Os números e as polêmicas da Conferência Eleitoral do PSOL/RJ
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Os números e as polêmicas da Conferência Eleitoral do PSOL/RJ

Análise sobre a Conferência Eleitoral do PSOL Rio de Janeiro.

Leandro Fontes 24 maio 2022, 18:14

O resultado da Conferência Eleitoral do PSOL/RJ não é uma novidade para os olhares atentos da política carioca e fluminense. Ora, a maioria da direção partidária, composta por setores do “PSOL de Todas as Lutas” já fazia um movimento consciente de adaptação na chapa ao governo do Estado encabeçada por Freixo, que hoje está no PSB, partido de Molon, que luta contra Ceciliano pela vaga no senado na coligação “das esquerdas” do Rio de Janeiro.  

Todavia, é preciso que a vanguarda do partido se debruce sobre os movimentos internos, os dissídios e os números na correlação de forças para entender e se orientar para os próximos embates. Digo isto, porque a resultante da Conferência, no ínfimo universo de 35 membros do Diretório Estadual, não pode ocultar para o conjunto da militância as posições expostas no processo e o embaraçoso “abandono ao relento” de pré-candidaturas viáveis, por parte de seus proponentes, na disputa política que se avizinha.

Os números revelam que o PSOL/RJ está dividido e que o campo majoritário conserva diferenças robustas entre si. Não é à toa que a corrente Resistência, que compõe o bloco “Semente” e o campo “PSOL de Todas as Lutas”, deslocou sua posição e se uniu à “Oposição de Esquerda” na defesa da candidatura própria do partido ao governo e ao senado. No entanto, o grupo dos Independentes, uma espécie “coadjuvante” de composição heterogênea que pouco aparece na luta interna, resolveu dar um cavalo de pau de ré e assumiu (a partir de sua maioria) a defesa aberta da candidatura de Molon ao senado e, paralelamente, retiraram o apoio ao nome de Milton Temer (correligionário da tese dos Independentes no congresso do partido) ao governo.

De tal maneira, no tema do governo, a polarização se estabeleceu na defesa de resoluções. Assim, no universo de 35 votantes, 20 decidiram pelo apoio à candidatura Freixo no primeiro turno e a candidatura própria obteve 15 votos. Se qualificarmos os números iremos observar que os “aliancistas”, isto é: Revolução Solidária (5 votos); Insurgência (5 votos); e Subverta (5 votos); Primavera Socialista (2 votos) reuniam entre si 17 votos do universo de 35. Já os defensores da candidatura própria: MES (7 votos); Resistência (4 votos); APS (1 voto); Comuna (1 voto) e Fortalecer (1 voto) somavam 14 votos. O fiel da balança, portanto, foram os Independentes, também proponentes (ao lado da “Oposição de Esquerda”) do nome de Milton Temer para a candidatura ao governo. Porém, dos 4 votos desse grupo, somente 1 (do companheiro Leo Lince) manteve a posição. Lamentavelmente, 3 votos migraram para a posição de aliança com Freixo. Ou seja, se toda bancada dos Independentes votasse em seu próprio companheiro de tese, o resultado seria 18 a 17 em prol da candidatura própria do PSOL.  

Fenômeno similar ocorreu no debate do senado. Nesse caso os Independentes nunca esconderam que o partido, segundo sua posição, deveria assumir o apoio ao Molon. Orientação que ganhou adesão da Revolução Solidária, Primavera Socialista e Subverta. Já no bloco “Semente”, Insurgência e Resistência, proponentes da pré-candidatura de Luciana Boiteux, divergiram na resolução que pudesse amortecer as diferenças no campo majoritário. Acontece que a Insurgência ensaiou uma resolução “centrista” que afirmasse a pré-candidatura da Boiteux e na linha seguinte, mantinha a posição de diálogo com a pré-candidatura Molon. Ou seja, um tipo de “geringonça” para ganhar tempo. Contudo, é de se estranhar tal posição, uma vez que a Insurgência (5 votos) era proponente de Boiteux e se somarmos com Resistência (4 votos), mais a “Oposição de Esquerda” (10 votos), Luciana Boiteux estaria nesse momento sendo divulgada como candidata oficial do partido por 19 a 16. Porém, paradoxalmente, a Insurgência compôs uma resolução de apoio ao Molon tendo como “ressalva” (num parágrafo), que Boiteux se mantinha como um tipo de “banco de reserva” caso Molon desistisse da disputa. Quer dizer, a bola da candidatura própria ao senado estava nos pés da Insurgência. Mas, por pressões que não conhecemos, esta organização, resolveu girar a posição e eliminar a hipótese de um nome feminista e psolista na composição da chapa “das esquerdas”.

