Mobilização retira projeto transfóbico da pauta da Câmara de Campinas
PL quer proibir mulheres trans em equipes esportivas do município. Em resposta, vereadora Mariana Conti (PSOL) apresentou projeto para combater LGBTQIA+fobia
Foto: Divulgação
A mobilização da bancada progressista e de militantes dos direitos LGBTQIA+ de Campinas promoveu a retirada de uma pauta transfóbica da pauta da Câmara de Vereadores (SP), ontem (24). Trata-se do projeto de lei de autoria do vereador Nelson Hossri (PSD), que visava proibir a participação de atletas transgêneros em equipes esportivas do município. A proposta contraria diretrizes do Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre identidade de gênero e inclusão.
“Reconhecemos a necessidade de garantir que todos, independentemente de sua identidade de gênero ou variações de sexo, possam praticar esportes em um ambiente seguro e livre de assédio”, diz um documento oficial do Comitê.
Independentemente das contestações de especialistas em Direito e do movimento LGTQIA+, Hossri protocolou seu projeto preconceituoso sob a falsa justificativa de que atletas trans femininas teriam vantagens físicas em relação a pessoas nascidas no gênero feminino.
“Não à toa, homens biológicos esportistas que não brilhavam na sua modalidade, hoje são campeões e até batem recordes no feminino”, afirma o vereador ao site da Câmara de Campinas. “Em outros países, mulheres estão perdendo bolsas, patrocínios e contratos em razão disso. E se você contestar vira alvo de críticas e agressões verbais da comunidade LGBT. Por isso, quero acabar com o mal pela raiz”, acrescentou Hossri que, em 2021 levou a Casa um projeto que proibia o uso de linguagem neutra, classificada pelo parlamentar de extrema-direita como “aberração”.
Pressão e luta
O parlamentar foi instado a retirar o PL da pauta após pressão dos militantes que lotaram o plenário da Câmara de Vereadores como forma de demonstrar o absurdo da proposta.
“Ô, Nelson Hossri, pode correr, a luta trans não tem medo de você”, gritavam os militantes.
A vereadora Mariana Conti (PSOL) integrava o grupo de vereadores contrário a apreciação e aprovação do projeto.
“Este projeto é preconceituoso, violento e representa um retrocesso. Lutaremos para que seja barrado!”
Recentemente, Mariana apresentou um projeto de lei que se propõe a combater a LGBTQIA+fobia. O projeto proíbe toda e qualquer manifestação atentatória ou discriminatória praticada contra a comunidade e prevê a punição ou penalidades administrativas a quem atentar contra seus direitos individuais e coletivos.
O projeto foi apresentado num contexto de falta de acesso a serviços públicos pela comunidade LGBTQIA, especialmente pela população trans.
“Estamos recebendo denúncias de que a Prefeitura de Campinas, por discriminação e preconceito, está recusando abrigo para pessoas trans, negando assistência e contribuindo para a marginalização e a naturalização da violência”, relata Mariana, acrescentando que o projeto também está inserido em contexto da proposta transfóbica de Hossri.
Estatísticas
O Brasil é o país que mais mata a população LGBTQIA+ no mundo. Segundo um levantamento feito pelo Centro de Referência LGBT da prefeitura de Campinas, o município registra um caso de LGBTfobia a cada 19 horas. Vale destacar que, em 2019, o STF tipificou a homofobia como crime imprescritível e inafiançável, quando houve um entendimento de que os casos de homofobia e transfobia se aplicam a lei do racismo (lei n° 7.716/1989).
“Queremos ampliar o debate na sociedade campineira sobre a LGBTfobia, buscando tratá-la como ela é: um crime! Esse entendimento é fundamental para que possamos seguir e promover ações públicas de prevenção e combate à ações discriminatórias e/ou violentas contra essa população, além de contribuir para que serviços e direitos sejam garantidos a essas pessoas, sem discriminação ou preconceito. Chega de retrocessos, precisamos avançar” argumenta Mariana Conti.
*Com informações do mandato Mariana Conti