Parlamentares do PSOL desfazem fantasia de bolsonaristas na TV
Em debate com deputados do PL, Fernanda Melchionna e Sâmia Bomfim explicam porque partido não deve conquistar presidência ou relatoria da CPMI dos Atos Golpistas
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Às vésperas da leitura do requerimento para instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro no Congresso – que deve ocorrer amanhã (26) – a imprensa nacional tem convocado parlamentares de esquerda para debater com nomes da direita sobre os rumos que o colegiado tomará.
Nos últimos dois dias, as deputadas Fernanda Melchionna (PSOL-RS), e Sâmia Bomfim (PSOL-SP) participaram de programas de TV e internet para dar sua opinião, sempre tendo como interlocutor um deputado bolsonarista: Altineu Côrtes (PL-RJ), no caso de Fernanda, e Marcos Pollon (PL-MS), no de Sâmia.
Curioso perceber em ambos os embates a expectativa delirante dos direitistas de conseguirem assumir a presidência ou a relatoria da CPMI – apostando, inclusive, no nome do deputado federal André Fernandes (PL-CE), autor do requerimento para criação da comissão. Fernanda mostrou-se estupefata com a sugestão.
“O André Fernandes foi um dos deputados que usou suas redes sociais para convocar os atos golpistas. Vai ter um monte de deputados do PL que vai sair preso dessa CPI se ela for séria; muitos já estão sob investigação no âmbito do inquérito das fake news”, afirmou.
Em sua participação no programa CNN 2 Lados, na segunda-feira (24), Samia lembrou que pelo fato de estar sendo investigado no inquérito do ministro do STF Alexandre de Moraes, Fernandes “não pode nem ser membro de uma CPMI como essa, menos ainda um dos que comandam a CPMI”.
Existem regras
Em seguida, de forma didática, a parlamentar acrescentou que esse nem é o principal fator que deve afastar bolsonaristas dos principais cargos da comissão – escolhidos por fatores regimentais e políticos.
“Primeiro, há uma questão regimental, de proporcionalidade entre os blocos políticos na Câmara. Hoje o maior bloco político é comandado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. Então, regimentalmente, o PL é o terceiro [na ordem] do direito de fazer uma escolha, por conta de seu tamanho, da proporcionalidade. Tendo isso em vista, não poderia ficar na presidência nem na reitoria. Mas para além da questão regimental, há uma questão política. Imagine suspeitos de um assassinato coordenado a investigação sobre esse crime, para fazer um paralelo com os atos golpitsas de 8/01. As pessoas que estão diretamente envolvidas na armação e na invasão propriamente dita não podem comandar um processo que vai investigá lo. Elas têm de estar no banco dos réus, que ser questionados e cobrados pelo parlamentares, assim como os empresários que ajudaram a financiar esses atos, os militares que agiram intencionalmente ou deixaram de atuar como deveriam para garantir a preservação do patrimônio e impedir os golpistas de fazer um ato tão absurdo como aquele, e o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro”, explicou Sâmia.
Outra falácia que as parlamentares precisaram refutar durante os debates televisivos foi sobre a falta de interesse da esquerda em criar uma comissão parlamentar de inquérito para investigar os atos golpistas. Em sua participação no Painel CNN, domingo (23), Fernanda Melchionna rebateu a insinuação de Altineu Côrtes.
“O PSOL quando viu a horda golpista em janeiro invadindo, quebrando, depredando instituições da República, começou a coleta de assinaturas para uma CPI na Câmara, não mista. Mas infelizmente não atingimos o número regimental”, explicou
Compreensão
Adiante, a deputada gaúcha disse que a CPMI será de suma importância para que os brasileiros compreendam de que forma se encadearam, no âmbito político, os discursos de violação, de ataques a urna eletrônica e a democracia que foram a marca do governo Bolsonaro, com os acampamentos golpistas pós-eleição e tudo o que se seguiu.
“Vimos narrativas delirantes, audiências públicas protagonizadas por bolsonaristas no Senado [contra o fim aos acampamentos golpistas]; pessoas que fomentaram e financiaram QGs golpistas; o apagão com Anderson Torres, que era o secretário de Segurança do Governo do DF, bem como de boa parte dos integrantes do GSI, ainda da turma do Heleno, protagonizando um cenário que permitiu que meia dúzia de tresloucados fizessem aqueles atos absurdos. É muito importante entender [como as coisas se sucederam] para que não tenha anistia. Para que haja responsabilização civil e criminal de cada um desses golpistas, para que respondam a processo judicial e muitos vão para a prisão”, argumentou Melchionna.