Tinha como sair deste círculo vicioso
8ª parte da série “Operários e Burocratas”.
A dominação burocrática era um círculo vicioso. Para manter seu poder, a burocracia só podia assistir como os fundamentos econômicos de sua dominação estavam cada vez mais minados. A burocracia não conseguiu lidar com a arritmia dos processos de trabalho. Ela foi então incapaz de superar o controle, negativo e atomizado, inerente desses processos de trabalho pelos operários, que assim limitaram a quantidade e a qualidade do superproduto que lhes estava extorquido.
Este controle era “a fonte de inúmeras disfunções e distorções que afetavam a produção e distribuição: escassez de suprimentos e peças, panes frequentes de equipamentos, lotes de produção incompletos, entregas de máquinas inacabadas, produção de bens e serviços defeituosos e de qualidade inferior” [196], e assim contribuiu para a reprodução constante da arritmia dos processos de trabalho – ao “taylorismo arrítmico”.
Poderíamos ter pensado que o progresso técnico e as exigências técnicas imporiam de si mesmos um caráter cada vez mais cooperativo aos processos de trabalho e os socializariam gradualmente, que o controle negativo atomizado seria gradualmente abolido e que as condições surgiriam espontaneamente para uma luta por um controle coletivo, agora positivo, dos trabalhadores sobre a produção. Nada confirma tal tendência.
A experiência histórica indica o oposto. O controle negativo atomizado só poderia ser substituído pela resistência coletiva à exploração e, sobretudo, pelas lutas de greve, quando a taxa de exploração aumentava acentuadamente, ou seja, quando os salários reais caíram, seja por causa do aumento dos padrões trabalhistas, cortes salariais ou aumentos de preços. O acúmulo de experiências de greves de massa na memória coletiva poderia levar a greves com ocupação de empresas. Estes, por sua vez, poderiam levar a uma auto-organização e coordenação em escala entre empresas e – depois de difundidos em muitos centros industriais – impor o direito de ter sindicatos independentes e o direito à greve, bem como levar à construção de um sindicato único e geral de trabalhadores.
Isto não só poderia acontecer, mas aconteceu na Polônia em 1980. E quando isso aconteceu, foram criadas condições favoráveis para uma transição do controle negativo dos trabalhadores individuais ou pequenos grupos de trabalhadores sobre seus próprios processos de trabalho para uma luta pelo controle coletivo dos trabalhadores sobre os processos produtivos, bem como sobre todos os processos econômicos, sociais e políticos. Isto tem sido chamado de luta pela autogestão dos trabalhadores. Do começo ao fim, a lógica e a dinâmica desta luta levavam ao derrube do poder da burocracia e ao estabelecimento de um verdadeiro poder operário.
Este texto constitui a maior parte do p livro de Michał Siermiński, Pęknięta “Solidarność”. Inteligencja opozycyjna a robotnicy 1964-1981 (Solidarność rachado. A inteligência de oposição e os trabalhadores), Książka i Prasa, Warszawa 2020. Tradução de Alain Geffrouais para a Revista Movimento da versão francesa publicada pela Inprecor e estabelecida por Jan Malevsky.
[196] D. Filtzer, « Labor Discipline, the Use of Work Time », p. 12.