Os novos elementos do cenário eleitoral de 2022 e a necessidade de uma alternativa
Defendemos que o PSOL tenha cara própria no 1º turno, com uma campanha vigorosa contra a inflação, a pobreza, a miséria e a destruição dos serviços públicos.
Nesta semana, avançaram algumas definições do cenário eleitoral de 2022, ainda marcado, no entanto, por muitas incertezas. A começar, a pandemia da Covid-19 volta a trazer preocupações no mundo, com o forte aumento de casos na Europa e a espera por maiores informações sobre a nova variante Ômicron. Com a chegada do final do ano e após o esvaziamento dos atos pelo “Fora, Bolsonaro”, aumenta o debate sobre as saídas políticas, incluindo as primeiras movimentações mais sólidas no terreno eleitoral.
Bolsonaro, que alcança recordes de impopularidade, celebrou sua filiação ao PL. As prévias tucanas, marcadas pelo fracionamento interno, indicaram João Doria Jr. como candidato à presidência. Geraldo Alckmim, de saída do PSDB, afirma que a hipótese de ser vice de Lula “caminha”. Enquanto isso, o ativismo e os setores anticapitalistas buscam construir uma alternativa e um debate programático para a terrível crise que se abate sobre a classe trabalhadora e as massas populares.
É um equívoco, no entanto, apenas debater o cenário de outubro de 2022. Novos dados sobre o desempenho da economia, do emprego e da renda das famílias trabalhadoras confirmam o que se vê nas ruas de todo o país – a urgência política das pautas econômicas e sociais. Não se podem descartar explosões sociais pontuais e lutas exemplares contra a carestia, a miséria e o desemprego. O debate político será pautado pela grave piora nas condições de vida do povo.
Enquanto a miséria toma o país, Bolsonaro alinha-se ao centrão, Moro ganha espaço entre a burguesia e Doria vence prévias tucanas com sabor amargo
Nos últimos dias, foram revelados novos dados do terrível panorama social e econômico brasileiro. O IBGE apontou retração de 0,4% do PIB no segundo trimestre e de 0,1% no terceiro trimestre. Também no terceiro trimestre, o IBGE apontou queda de 4% na renda dos trabalhadores, que alcançou a pior marca desde 2012. Enquanto os economistas burgueses não entram em acordo se há recessão ou estagnação, o povo sente na pele os efeitos da crise. As projeções de inflação já superam os 10% para 2021 e cenário ainda pior para 2022. Abundam reportagens sobre a fome e a miséria disseminadas nas grandes cidades brasileiras. Crianças que não fazem três refeições diárias e desmaiam em sala de aula; trabalhadores desfalecidos em filas de hospitais e postos de saúde buscando comida; multidões perambulando em busca de ossos e restos de alimentos: eis o Brasil da canalha bolsonarista.
Ao mesmo tempo, as frações burguesas que se uniram ao bolsonarismo em 2018 buscam seu espaço para 2022. Com popularidade cadente, Bolsonaro finalmente filiou-se ao PL, partido marcado pelo histórico de corrupção, dirigido pelo notório Valdemar Costa Neto. Numa estratégia distracionista, o presidente e seus filhos apelam a um discurso de cariz evangélico e apostam na aprovação do calote dos precatórios para pagar o “auxílio Brasil” em busca de recuperar algum apoio entre os mais pobres. Ao mesmo tempo, Bolsonaro consolida sua relação com a escória parlamentar mantida pelas escandalosas emendas secretas “do relator” e obteve uma vitória com a aprovação de André Mendonça para o STF. Os jornais já até discutem a divisão do butim entre os partidos da base governista: de início, um novo mandato na presidência da Câmara para Arthur Lira, o retorno do PL a seu velho feudo nos transportes e os gordos valores do fundo eleitoral…
Já Sergio Moro retornou de sua temporada nos Estados Unidos, onde recebia remuneração milionária como “sócio” da consultoria que administra a massa falida da Odebrecht. Agora, tenta aparecer como “terceira via” e busca diferenciar-se do governo que ajudou a eleger e com o qual colaborou em suas pautas mais nefastas, como a tentativa de aprovar um “excludente de ilicitude” para policiais matarem mais pobres. Para isso, conta com o apoio generoso de importantes frações burguesas e da mídia comercial para reciclar um bolsonarismo sem Bolsonaro: inventou um guru neoliberal para prometer o velho rosário de privatizações e “reformas”; e, enquanto agita o espantalho do combate à corrupção, filia-se ao Podemos da família Abreu, especializada há décadas na incubação e gerenciamento de legendas de aluguel, além de negociar o apoio do “União Brasil”, que reúne PSL e DEM.
