Não haverá paisagem após a batalha
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Não haverá paisagem após a batalha

O EZLN se pronuncia sobre a invasão do exército russo à Ucrânia.

4 mar 2022, 16:45

(Sobre a invasão do exército russo a Ucrânia).

2 de março de 2022.

Àqueles que assinaram a Declaração pela Vida:

Para a sexta nacional e internacional:

Camaradas, irmãs e irmãos:

Pronunciamos nossas palavras e pensamentos sobre o que está acontecendo atualmente na geografia que chamam Europa:

PRIMEIRO: Existe uma força agressora, o exército russo. Há interesses do grande capital em jogo, de ambos os lados. Aqueles que sofrem agora por causa dos delirios de uns e dos tacanhos cálculos econômicos de outros são os povos da Rússia e da Ucrânia (e, talvez em breve, os de outras geografias próximas ou distantes). Como Zapatistas, que somos, não apoiamosnem um nem outro Estado, senão aqueles que lutam pela vida contra o sistema.

Quando da invasão multinacional do Iraque (há quase 19 anos), com o exército americano à frente, houve mobilizações em todo o mundo contra essa guerra. Ninguém em seu perfeito juízo pensava que se opor à invasão era estar ao lado de Saddam Hussein. Agora é uma situação semelhante, embora não a mesma. Nem Zelenski nem Putin. Pare a guerra.

SEGUNDO: Diferentes governos tomaram o partido de um lado ou do outro, fazendo-o a partir de cálculos econômicos. Não há uma avaliação humanista. Para esses governos e seus “ideólogos” há boas e más intervenções – invasões – destruições. As boas são aqueles realizados por seus apoiadores, e os maus são aqueles perpetrados por seus oponentes. Os aplausos ao argumento criminoso de Putin para justificar a invasão militar da Ucrânia se transformarão em lamentação quando, com as mesmas palavras, ele justificar a invasão de outros povos cujos processos não são do agrado do grande capital.

Eles invadirão outras geografias para salvá-los da “tirania neonazista” ou para pôr um fim aos “narcoestados” vizinhos. Eles repetirão então as mesmas palavras de Putin: “desnazificaremos” (ou seu equivalente) e abundarão em “raciocínio” de “perigo para seus povos”. E então, como nos dizem nossos camaradas na Rússia: “bombas russas, foguetes, balas voam em direção aos ucranianos e não lhes perguntam sobre suas opiniões políticas e o idioma que falam”, porém, mudara a “nacionalidade” de umas e dos outros.

TERCEIRO: Os grandes capitais e seus governos do “Ocidente” se sentaram para contemplar – e inclusive para alentar – a situação que ia se deteriorando. Então, uma vez que a invasão estava em andamento, eles esperaram para ver se a Ucrânia resistiria, e fazendo contas do que se poderia ganhar de um ou outro resultado. À medida que a Ucrânia resiste, eles começam a estender faturas da “ajuda” que serão cobradas mais tarde. Putin não é o único surpreendido com a resistência da Ucrânia.

Os vencedores nesta guerra são os grandes consórcios de armas e os grandes capitais que vêem a oportunidade de conquistar, destruir/reconstruir territórios, ou seja, criar novos mercados para mercadorias e consumidores, de pessoas.

QUARTA: Em vez de nos voltarmos para o que a mídia e as redes sociais dos respectivos lados disseminam – e que ambos apresentam como “notícias” – ou para as “análises” na súbita proliferação de especialistas geopolíticos e adimiradores do Pacto de Varsóvia ou da OTAN, decidimos procurar e perguntar àqueles que, como nós, estão engajados na luta pela vida na Ucrânia e na Rússia.

Após várias tentativas, a Comissão Sexta Zapatista conseguiu fazer contato com nossos parentes em resistência e rebeldia nas geografias que eles chamam de Rússia e Ucrânia.

QUINTO: Em resumo, estes nossos parentes, que também levantam a bandeira da @ (globalização) libertaria, permanecem firmes: na resistência aqueles que estão no Donbass, na Ucrânia; e em rebeldia os que caminham e trabalham nas ruas e campos da Rússia. Há pessoas presas e feridas na Rússia por protestar contra a guerra. Há aqueles que foram mortos na Ucrânia pelo exército russo.

Eles estão unidos uns com os outros, e conosco, não apenas em dizer NÃO à guerra, mas também em repúdio a “alinhar-se” com os governos que oprimem seu povo.

Em meio a confusão e caos de ambos os lados, eles se mantêm firmes em suas convicções: sua luta pela liberdade, seu repúdio às fronteiras e seus estados-nação, e as respectivas opressões que só mudam as bandeiras.

Nosso dever é apoiá-los a medida das nossas possíbilidades. Uma palavra, uma imagem, uma melodia, uma dança, um punho levantado, um abraço – mesmo de geografias distantes – são também um apoio que encorajará seus corações.

Resistir é persistir e prevalecer. Apoiemos estes parentes em sua resistência, ou seja, em sua luta pela vida. Devemos isso a eles e devemos isso a nós mesmos.

SEXTA: Portanto, apelamos à Sexta nacionais e internacionais que ainda não o fizeram, de acordo com seus calendários, geografias e caminhos, para se manifestarem contra a guerra e em apoio aos ucranianos e ucranianas e russos e russas que estão lutando em suas geografias por um mundo com liberdade

Também pedimos apoio financeiro para a resistência na Ucrânia nas contas que nos serão indicadas em seu devido tempo.

Por sua vez, a Comissão Sexta da EZLN está fazendo o mesmo, enviando uma pequena ajuda para aqueles que na Rússia e na Ucrânia estão lutando contra a guerra. Também foram iniciados contatos com nossos parentes na SLUMIL K’AJXEMK’OP para criar um fundo econômico comum para apoiar aqueles que resistem na Ucrânia.

Sem ambiguidades, nós gritamos e chamamos a gritar e exigir: Fora o Exercito Russo da Ucrânia.

-*-

Parar a guerra já. Se isto continuar e, como é de se esperar, aumentar, então, talvez não haja ninguém para cuidar da paisagem após a batalha.

Das montanhas do sudeste mexicano.

Subcomandante Insurgente Moisés.

SupGaleano.

Comissão Sexta do EZLN

Março de 2022.


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Pedro Micussi