras do PSOL e da esquerda socialista existam e se apresentem na disputa nacional.

Na segunda etapa do congresso do PSOL – lamentavelmente restrita apenas ao voto em urna dos filiados –, vamos seguir dando a batalha por essa política. Sabemos que grande parte da militância do PSOL, que constrói o partido no dia-a-dia, tem acordo com as duas tarefas postas: derrotar Bolsonaro o quanto antes e apresentar uma alternativa independente e anticapitalista ao povo brasileiro.


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Pedro Micussi