‘Capitólio à brasileira’: enfrentar os fascistas, sem trégua nem anistia
Além da resposta imediata, é preciso ir além e tomar atitudes para desbaratar os agentes golpistas, colocá-los atrás das grades e começar a cortar o mal pela raiz
As ações do dia 8 de janeiro de 2023 imitam os da horda de neofascistas estadunidenses, dois anos mais tarde, quase que como o mesmo roteiro. A invasão de milhares de bolsonaristas às instalações do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto, transmitidas ao vivo em rede nacional de TV, são da máxima gravidade. Coroam um itinerário golpista, que sob a alegação da fraude nas urnas, promoveu desordem, violência e vandalismo.
Tivemos episódios de violência em Brasília, ainda em dezembro, quando a diplomação de Lula, seguido da prisão de bolsonaristas com explosivos, frustrando um plano de suposto atentado; os acampamentos em frentes aos quartéis seguiram – no DF, não foi reprimido; e tal qual foi anunciado, o ato culminante foi o “assalto” aos Três Poderes, que após três horas, foi revertida, resultando em cerca de 300 presos em flagrante. A turba deixou um rastro de destruição, avariando obras de arte, acabando com as salas e recintos, uma ação típica de Lumpens, como definiu Marx, setores à margem, desclassados que podem servir como “carne de canhão” para as elites reacionárias.
Ficou nítida a leniência por parte do governo do Distrito Federal, não apenas pela nomeação do golpista Anderson Torres à frente da Segurança, mas pelo conjunto da obra. O governo Ibaneis Rocha (MDB) teve um papel de omissão na repressão da marcha “alucinada” dos bolsonaristas, que foi anunciada aos quatro ventos, com uma centena de ônibus chegando à Brasília.
Corretamente, ao tomar controle da situação, Lula tomou medidas como a intervenção federal no DF, falou em rede nacional denunciando os golpistas, chamando os de “fascistas fanáticos”, e responsabilizando Bolsonaro, a quem se referiu como “genocida”, pelos incidentes. A posição de Lula veio no momento certo, uma vez que Flávio Dino, ministro da Justiça, demorou para tomar medidas, mesmo sabendo que se anunciava “a céu aberto” a ação dos golpistas. Além disso, ficou patente a inércia de José Múcio a frente do Ministério da Defesa, que durante a semana chamou de “legítimas” as concentrações em frente aos QG’s, afirmando que tinha parentes e amigos dentro dos acampamentos – o que é inadmissível para combater a extrema direita.
A necessidade de um discurso mais duro, como o de Lula, expressa que não há como se equacionar a luta contra os golpistas cedendo terreno a eles e a seus apoiadores, dentro e fora das Forças Armadas. Mucio adotou uma linha de conciliação com os radicais bolsonaristas. Essa linha fracassou por completo. E na medida em que o próprio ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, afirma que é provável que tenha havido cooperação entre os responsáveis pela segurança do Planalto e do Congresso, a permanência de Múcio no posto torna-se insustentável.
Aliás, as Forças Armadas também se debilitaram perante aos olhos do povo, mostrando-se incapazes de defender os interesses do país. Isso só nos coloca mais a necessidade de fazer política sobre as baixas e médias patentes das diferentes forças de segurança no país. Moraes teve mais altivez e acertou em afastar por 90 dias o governador Ibaneis Rocha.
A comunidade internacional foi uníssona em condenar o bolsonarismo e os golpistas. Os principais países do mundo, incluindo governantes de direita, comunicaram publicamente seu repúdio aos golpistas. As diferentes entidades e associações da sociedade civil prontamente saíram manifestar a condenação com o ocorrido.
A necessidade de sair às ruas foi respondida com uma convocatória para essa segunda, dia 9 de janeiro, em todas as capitais do país. Precisamos engrossar as fileiras desses atos, ampliando e convencendo para tomarmos as ruas, num pronunciamento popular de rechaço às atitudes golpistas, da defesa do resultado das urnas e da legitimidade do governo Lula.
Isso se dá contando com a força das ruas, com a organização popular, com a necessidade de massificar os atos e preparar a sua organização, com seus métodos, autodefesa e com espaços democráticos para mobilizar e convocar o calendário de lutas e ações. As ações de rua devem ter o caráter democrático e amplo, como uma unidade de ação com todos os setores democráticos.
E isso abre um novo capítulo na luta contra o bolsonarismo, no âmbito do movimento de massas, no qual precisamos disputar entre os que votaram em Bolsonaro.
Além da resposta imediata, é preciso ir além e tomar atitudes para desbaratar os agentes golpistas, colocá-los atrás das grades e começar a cortar o mal pela raiz, aproveitando o enorme repúdio em todas as camadas da sociedade brasileira e mesmo na comunidade internacional. Isso significa aprofundar a quebra do sigilo dos envolvidos, a prisão dos financiadores e demais envolvidos.
As medidas devem ser tomadas imediatamente. Prender os líderes bolsonaristas, cassar os parlamentares que colaboraram, além de avançar as investigações sobre figuras como Carla Zambelli e Allan dos Santos, além dos responsáveis locais pelas caravanas, que já começaram a ser identificados.
Nos somamos ao pedido da deputada Alejandra Ocasio-Cortez para extraditar Bolsonaro. Esse seria o primeiro passo para sua prisão, tarefa fundamental que o PSOL já pediu na semana passada. Prender Bolsonaro é um passo necessário, como eixo de agitação. Temos ainda defendido uma CPI, no DF e na Câmara Federal, para ampliar as investigações, combinada com o impeachment definitivo de Ibaneis.
Seguimos convocando a solidariedade internacional e organizando as disputas nas ruas, com nossos parlamentares, evocando a luta antifascista. Hoje, levaremos às manifestações de rua a bandeira de que não haverá perdão para os genocidas e golpistas. Sem anistia e com o máximo de mobilização democrática.