Os curiosos gastos do Jair
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Os curiosos gastos do Jair

Dos R$ 27,6 milhões gastos em cartões corporativos em quatro anos, há pagamento de R$ 1,4 milhão para um único hotel – o equivalente a 1.553 diárias

Tatiana Py Dutra 12 jan 2023, 15:26

Em quatro anos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) gastou R$ 27,6 milhões nos cartões corporativos (além dele, alguns membros da equipe possuíam cartões). O dado foi divulgado nesta quinta-feira (12) pela agência de dados Fiquem Sabendo, com base na Lei de Acesso à Informação. As despesas no período não foram mais altas do que as de seus antecessores, mas a forma como algumas compras foram feitas parecem tão suspeitas que geraram reações nas redes sociais e entre a classe política.

A maior parte dos recursos foi gasto com hospedagem. De 2019 a 2022, Bolsonaro pagou R$ 13,7 milhões com hotéis – sendo que só o Ferraretto Hotel, localizado no Guarujá (SP) recebeu R$ 1,4 milhão. Com alimentação, os gastos totalizaram R$ 10,2 milhões – sendo que R$ 408 mil foram gastos em peixarias, R$ 581 mil em padarias e R$ 8,6 mil em sorveterias.

Mas nessa categoria, se destacam mesmo os R$ 109 mil gastos em um único estabelecimento em um  mesmo dia, 26 de outubro de 2021. É a maior despesa única com alimentação registrada durante o mandato. O valor não foi pago a nenhum restaurante estrelado, mas ao modesto Sabor de Casa, estabelecimento localizado no centro de Boa Vista, em Roraima. 

Conforme o jornal Folha de S.Paulo, o carro-chefe da casa são as marmitas, vendidas a R$ 17 (versão econômica), R$ 23 (tradicional) e o ostensivo prato com frango assado, farofa e baião de dois (R$ 50, para três pessoas. Os R$ 109 mil pagos pela presidência comprariam 6,4 mil marmitas econômicas, 4,7 mil das tradicionais, ou 2,1 mil quentinhas com frango, farofa e baião.

“No mínimo estranho, não acham?”, perguntou a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), nas redes sociais.

O dia de Bolsonaro em Roraima

Bolsonaro e equipe chegaram a Boa Vista por volta das 9h40min do dia 26 de outubro de 2021. Ao fim do dia, estavam todos em Brasília. Roberta Rizzo, dona do Sabor da Casa, confirmou à Folha ter recebido encomenda para almoço do staff presidencial e lanche para os seguranças. Segundo ela, “era um kit bem completo, com pão, queijo, presunto, fruta, água e biscoito”. Ao todo, foram 659 marmitas de almoço e quase 3 mil kits de lanche ao custo de R$ 30, cada.

“Tudo o que foi comprado foi discriminado na nota. Se você me perguntar se havia 659 pessoas para comerem as marmitas ou 3 mil para comerem os kits, eu não posso responder. Entreguei a encomenda às 5h da manhã no quartel e fui trabalhar”, afirmou. 

Ok. Talvez tenha havido distribuição de marmitas grátis em Roraima: segundo a agenda presidencial, Bolsonaro visitaria um abrigo para imigrantes venezuelanos naquele dia, e ele prefere fazer  bonitos gestos com dinheiro público. Mas o que justificaria o gasto milionário em um único hotel?

“Bolsonaro gastou R$ 1,46 milhão com um único estabelecimento: Ferraretto Hotel. Montante com o qual seria possível se hospedar durante 1.553 dias pagando o valor da diária máxima (R$ 940). 4 anos de mandato tem 1460 dias. Mamata ou corrupção?“, questiona a deputada federal Fernanda Melchionna.

Mesmos valores

Também são curiosas as compras em valores redondos e iguais em um mesmo estabelecimento. Em uma lanchonete da capital paulista, o cartão corporativo foi passado pelo menos 10 vezes para compras de exatos R$ 9 mil cada. Ao todo, os gastos no modesto local passaram de R$ 626 mil. 

Uma das filiais da padaria Santa Marta, no Rio de Janeiro, recebeu 20 pagamentos ao longo do mandato do ex-presidente, com consumos entre R$ 880 e R$ 55 mil. Ao todo, o estabelecimento recebeu R$ 362 mil do cartão corporativo – sendo que um dos gastos mais altos (R$ 33 mil) foi registrado às vésperas de uma motociata realizada em maio de 2021.  

O uso dos cartões corporativos pelo governo federal é regulamentado pelo Decreto nº 5.355/2005. Ele deve ser utilizado para “pagamento das despesas realizadas com compra de material e prestação de serviços, nos estritos termos da legislação vigente”, e devem seguir “os mesmos princípios que regem a Administração Pública – legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, bem como o princípio da isonomia e da aquisição mais vantajosa”.


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