Nem esquecimento, nem perdão: em memória e pela luta de Marielle e Anderson!
Marielle Franco, presente! Na luta a gente sempre se encontra!
A morte de Marielle Franco e Anderson Gomes foi, sem dúvidas, o assassinato político mais importante da história recente do país. Um crime bárbaro que expressou as inúmeras contradições brasileiras, matando uma das lideranças emergentes que enfrentava as milícias e o crime organizado. Marielle representava o ascenso político da negritude, das mulheres, da comunidade LGBTQIA+ e do povo das favelas e quebradas. Não por acaso, o lema de Marielle – que remetia à filosofia Ubuntu – “Eu sou porque somos” reapareceu na campanha eleitoral colombiana, anos mais tarde, pela voz de Francia Márquez, também liderança dos territórios negros e das bases populares que chegaram ao governo, após a rebelião que mudou a história da Colômbia.
Vereadora de nosso partido, Marielle inspirou dezenas de mulheres negras que foram eleitas seguindo seus passos, ampliando a presença do PSOL e da negritude nas câmaras legislativas e na sociedade como um todo. Passados cinco anos, sem que o crime tenha sido elucidado até agora, lutamos contra o esquecimento porque a memória de Marielle é um tributo para as gerações futuras.
O governo Bolsonaro foi um obstáculo às investigações
Nos últimos anos, enquanto se esperava justiça, as investigações sofreram uma série de reveses. Apesar da identificação dos assassinos de aluguel Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz como executores do crime, os órgãos de investigação nunca chegaram aos mandantes e às motivações do assassinato. Muitas vezes circularam notícias de pistas desencontradas e até mesmo suspeitas de que falsas testemunhas foram plantadas para atrapalhar a investigação.
As relações dos executores com milicianos próximos da família Bolsonaro escancaram as dificuldades para chegar aos mandantes. Ronnie Lessa era vizinho de Jair e Carlos Bolsonaro em condomínio na Barra da Tijuca, onde foram encontrados registros da presença dos executores imediatamente antes do assassinato. Adriano da Nóbrega – cuja mãe e esposa trabalharam como assessoras fantasmas em gabinetes da família Bolsonaro e apontado como chefe da milícia “Escritório do Crime”, da qual Lessa e Queiroz faziam parte – foi assassinado na Bahia em episódio ainda hoje igualmente não esclarecido.
Paira uma nuvem de desconfiança sobre as investigações. Além das relações com milicianos, bolsonaristas como Daniel Silveira e Rodrigo Amorim fizeram-se fotografar destruindo uma placa em homenagem à ex-vereadora. As redes bolsonaristas da internet, por sua vez, espalharam difamação e mentiras sobre Marielle e as razões do crime. A extrema-direita realizou uma verdadeira campanha ideológica e de calúnias para combater o legado de Marielle que, realmente, representa a antítese do bolsonarismo e, por isso, a luta por sua memória e por justiça foi parte da vitória popular que removeu Bolsonaro da presidência.
A justiça não pode esperar!
O novo governo inicia-se com a tarefa inconclusa de chegar aos mandantes e às razões do crime. Flávio Dino respondeu ao enorme sentimento popular que exige justiça, designando um superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro familiarizado com a investigação e encaminhando a abertura de um inquérito da PF para acompanhar as investigações. Agora é o momento de concretizar essa luta exigindo novos passos, incluindo maior transparência dos investigadores e mesmo a federalização das investigações se não houver uma rápida reorientação do trabalho no Rio de Janeiro.
A condenação dos responsáveis pode abrir um novo ciclo, sinalizando o combate à impunidade que marca a Nova República. Por isso, trata-se de uma luta estratégica para o país, que se relaciona com a luta contra a extrema-direita e as milícias, e mesmo pela reparação às vítimas da pandemia, um alvo do bolsonarismo.
Marielle vive, Marielle viverá
Um resultado concreto e rápido das investigações fará justiça à figura de Marielle Franco, cujo legado tornou-se uma referência para o movimento de massas. Homenagear sua vida e sua luta é um dever, como fez a Mangueira, em seu enredo campeão de 2019, quando entoou: “Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês”.
São essas as nossas referências para reescrever a história do país e não os latifundiários que enriquecem com a exploração do trabalho escravo, como no recente caso da serra gaúcha ou como os genocidas do governo anterior, que se locupletaram com joias milionárias contrabandeadas. O Brasil é de todo povo, com a cara de Marielle e Anderson.
De nossa parte, buscaremos contribuir para esses esforços, participando das atividades para recordar sua memória e exigir justiça. A audiência com o ministro Dino e o esforço para colocar essa demanda como central na agenda é parte dessa política. Teremos centenas de pequenos atos, caminhadas, sessões solenes e colagem de cartazes para recordar Marielle em todo o Brasil hoje.
Marielle Franco, presente! Na luta a gente sempre se encontra!