Justiça vai apurar genocídio yanomami em Roraima
Ministério da Saúde identificou casos de malária e desnutrição grave em território na fronteira com a Venezuela
O Ministério da Justiça abrirá inquérito para “apurar o crime de genocídio” na área indígena Yanomani, em Roraima, a fronteira com a Venezuela. Os mais de 26 mil habitantes da região estão sendo afetados por doenças infectocontagiosas relacionadas à prática de garimpo ilegal, como a malária – além de registrar casos como desnutrição grave, infecções respiratórias e doenças diarreicas.
Falta cobertura básica em saúde. Há desorganização, falta de medicamentos, invasões e desassistência. A situação no território é tão caótica que o Ministério da Saúde estima que 570 crianças yanomami tenham morrido nos últimos quatro anos. Só no ano passado, mais de 11 mil contraíram malária. Na sexta-feira (20), a pasta decretou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional neste território indígena.
“O genocídio do povo Yanomami é mais um crime contra a humanidade promovido pelo governo Bolsonaro. Indígenas foram exterminados para atender aos interesses de garimpeiros, madeireiros e do agro”, denuncia a deputada federal Vivi Reis (PSOL-PA).
Conforme o colunista Jamil Chade, do UOL, o governo de Jair Bolsonaro mentiu para organizações internacionais, entre elas a ONU, sobre os cuidados com os povos amazônicos. Cartas descreveriam atendimentos em saúde e a implementação de programas de distribuição de alimentos para essa população, que jamais foram postos em prática.
Socorro
Nesta segunda-feira (23), uma equipe de 13 profissionais da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) chegará a Boa Vista, capital de Roraima. Eles vão operar um hospital de campanha para atender aos doentes. Outra equipe, de oito pessoas, será deslocada de Manaus para a região de Surucucu (que também faz parte do território). Além disso, o Hospital de Campanha da Aeronáutica, localizado no Rio de Janeiro, será transferido para Boa Vista até 27 de janeiro.
“No caso da saúde, nós definimos que essa situação é uma emergência sanitária de importância nacional semelhante a uma epidemia. É isso que precisa ficar claro. A Saúde está determinada a resolver as emergências. Mas a sociedade tem que estar consciente do que está acontecendo aqui”, disse a ministra Nísia Trindade Lima.
Causas
Conforme Vivi, é urgente a tomada de medidas que impeçam o garimpo ilegal – causa primeira da tragédia indígena. Os principais impactos imediatos na saúde da população são a maior incidência de doenças infectocontagiosas – e o uso de medicamentos contrabandeados que até minimizam os sintomas de doenças como malária, mas não eliminam o parasita do organismo. Assim, acabam por carregar o patógeno para regiões onde o mosquito transmissor habita.
Outro fator contribuinte é o uso de mercúrio para a exploração de minérios. Altamente tóxico, o composto contamina a água e os alimentos, podendo provocar diversos prejuízos à saúde, como doenças neurológicas em recém-nascidos. Por fim, o garimpo causa insegurança nas áreas indígenas, pela presença de garimpeiros armados, que provoca o abandono de postos de atendimento em saúde.
Para Vivi Reis, a divulgação da condição de vida desumana dos indígenas no Amazonas é reflexo da “ política anti-indígena, racista e antiambientalista do governo Jair Bolsonaro”.
“É uma política diametralmente oposta aos valores e a missão institucional que a Constituição Federal e os tratados Internacionais de Direitos Humanos propugnam”, diz.