Da parte do MES, mesmo com diferenças políticas com Boiteux (abertamente defensora das posições do campo majoritário do partido), entendemos que esta pré-candidatura, animada pelo setorial de mulheres, poderia convergir a necessidade do PSOL unitariamente se apresentar, com tempo de TV e rádio, defendendo um programa oposto ao bolsononarismo, anti-sistema, feminista (numa disputa apenas nomes masculinos) e o legado de Marielle. Por essa soma, mesmo com as diferenças internas, votamos no nome que concentrava melhores condições na disputa interna.  No entanto, os pares de Boiteux, que defendem a mesma posição que ela sobre Lula e Freixo, não entenderam da mesma forma. Ou, quem sabe, Boiteux não entendeu a posição dos seus pares.

A verdade é que há uma pressão eleitoral no PSOL, a partir de uma leitura que é “bom” para o partido que Freixo e Molon não estejam concorrendo na raia de deputado federal para que 600 mil votos fiquem “órfãos” e sejam conquistados por candidaturas psolistas. Essa análise conduz a uma política eleitoralista, exclusiva para eleição de parlamentares, que não leva em conta a perda de protagonismo do PSOL, não por acaso, o maior partido de toda a esquerda no Rio de Janeiro. Portanto, o eleitoralismo parlamentar da maioria do PSOL/RJ conduziu a uma posição de capitulação a Freixo e a Molon, que sob o argumento de “unidade para combater ao fascismo” bloqueou a candidatura própria ao governo e ao senado, sem apresentar dados concretos do risco de Cláudio Castro (apoiado por parte do PT) vencer primeiro no turno e/ou Molon, no quadro turvo que se encontra, bater Ceciliano na disputa de “compadres” arbitrada por Lula para, em seguida, vencer Romário, que por sinal foi eleito senador pelo PSB. Assim sendo, não resta dúvidas que as candidaturas próprias foram rifadas para atender cálculos de candidaturas proporcionais dirigidas pelos setores que levaram o partido para uma adesão silenciosa ao PSB. 

Outro elemento preocupante é a janela aberta que possibilita a participação do PSOL em um eventual governo de conciliação de classes de Marcelo Freixo com Armínio Fraga e cia. Por essa razão, o MES propôs que a Conferência Eleitoral votasse uma resolução que impedisse essa possibilidade. Porém, o campo “PSOL de Todas as Lutas” (com abstenção da corrente Resistência) em aliança com os Independentes, formaram maioria para bloquear essa resolução, ao nosso entender crucial para o partido. De nossa parte, seguiremos empenhados na defesa que o PSOL mantenha sua independência política e de classe, que não abra mão do seu programa e não se dilua em governos aliados a burguesia e gestores dos negócios capitalistas. 

Finalmente, aproveito para destacar que não negamos a importância da disputa eleitoral e a necessidade do PSOL eleger parlamentares, principalmente os ligados ao marxismo revolucionário. Além disso, a eleição foi o terreno que restou para derrotar Bolsonaro e não iremos hesitar nesse campo de batalha, como não hesitamos nas mobilizações de rua e no parlamento. Todavia, a construção do partido e de um programa anti-sistema estadual não está dissociada dessa tarefa histórica. Pelo contrário, o bolsonarismo seguirá vivo após a derrota de Bolsonaro nas urnas e não está descartada a hipótese dessa corrente neofascista seguir ganhando força no período seguinte. Portanto, ter um partido forte, não apenas eleitoral. Mas, sobretudo, que organize a vanguarda, influencie setores de massa e mantenha-se firme na defesa de um programa anticapitalista e na luta ideológica em curso no Brasil, é decisivo. Para tanto, esse partido precisa aparecer entre os protagonistas para pleitear algo sério na disputa política imediata e na história. Portanto, deixar o PSOL/RJ, o maior partido da oposição, entre os coadjuvantes do processo eleitoral é um erro grave que será, mais cedo ou mais tarde, cobrado.  


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Pedro Micussi