Pelo direito de lutar pela terra: Justiça para Claudemir da FNL
Arquivo pessoal de Claudemir Novais.

Pelo direito de lutar pela terra: Justiça para Claudemir da FNL

Claudemir Novais, um dos coordenadores da Frente Nacional Luta Campo e Cidade, também é alvo de muitas condenações ilegais, mesmo já tendo sido preso injustamente há dez anos atrás. Ainda assim, o número de ocupações vitoriosas que se tornaram assentamentos e a consciência tranquila são maiores em sua trajetória.

Nathália Bittencurt 20 set 2021, 13:17

Em 1972, no sul da Bahia, nasceu Claudemir Novais. Na infância difícil, trabalhou desde os oito anos e compartilhou a vida com outros sete irmãos, na pequena cidade de Ibicuí. Os pais adotivos trabalhavam no comércio e construíram em casa as primeiras lembranças do mundo da política que Claudemir carregaria. Seu pai participava do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, e sua mãe, do Partido Democrático Social.

Aos 13 anos, as discussões sobre democracia e eleições diretas para o país chamaram a atenção de Claudemir. Recorda de em 1985 participar de atos políticos onde encontrava os conhecidos da juventude católica e dos bancários sindicalizados. Logo já estava à frente do Grêmio Estudantil Edson Luís. Assim foi amadurecendo a ideia de se organizar dentro de um partido, tal qual os pais mostraram que havia sentido, e então começou a contribuir para a construção do Partido dos Trabalhadores em Ibicuí, onde cresceu.

Em 1993 foi à Prado, cidade baiana, para conhecer um acampamento que ficava dentro da fazenda Rosa do Prado desde 1989, cheio de famílias com a esperança de tornar o território um assentamento definitivo. A visita foi suficiente para Claudemir ser conquistado pela urgência genuína e potência da luta pela terra. Ali, decidiu que a construção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, faria parte do seu cotidiano. As primeiras atividades foram com a tarefa de vender fotografias de autoria de Sebastião Salgado, para garantir a verba necessária para construir uma grande escola de referência nacional para as famílias assentadas.

Do nordeste, convocado para São Paulo

Não demorou para Claudemir receber o convite – ou convocação, como gosta de dizer – para ajudar a desenvolver a luta social pelo direito à terra e ao trabalho digno no sudeste, e prontamente aceitou. Na capital de São Paulo, trabalhou na secretaria do MST assim que chegou, na virada de 1997 para 1998. Foi a partir da tarefa de fortalecer as articulações administrativas e políticas da luta no campo, sempre em contato direto com Zé Rainha, que anos depois pôde participar da escolha do local para fundação da sonhada escola nacional Florestan Fernandes.

O companheirismo e a afinidade política com Zé Rainha foi aumentando na medida em que já não havia o mesmo espaço para organizar novas ocupações e mobilizações para destravar a Reforma Agrária, principalmente a partir de 2006. As duas lideranças, conhecidas por pertencer ao “MST da base”, eram responsáveis por dezenas de ocupações na região do Pontal do Paranapanema naquela época. Assim estabeleceram diálogo com outras regiões que já se organizavam de maneira autônoma também, começando por ocupações na região de Brasília.


Quando os dois decidiram deixar a organização partidária, nem por um momento pensaram sobre seguir ou não a luta pelo direito à terra. Zé Rainha seguiu resistindo à perseguição política e Claudemir também, só que desde então em Araçatuba. Em janeiro de 2009 chegou à ocupação Chico Mendes, montada em 2004. Em poucas semanas de mobilização e enfrentamento à burocracia, inclusive dentro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), conquistou junto às famílias a regularização do assentamento Chico Mendes.

Arquivo pessoal de Claudemir Novais

Operação Perseguição aos Lutadores do Campo

Os homens e mulheres do “MST da base” continuaram intensificando as ocupações nos anos seguintes. Em 2011, já somavam cerca de 80 acampamentos em São Paulo, sendo 22 apenas na região de Araçatuba. Zé Rainha e Claudemir foram surpreendidos então com os mandados de prisão da Polícia Federal, desdobramento da Operação Desfalques. Depois de terem seu sigilo telefônico quebrado sem razão, num processo com diversas ilegalidades (saiba mais sobre os argumentos da defesa das lideranças da FNL aqui), foram presos com outras seis pessoas, por nove meses. Neste período, Claudemir e Zé Rainha resistiram 75 dias em isolamento completo, sem acesso à luz do sol. Com o passar dos dias, conseguiram se comunicar discretamente, cada um em uma cela.

Desde então, em liberdade e sobretudo em estado permanente de resistência, Claudemir e Zé Rainha, junto a outras lideranças nacionais da FNL, seguem ousando tentar provar sua inocência para a Justiça. Em outubro, estarão na marcha que o movimento realizará em São Paulo, lutando pela reforma agrária brasileira.

Claudemir Novais, hoje historiador formado na PUC, com três filhos e uma companheira alagoana, continua morando em Araçatuba. Sabe bem que a condenação de 4 anos e 10 meses de prisão que o acompanha é consequência da luta social pelo direito à terra, ao trabalho, à moradia e à liberdade. Claudemir sabe também que o número de assentamentos fundados, o número de famílias que através da luta conquistaram seu próprio sustento, e o tanto de terras sem função social que ainda existem, não são apenas números maiores, mas motivos maiores para continuar marchando.

Arquivo pessoal de Claudemir Novais




TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 19 nov 2024

Prisão para Braga Netto e Bolsonaro! É urgente responder às provocações golpistas

As recentes revelações e prisões de bolsonaristas exigem uma reação unificada imediata contra o golpismo
Prisão para Braga Netto e Bolsonaro! É urgente responder às provocações golpistas
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi