Comando MIlitar do Planalto impediu tentativas de dissolução de acampamento no DF
Afirmação foi confirmada por ex-secretário de Segurança Pública na CPI dos Atos Antidemocráticos
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Júlio de Souza Danilo reconheceu que não podia combater crimes no acampamento bolsonarista em Brasília. Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos atos antidemocráticos, na quinta-feira (23) as tentativas de desmobilização foram diluídas pelo Comando Militar do Planalto, na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“O general Dutra disse que não poderíamos desmontar o acampamento. Era uma área do Exército. Portanto, precisava haver essa cooperação e o Governo do Distrito Federal não poderia agir no local”, disse o ex-secretário, substituído no cargo pelo ex-ministro Anderson Torres, no dia 1º de janeiro.
Integrante da CPI, o deputado distrital do PSOL Fábio Felix afirma que autoridades participaram do planejamento dos atos antidemocráticos.
“A linha do tempo hoje nos mostra que houve uma longa preparação desse grupo extremista, golpista, para efetivar atos extremos e tentativa de golpe de Estado nesse país. Essa CPI tem obrigação de investigar prevaricação por parte de autoridades públicas. Houve omissão, incitação e planejamento intelectual de altas autoridades da República”, diz..
Sobre uma suposta leniência das forças de segurança nos atentados de 12 de dezembro, dia da diplomação do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, Souza Danilo disse que “a primeira missão era restituir a ordem pública” e que houve um atraso na atuação dos policiais porque não se tinha informações sobre o risco dos atos.
“No dia seguinte, por determinação minha, foi realizada reunião na SSP, com Polícia Civil, Polícia Federal e Polícia Militar para traçar um plano de responsabilização dos envolvidos”, contou, acrescentando que houve prisões nos dias seguintes.
Futuros convocados
Os deputados membros da CPI aprovaram requerimento para convidar o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto, para prestar depoimento sobre os atos. Os parlamentares também aprovaram convite para oitiva do atual ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) Marco Edson Gonçalves Dias, conhecido como general G. Dias.
“Um núcleo que precisa ser investigado pelas denúncias que são feitas pela imprensa é o instalado no GSI, que é o núcleo militar. Temos várias autoridades distritais e da República que sempre apontam para o papel de militares das Forças Armadas. Há uma integração. temos vários militares que têm ligação direta com membros da Polícia Militar do DF. Isso não quer dizer automaticamente que existe uma rede conspiratória solidificada dentro da PM, mas precisam ser apurado o envolvimento das forças de segurança do DF com esses núcleos, que junto com uma ala do governo Bolsonaro que vinham construindo uma alternativa à posse do Lula que é, basicamente, um golpe de Estado”, disse Felix.
A CPI também gostaria de ouvir o ex-secretário Anderson Torres, preso por suspeita de conivência ou omissão com os atos golpistas. Porém, por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o bolsonarista poderia escolher se compareceria ou não ao depoimento. Caso fosse, poderia, também, ficar em silêncio. Torres decidiu não ir.