A reaparição de Moro ocupou os holofotes que outro oportunista desejava. João Doria Jr. com esforço tenta separar-se do “Bolsodoria” de 2018 e da impopularidade de seu governo de ataques ao povo, que lhe custam apoio em São Paulo e no Brasil, apesar do esforço de introdução da vacina Coronavac. Mesmo vencendo as prévias tucanas, Doria sai com gosto amargo e com um partido cindido, exposto por sua incompetência para realizar uma simples votação entre filiados e pela disputa sanguínea com Eduardo Leite, transmitida ao vivo por uma imprensa que pensava prestar um serviço aos tucanos dando-lhes visibilidade. Do ponto de vista programático, nada de novo. Doria, Moro e Bolsonaro oferecem a continuidade da destruição nacional e da miséria popular. Terminadas as prévias, naturalmente, o candidato tucano foi a Nova York com seu colaborador Henrique Meirelles pedir a benção a seus amos.
Lula e Alckmin?
A vitória de Doria nas prévias do PSDB consolida a saída de Geraldo Alckmim do partido. Anteriormente cotado para mais uma candidatura ao governo de São Paulo, ganha força a hipótese de uma candidatura a vice-presidente de Lula. O que antes era um boato agora já aparece nas trocas de elogios e nas negociações entre PT e PSB, provável destino do ex-governador paulista caso se decida pela candidatura à vice-presidência.
Em reunião na última segunda-feira (29/11) com setores da burocracia sindical, Alckmin afirmou que a “hipótese federal” caminha. Lula elogiou sua “responsabilidade” nas décadas em que o tucano permaneceu como governador. De fato, Alckmin foi o responsável pela repressão às manifestações de junho de 2013, pelas privatizações, pelos presídios, pelos pedágios, pelo fechamento de escolas, pelas obras suspeitas de corrupção, pela perseguição aos movimentos sociais e até por ser o padrinho político de personagens nefastos como Ricardo Salles e o próprio João Doria Jr. Na realidade, se consolidada, uma chapa Lula e Alckmin só seria uma surpresa para quem passou os últimos 20 anos em Marte e retornou ao Brasil sonhando com uma “frente de esquerda com programa anticapitalista” conduzida por Lula e pela burocracia petista. No portal da Revista Movimento, nossos companheiros Estevan Campos e Leandro Fontes trazem mais elementos para essa discussão.
A luta da esquerda anticapitalista e a necessidade de uma alternativa e de um programa
Conforme ficam mais nítidos os contornos da disputa eleitoral de 2022, é evidente a necessidade de uma saída popular e anticapitalista para a classe trabalhadora e o povo brasileiro nas lutas e nas eleições. Numa eleição em dois turnos, não podemos abdicar de apresentar nosso programa e uma ferramenta de luta para a grave crise brasileira. O quadro atual indica que Lula está consolidado no segundo turno e deve fazer alianças com setores da burguesia, do mesmo modo como fizera anteriormente com José Alencar e Michel Temer.
Por isso, para materializar esse programa, defendemos que o PSOL tenha cara própria no 1º turno, com uma campanha vigorosa contra a inflação, a pobreza, a miséria e a destruição dos serviços públicos, chamando à mobilização pela recuperação dos salários, pela revogação das “reformas” trabalhista, previdenciária e do “teto” de gastos, pela taxação das grandes fortunas e por outras medidas fundamentais para o povo brasileiro, como expressa o manifesto da pré-candidatura de Glauber Braga, já defendida por 44% dos delegados do último Congresso do PSOL. Para construir essa alternativa, debatemos com nossos camaradas do PSOL e de todo o ativismo do país.