A conferência do PSOL não resolverá a polêmica mais grave que existe no partido
Sobre a conferência nacional eleitoral do PSOL.
O PSOL realizará neste sábado, dia 30, sua conferência nacional eleitoral. Trata-se de um fórum com um déficit democrático significativo, porque não será conformado com delegados eleitos pela base para esse fim, nem submetidos ao debate prévio dos temas em pauta. A conferência se resume ao Diretório Nacional reunido. Então, trata-se de um diretório nacional com poder de conferência, não uma autêntica conferência democrática como propusemos. Sendo assim, o resultado será completamente previsível.
Há dois debates importantes em curso. O primeiro é se o partido terá candidatura própria ou apoiará o nome de Lula. O resultado não terá surpresas: pela primeira vez em sua história, o PSOL abrirá mão de ter um nome na disputa e apoiará Lula. Essa decisão fará com que o PSOL não tenha um poderoso instrumento para expressar sua política, mas é visto por amplas camadas de ativistas e setores de massas como um desprendimento do partido em prol da unidade para derrotar Bolsonaro. Apesar de que a candidatura própria no primeiro turno pudesse cumprir um papel mais eficiente neste sentido, contribuindo com o espaço do PSOL para um ataque frontal à extrema direita, com o compromisso prévio de apoio a Lula no segundo turno, o apoio ao líder petista já no primeiro turno dialoga com uma necessidade nacional, a saber, livrar o país do governo Bolsonaro. Neste sentido, a decisão da conferência não provocará nenhuma mudança na natureza do PSOL capaz de ameaçar o partido. O partido pode até crescer. O voto em Lula é praticamente um consenso no PSOL; a discussão central tem sido se seria um chamado ao voto desde o primeiro turno ou no segundo. E uma mais significativa, se o partido semeia ilusões no programa de Lula ou defende um voto essencialmente pela negação de Bolsonaro.
Este debate se impôs porque um setor da direção do partido tem defendido essa participação, e o próximo congresso do partido está marcado apenas para o final de 2023, decorrendo um ano do próximo governo. É uma novidade na vida interna do PSOL que exista um setor da direção aderindo à ideia de integrar o governo federal, embora já esteja evidente que o governo terá a mesma natureza social liberal dos mandatos presidenciais petistas, que levou à fundação do PSOL e sua constituição como uma oposição de esquerda. 2023 não será como 2003 em muitas questões fundamentais, mas, neste ponto essencial, Lula já deixou claro que será uma continuidade, e se em 2003 ele assinou a Carta ao Povo Brasileiro como senha deste projeto, agora escolheu Alckmin de vice para simbolizar a manutenção deste compromisso com a ordem capitalista.
Nesta discussão, durante meses ficou no ar a tensão sobre qual seria a posição dos diversos setores do campo que compõe o PSOL de todas as lutas, a coalizão de tendências e os agrupamentos que detêm hoje a maioria das cadeiras da Direção Nacional do PSOL. Pois a resolução apresentada por este campo mostrou o caminho que escolheram. Depois de uma série de considerações em linhas gerais corretas, mas suficientemente abstratas para permitir várias políticas, o último ponto da resolução é o que realmente conta: decidir a política e a participação ou não no eventual governo Lula apenas depois das eleições. Com esta decisão, um ponto fundamental para o futuro do PSOL foi postergado. Os setores que querem entrar no governo no interior do PSOL de todas as Lutas ganharam tempo e, neste caso, o tempo é espaço. Querem seguir negociando as condições desta participação e, com tais condições, obter um discurso que forme uma base capaz de apoiar um curso oportunista que possa, inclusive, mais tarde, dispensar o apoio interno do PSOL semente, justamente o setor no PSOL de todas as lutas mais refratário a uma opção de integração do PSOL no executivo nacional do aparelho estatal burguês.
Assim, o desafio de manter a independência do PSOL segue na ordem do dia. E parte dele será decidido na campanha eleitoral e na composição das bancadas que sairão desta eleição, no PSOL e na própria Rede, da qual o PSOL agora é federado e onde também a decisão de ser ou não parte do governo será o principal divisor de águas. No PSOL, esse divisor será público e definitivo.
Seu desenlace, como sempre nas definições acerca da evolução dos partidos e de suas tendências, dependerá da luta de classes.