75 anos de Honestino Guimarães: um exemplo para novas gerações
A revolução no posto de comando da vida.
Um jovem goiano, oriundo da pequena burguesia, leitor avido, apaixonado por futebol e fanático pelo Vasco (clube do coração), se indignou profundamente com a instauração da usurpadora ditadura militar e com o estado de coisas no Brasil. Por conta dessa indignação e por possuir uma consciência crítica mesmo muito jovem, Honestino Guimarães resolveu se organizar e iniciar sua militância no movimento estudantil. De tal forma, devido suas características, Honestino se tornou um líder autêntico da juventude: carismático, de bom humor, agregador e, ao mesmo tempo, firme em suas convicções e, acima de tudo, combativo.
Honestino nasceu em 28 de março de 1947 e, em 1960, se mudou com a família para Brasília onde estudou no Centro de Ensino Médio (Elefante Branco), no Ciem e, finalmente, na Universidade de Brasília, onde passou em 1º lugar no vestibular para o curso de Geologia e lá se revelou como um líder nato. Mesmo tendo atuado no movimento secundarista, é a partir da UnB, que Honestino Guimarães iria se materializar definitivamente em um militante revolucionário, 100% dedicado à derrubada do regime autoritário e à causa socialista.
Mas, não é tudo. Honestino foi um construtor em todos os momentos, um militante que atuava na base da universidade, na captação e na formação política com textos de Marx e Lênin em células clandestinas. Essa atuação e sua liderança política o conduziu à presidência da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília (FEUB) e, em 1971, no congresso realizado na Baixada Fluminense, foi eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Honestino tinha convicção que a militância estudantil não era o suficiente para a derrota da ditadura e a construção de uma nova sociedade. Por isso, resolveu se filiar à Ação Popular (AP), uma organização clandestina proveniente da Juventude Universitária Católica. A AP foi fundada em 1962, adere ao socialismo como horizonte no ano seguinte e com o golpe de 64, a AP aprofunda os debates teóricos e sua ligação com o marxismo. Entretanto, essa corrente, assim como tantos outros grupos da esquerda, com a brutal repressão desencadeada pela ditadura e as inerentes polêmicas balizada pela questão “por quais caminhos a esquerda deveria seguir nos anos de chumbo”, acabou se dividindo em duas alas nos anos 70. Uma parte aderiu ao PCdoB – partido que a coluna anterior (22/02/2022) abordou criticamente O nome do partido | Revista Movimento (movimentorevista.com.br) – (que também teve suas divisões, vide a formação do PCR e da Ala Vermelha) e a outra se empenhou na construção do Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT), organização que deixou de existir com o ingresso de seus principais dirigentes e quadros políticos para o PT em 1980 (partido de tendências que reuniu reformistas e revolucionários até a traição da reforma da previdência em 2003). Todavia, Honestino Guimarães teve a Ação Popular (AP) como sua única organização política até seu desaparecimento aos 26 anos de idade, no dia 10 de outubro de 1973 no Rio de Janeiro.
O legado de Honestino não se mede somente pela sua atuação política singular e seu sacrifício em nome de uma causa. Mas, igualmente, por uma moral inabalável, que foi posta à prova em anos de perseguição, detenção, prisão, clandestinidade e tortura realizada pelos órgãos da repressão. No entanto, é importante registrar, que nenhum membro da organização clandestina e da UNE caiu como consequência da prisão de Honestino, fato que indica que ele pagou com a vida a segurança de seus camaradas. Um gesto de envergadura moral extraordinária que reforça a legitimidade do nome de Honestino Guimarães no patamar de grandes revolucionárias e revolucionários brasileiros.
Honrar a memória de Honestino, portanto, nos 75 anos de seu nascimento, é dar continuidade ao combate sem tréguas as ideias e as representações autoritárias e fascistas, se jogar de modo decidido na luta política, tendo como método a militância diária, convicta da construção e da mobilização como caminho, enlaçada pelos princípios, pela moral e pela estratégia do marxismo revolucionário. Dizem que um povo precisa de “heróis”, certamente que as necessidades imediatas e históricas não se resolvem por méritos de um sujeito só, por outro lado, exemplos como o de Honestino podem arrastar multidões e dinamizar a consciência de setores mais avançados da vanguarda radical que busca outro futuro. Por isso, nunca é demais lembrar da trajetória política de Honestino Guimarães, mais do que um símbolo da luta contra a ditadura, um exemplo para novas gerações.