No Kansas, a voz das mulheres é a mais alta
Em um dos Estados mais conservadores dos Estados Unidos, as leis que regulam o aborto legal já sofriam tentativas de modificação há pelo menos 7 anos.
Foi só há dois meses que a Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou Roe vs Wade, decisão de quase meio século que permitia o direito ao aborto legal e seguro em território norte-americano. O baque da derrota não paralisou, mas sim mobilizou: a primeira votação estadual para regularizar a situação, um dos Estados mais conservadores dos Estados Unidos foi obrigado a atestar o óbvio: sim, a população deseja que o aborto seguro continue sendo um direito legal de todas as mulheres.
Começou na última terça-feira (02/08), no Kansas. Em um dos Estados mais conservadores dos Estados Unidos, as leis que regulam o aborto legal já sofriam tentativas de modificação há pelo menos 7 anos. É uma região que votou majoritariamente por Donald Trump, e a decisão sobre o futuro das mulheres foi decidida no voto popular. As expectativas não eram boas. Mas, com a faísca acesa pela decisão da Suprema Corte, mais uma vez volta às mulheres ocupar o papel de costume: não se deixar ser reduzida às cinzas.
A primeira pista de que um resultado favorável às mulheres poderia ser alcançado no Kansas aconteceu com o número de pessoas cadastradas para votar: maior que a média normal do Estado para eleições presidenciais. A disputa, um teste para as próximas votações que estão por vir, não estava perdida.
Organizações de mulheres de todos os Estados Unidos se concentraram em diversas cidades do Kansas, não só explicando o conteúdo do referendo, mas também incentivando a participação de todas as pessoas. Trump ganhou no Estado por 15 pontos. Participação popular não significava uma vitória automática. Mas colocou mais lenha na fogueira da luta.
Quando os resultados da votação chegaram, comemoração. Ainda que a contagem final não tenha liberado os resultados, as projeções de mais de 60% de votos pelo NÃO a mudança da lei já é uma confirmação. Hoje, o Estado do Kansas permite que mulheres com até 22 semanas de gestação tenham direito ao aborto seguro.
Mas a batalha está apenas começando: em novembro, a California e Vermont também terão suas votações. E, em 8 de novembro, também acontecem as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos.
Para entender as eleições de meio de mandato, precisamos considerar como o Partido Democrata não assumiu a liderança e lutou para proteger o aborto. Um exemplo claro disto é a eleição primária democrata do Congresso do Texas entre Jessica Cisneros, uma progressista pró-aborto, e Henry Cuellar, um candidato antiaborto. Mesmo depois que a Suprema Corte revogou Roe V. Wade, o establishment democrata decidiu apoiar Henry Cuellar como seu candidato. Este é apenas um exemplo de um padrão maior do Partido Democrata que optou por não intervir para proteger a classe trabalhadora. Esta hipocrisia do Partido Democrata é uma rendição egoísta da vida da classe trabalhadora e das liberdades civis às forças de direita.
Sem que o Partido Democrata assuma mais liderança e lute por mudanças materiais para a classe trabalhadora neste momento de crise, é provável que o eleitorado caia na propaganda da direita. O maior desafio que a esquerda e a classe trabalhadora enfrentam é a ascensão das forças de direita assumindo o governo federal. Com uma maioria de direita em ambas as câmaras do Congresso e um candidato de direita potencialmente substituindo Biden nas eleições presidenciais de 2024, estamos enfrentando o risco de uma proibição nacional de abortos e a revogação dos direitos civis básicos.
O que é necessário para proteger o aborto e os direitos civis nos Estados Unidos? Um movimento democrático e de massa em prol do aborto e dos direitos civis. Tem havido uma seca de atividades de movimentos sociais democráticos e de massa nas últimas décadas nos EUA, mas os americanos estão se tornando cada vez mais interessados em tomar medidas políticas. 39% dos americanos estão sentindo a necessidade de organizar ou se juntar a uma manifestação pública.
Os Socialistas Democráticos da América (DSA) estão liderando uma campanha de Aborto Protegido que está aberta a todos os que são pró-aborto, independentemente de ser socialista ou não. Eles estão trabalhando com candidatos eleitorais para falar com os vizinhos de porta em porta sobre o aborto. Eles também estão organizando protestos contra indivíduos e organizações que estão visando o aborto, como a Sociedade Federalista.
No final, nosso objetivo final é construir um movimento para reestruturar a Constituição dos Estados Unidos de modo que os direitos econômicos e civis sejam garantidos a todas as pessoas nos Estados Unidos. Temos um longo caminho pela frente e a resposta da DSA está nos estágios iniciais. Com tanto em jogo, não temos outra escolha senão nos organizar e lutar.