Jovem negro preso injustamente no Rio Grande do Sul
Comissão de Direitos Humanos cobra autoridades pela inocência de Yuri Rodrigues
Foto: Celso Bender
O jovem Yuri Rodrigues, de 22 anos, estava trabalhando na noite de 9 de julho de 2021 na padaria Barcelona, no bairro Bom Fim – região central de Porto Alegre -, quando uma residência foi assaltada na Zona Sul. Mesmo com o livro-ponto comprovando sua presença no local de trabalho, com o depoimento do chefe e de colegas, ele está sendo acusado de participar do crime e chegou a ser preso no início de 2023. O caso foi levado à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia gaúcha pela deputada Luciana Genro (PSOL).
Yuri é um jovem negro morador da Restinga que foi “identificado” como participante do crime por parte da vítima, a partir de uma busca feita pelo Instagram. Inicialmente, a polícia apontou três suspeitos, que chegaram a ser presos. Mas, no final do ano passado, durante um segundo reconhecimento dos autores, a vítima do assalto mudou de versão, e o acusou de ser um dos criminosos. Um dos suspeitos iniciais tem o mesmo nome de Yuri, e a mesma cor da pele.
“O Yuri é um trabalhador, que comprova que estava trabalhando no momento do assalto e mesmo assim está sofrendo um conjunto de violências. Esse é mais um exemplo do racismo que está encrustado na nossa sociedade, inclusive de forma estrutural e institucional”, apontou Luciana Genro.
A convite da deputada Luciana Genro, Yuri esteve na Comissão e relatou o ocorrido.
Yuri esteve presente na Comissão, onde foi ouvido pela presidente da Comissão, deputada Laura Sito (PT), e por Luciana Genro. Ele foi acompanhado de sua mãe, Elaine Rodrigues, e seus advogados, Mariana Saldanha de Oliveira e Rogerio Sefferin de Mello.
A pedido da defesa do jovem, a CCDH irá oficiar o Chefe de Polícia, delegado Fernando Antônio Sodré de Oliveira, o governador do Estado, a Secretaria de Segurança Pública, o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), o juiz responsável pela 15ª vara criminal, bem como o Projeto Inocence.
“Isso tudo me traumatizou bastante, eu sempre tento fazer o correto. Quando fiquei sabendo que a polícia esteve lá em casa, cheguei no serviço, contei o caso e vi no ponto que eu estava trabalhando [no dia do crime]. Pensei: se meu ponto está aqui, meus colegas de serviço confirmam que estava aqui, então tudo certo. Nunca passou pela minha cabeça fazer algo desse tipo. Sou um guri do bem, trabalhador, humilde, sempre quero ajudar o próximo”, relata Yuri. Infelizmente, a polícia não aceitou o ponto como prova, alegando que por ser preenchido manualmente, não tem um “grande grau de confiabilidade”.
Defesa pediu que Comissão oficie autoridades
Muito abalada, a mãe de Yuri relatou o inferno que a família tem vivido desde a acusação:
“É uma tristeza meu filho ser preso, algemado, por causa da cor da pele. Sempre tive muito medo disso acontecer com meu filho. E agora que meu filho foi preso, enquanto ele não chega em casa eu não fico tranquila. Sendo que ele nunca fez nada errado. Ficou sete dias lá, dormindo no chão, não podia ver ele. Isso nos destruiu”.
Yuri ficou preso por sete dias e foi solto com parecer provisório do Ministério Público, mas segue respondendo pelo crime que não cometeu. Luciana Genro destacou que é preciso seguir pressionando para que Yuri seja inocentado. A Comissão irá encaminhar os ofícios solicitados pela defesa de Yuri e seguir acompanhando o caso. O Movimento Vidas Negras Importam também vem acompanhando o caso e está organizando a campanha de justiça para Yuri.