Esquerda radical portuguesa mingua frente aos moderados
Esquerda radical portuguesa mingua frente aos moderados.
O Partido Socialista, tradicional representante da centro-esquerda conseguiu a maioria absoluta, deixando para trás os seus aliados mais radicais, dos quais já não precisa para dar sustentabilidade ao seu governo. O Bloco de Esquerda perdeu 19 assentos, contando agora apenas 5 e o Partido Comunista, perdeu 6, ficando com 6.
Desde 2015, a esquerda radical lusa aceita ser parceira minoritária de uma aliança com os “moderados”. A aliança, informalmente conhecida como “Geringonça”, resultou em um governo dócil aos interesses dos bancos e marcado por confrontos com os movimentos sindicais, chegando a utilizar o estado de emergência decretado em função da pandemia de covid para proibir greves. O resultado vemos hoje: a esquerda radical minguou progressivamente e perdeu a relevância parlamentar. Ao que parece, quem está feliz com as políticas recuadas do PS continua votando no PS, já quem se ressente delas abandonou. Se Portugal andava na contramão do ascenso da extrema direita na Europa, já não se pode dizer o mesmo. O partido neofascista Chega cresceu sensivelmente neste período e acaba de tomar do BE o posto de terceira maior força política do país.
O Exemplo Britânico
Outra nação que viveu uma espécie de “união das esquerdas” nos últimos anos foi o Reino Unido. Lá, a estratégia foi distinta. Sob a liderança de Jeremy Corbyn, a esquerda radical disputou o Partido Trabalhista por dentro e ganhou, tomando, assim, a dianteira do maior partido (até então) de centro-esquerda do país.
Com um programa radical, baseado na forte taxação aos ricos e ampliação dos direitos sociais, os Trabalhistas aumentaram exponencialmente suas filiações, transformando-se no maior partido da Europa Ocidental. Em 2017, ganharam 30 novas cadeiras no Parlamento, destruindo a maioria detida pelos Conservadores. E tudo isso mesmo sob intensa campanha difamatória promovida pela midia burguesa.
Diante disso, a ala moderada agiu em aberta iniciativa de sabotagem interna, atrapalhando intencionalmente a campanha eleitoral, ocultando à direção dados sobre intenções de voto e fazendo intensa propaganda midiática contra a direção. Após a derrota nas eleições de 2019, a esquerda radical inglesa está hoje aniquilada, os moderados retomaram o controle do Partido. Os Trabalhistas minguaram e embora tenham recentemente começado a melhorar os péssimos resultados que vinham apresentando nas pesquisas de intenção de voto, seu líder se mostra reticente quanto à política social que pretende adotar. São bem mais inequívocos, no entanto, em sua perseguição à esquerda. Quatro correntes consideradas radicais foram expulsas do Partido no ano passado e o próprio Jeremy Corbyn está suspenso.
Lições para o Brasil
Há anos que a direção nacional do PSOL ensaia uma aproximação com o PT. Olhemos bem o resultado dessas uniões em outros países antes de decidirmos o futuro do nosso partido.