‘Capitólio à brasileira’: enfrentar os fascistas, sem trégua nem anistia
invasao2

‘Capitólio à brasileira’: enfrentar os fascistas, sem trégua nem anistia

Além da resposta imediata, é preciso ir além e tomar atitudes para desbaratar os agentes golpistas, colocá-los atrás das grades e começar a cortar o mal pela raiz

Israel Dutra e Roberto Robaina 9 jan 2023, 11:25

As ações do dia 8 de janeiro de 2023 imitam os da horda de neofascistas estadunidenses, dois anos mais tarde, quase que como o mesmo roteiro. A invasão de milhares de bolsonaristas às instalações do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto, transmitidas ao vivo em rede nacional de TV, são da máxima gravidade. Coroam um itinerário golpista, que sob a alegação da fraude nas urnas, promoveu desordem, violência e vandalismo.

Tivemos episódios de violência em Brasília, ainda em dezembro, quando a diplomação de Lula, seguido da prisão de bolsonaristas com explosivos, frustrando um plano de suposto atentado; os acampamentos em frentes aos quartéis seguiram – no DF, não foi reprimido; e tal qual foi anunciado, o ato culminante foi o “assalto” aos Três Poderes, que após três horas, foi revertida, resultando em cerca de 300 presos em flagrante. A turba deixou um rastro de destruição, avariando obras de arte, acabando com as salas e recintos, uma ação típica de Lumpens, como definiu Marx, setores à margem, desclassados que podem servir como “carne de canhão” para as elites reacionárias.

Ficou nítida a leniência por parte do governo do Distrito Federal, não apenas pela nomeação do golpista Anderson Torres à frente da Segurança, mas pelo conjunto da obra. O governo Ibaneis Rocha (MDB) teve um papel de omissão na repressão da marcha “alucinada” dos bolsonaristas, que foi anunciada aos quatro ventos, com uma centena de ônibus chegando à Brasília.

Corretamente, ao tomar controle da situação, Lula tomou medidas como a intervenção federal no DF, falou em rede nacional denunciando os golpistas, chamando os de “fascistas fanáticos”, e responsabilizando Bolsonaro, a quem se referiu como “genocida”, pelos incidentes. A posição de Lula veio no momento certo, uma vez que Flávio Dino, ministro da Justiça, demorou para tomar medidas, mesmo sabendo que se anunciava “a céu aberto” a ação dos golpistas. Além disso, ficou patente a inércia de José Múcio a frente do Ministério da Defesa, que durante a semana chamou de “legítimas” as concentrações em frente aos QG’s, afirmando que tinha parentes e amigos dentro dos acampamentos – o que é inadmissível para combater a extrema direita. 

A necessidade de um discurso mais duro, como o de Lula, expressa que não há como se equacionar a luta contra os golpistas cedendo terreno a eles e a seus apoiadores, dentro e fora das Forças Armadas. Mucio adotou uma linha de conciliação com os radicais bolsonaristas. Essa linha fracassou por completo. E na medida em que o próprio ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, afirma que é provável que tenha havido cooperação entre os responsáveis pela segurança do Planalto e do Congresso, a permanência de Múcio no posto torna-se insustentável.

Aliás, as Forças Armadas também se debilitaram perante aos olhos do povo, mostrando-se incapazes de defender os interesses do país. Isso só nos coloca mais a necessidade de fazer política sobre as baixas e médias patentes das diferentes forças de segurança no país. Moraes teve mais altivez e acertou em afastar por 90 dias o governador Ibaneis Rocha.

A comunidade internacional foi uníssona em condenar o bolsonarismo e os golpistas. Os principais países do mundo, incluindo governantes de direita, comunicaram publicamente seu repúdio aos golpistas. As diferentes entidades e associações da sociedade civil prontamente saíram manifestar a condenação com o ocorrido.

A necessidade de sair às ruas foi respondida com uma convocatória para essa segunda, dia 9 de janeiro, em todas as capitais do país. Precisamos engrossar as fileiras desses atos, ampliando e convencendo para tomarmos as ruas, num pronunciamento popular de rechaço às atitudes golpistas, da defesa do resultado das urnas e da legitimidade do governo Lula.

Isso se dá contando com a força das ruas, com a organização popular, com a necessidade de massificar os atos e preparar a sua organização, com seus métodos, autodefesa e com espaços democráticos para mobilizar e convocar o calendário de lutas e ações. As ações de rua devem ter o caráter democrático e amplo, como uma unidade de ação com todos os setores democráticos.

E isso abre um novo capítulo na luta contra o bolsonarismo, no âmbito do movimento de massas, no qual precisamos disputar entre os que votaram em Bolsonaro.

Além da resposta imediata, é preciso ir além e tomar atitudes para desbaratar os agentes golpistas, colocá-los atrás das grades e começar a cortar o mal pela raiz, aproveitando o enorme repúdio em todas as camadas da sociedade brasileira e mesmo na comunidade internacional. Isso significa aprofundar a quebra do sigilo dos envolvidos, a prisão dos financiadores e demais envolvidos.

As medidas devem ser tomadas imediatamente. Prender os líderes bolsonaristas, cassar os parlamentares que colaboraram, além de avançar as investigações sobre figuras como Carla Zambelli e Allan dos Santos, além dos responsáveis locais pelas caravanas, que já começaram a ser identificados.

Nos somamos ao pedido da deputada Alejandra Ocasio-Cortez para extraditar Bolsonaro. Esse seria o primeiro passo para sua prisão, tarefa fundamental que o PSOL já pediu na semana passada. Prender Bolsonaro é um passo necessário, como eixo de agitação. Temos ainda defendido uma CPI, no DF e na Câmara Federal, para ampliar as investigações, combinada com o impeachment definitivo de Ibaneis.

Seguimos convocando a solidariedade internacional e organizando as disputas nas ruas, com nossos parlamentares, evocando a luta antifascista. Hoje, levaremos às manifestações de rua a bandeira de que não haverá perdão para os genocidas e golpistas. Sem anistia e com o máximo de mobilização democrática.


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra | 21 dez 2024

Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro

A luta pela prisão de Bolsonaro está na ordem do dia em um movimento que pode se ampliar
Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi