Marcelo Arruda, assassinado pelo bolsonarismo
Somente traçando uma linha e afirmando com milhões nas ruas um basta ao golpismo e à escalada da violência será possível vencer Bolsonaro.
O dirigente petista e líder sindical Marcelo Arruda foi assassinado covardemente no sábado (9), em Foz do Iguaçu (PR), pelo bolsonarista José Guaranho. Arruda, membro da executiva municipal do PT e candidato a vice-prefeito pelo partido em 2020, foi baleado e morto quando festejava com familiares e amigos 50 anos de idade. O assassino bolsonarista Guaranho é policial penal e, segundo relatos dos presentes, chegou ao local gritando: “aqui é Bolsonaro”. Após discussão, afirmou que voltaria ao salão de festas para “matar todos os petistas”, o que de fato fez. Após entrar atirando em Marcelo Arruda, guarda municipal, foi por este baleado. O bolsonarista assassino está internado no hospital da cidade com prisão preventiva decretada. As cenas foram registradas, mostrando a troca de tiros e a ação do fascista.
O impacto foi imediato. Em meio à comoção nacional, Bolsonaro inicialmente se recusou a prestar solidariedade à família da vítima e publicou nas redes sociais que a violência “está do lado da esquerda”. Ontem (12), numa demonstração final de escárnio, o deputado da base do governo Otoni de Paula reuniu-se com irmãos bolsonarista de Arruda que, segundo a viúva, não estavam na festa, para intermediar uma ligação telefônica de Bolsonaro e propor que fossem a uma entrevista coletiva para “impedir que a imprensa de esquerda acuse o presidente”. O assassinato ocorreu em meio a uma escalada da violência política a menos de noventa dias da eleição. O vice Mourão foi além e afirmou que se tratava de uma briga entre pessoas embriagadas, “comum aos finais de semana no Brasil”. Trata-se de uma declaração acanalhada típica do personagem, muito semelhante à que deu após o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips no Amazonas semanas atrás.
Registramos aqui nossa total solidariedade aos militantes do PT, aos amigos, colegas de sindicato e familiares de Marcelo Arruda. Mais do que isso, queremos lutar para barrar o fascismo e suas ações nas urnas e no terreno fundamental: as ruas.
Sinais inquietantes
Não foram poucos os sinais que demonstram um crescimento da sanha violenta de Bolsonaro e de seus apoiadores. O recrudescimento da violência política marca o país, com mortes que chocaram o mundo, como as já mencionadas de Bruno e Dom, ou a brutalidade dos crimes de ódio cometidos diariamente contra as mulheres. A violência que irrompe diretamente no embate eleitoral pode ser notada em acontecimentos recentes: é possível citar as bombas com esterco lançadas por um drone contra a multidão que assistia a um comício de Lula em Uberlândia; o mal explicado atentado a tiros contra a redação da Folha de São Paulo, na região central de São Paulo; o cerco que bolsonaristas fizeram ao carro do juiz Renato Borelli, que tinha mandado prender Milton Ribeiro por corrupção; e, finalmente, a bomba caseira que explodiu ao lado do palco do comício de Lula na Cinelândia, novamente com fezes. Todos esses fatos ocorreram em apenas 15 dias.
O salto de qualidade foi o assassinato em Foz do Iguaçu. Foi a primeira morte política diretamente ligada à campanha eleitoral que, informalmente, já começou. A agitação que Bolsonaro faz, relacionando o porte de armas com a luta contra a esquerda e contra a fantasia de ameaças de fraude na eleição, é um sinal para que seus apoiadores possam “avançar”. Há um grave problema político que atravessa toda a campanha e deve ser encarado pelo conjunto da esquerda e por todos os que defendem as liberdades democráticas.
A natureza política do crime e a necessidade de barrar o fascismo
Ao contrário das tergiversações de Mourão e dos canalhas que apoiam Bolsonaro, o assassinato de Marcelo Arruda foi um ato de violência política tipicamente fascista. Bolsonaro e os fascistas brasileiros têm como estratégia destruir o movimento dos trabalhadores e toda a esquerda, atentar contra as instituições da democracia burguesa e impor um golpe autoritário. Enquanto não têm condições objetivas para impor sua agenda, fazem “aproximações sucessivas”, ameaçando STF e deixando setores mais radicalizados praticarem atos de terrorismo de direita, causando a vida de ativistas como Marcelo.
De forma lamentável, alguns setores da oposição colocaram uma posição de “simetria” entre o assassino bolsonarista e Marcelo, que agiu em legítima defesa, afirmando que eram apenas “dois pais de família”. Por trás desse tipo de postura está uma incompreensão do que é a luta contra o fascismo e como pode e deve ser feita. Independentemente do alvo, se um partido reformista, um sindicato ou um juiz das causas democráticas e liberais, a luta contra o fascismo e seus métodos deve ser feita sem tréguas. Esse tipo de discurso que iguala algoz e vítima assassinado está claramente vinculado a um comportamento oportunista e eleitoreiro, que pode acabar estimulando novas ações do mesmo caráter, um misto de covardia e realização da disposição fascista de liquidar as organizações do movimento operário e democráticas.
Por isso, nosso esforço deve estar totalmente direcionado à derrota do fascismo nas urnas e nas ruas. Por um lado, é necessário intensificar a campanha pela derrota de Bolsonaro, denunciando a destruição nacional promovida por seu governo, a pobreza crescente das massas trabalhadoras e populares, e o aparelhamento de instituições militares, policiais e de órgãos de controle por elementos fascistas implantados pelo bolsonarismo. A eleição de 2022 tem uma importância decisiva para impedir a consecução do plano bolsonarista de destruir as instituições democráticas e as organizações populares.
Por outro lado, é fundamental alertar para a necessidade da mobilização popular desde já. É preciso mostrar ao bolsonarismo que seus ataques e provocações, como as que diariamente faz contra o próprio processo eleitoral, terão uma resposta do povo. Somente traçando uma linha e afirmando com milhões nas ruas um basta ao golpismo e à escalada da violência será possível viabilizar a vitória eleitoral contra Bolsonaro e mesmo a posse de Lula. Não há mais tempo a perder.