Por uma organização permanente das Mulheres
Um ensaio sobre o I Fórum de Mulheres de São José do Rio Preto, interior de São Paulo
Foto: Juntas/Reprodução
O presente texto pretende dialogar com a necessidade atual de realizar um salto organizativo dentro do movimento de mulheres, ao mesmo tempo compartilhar a experiência de Rio Preto com a organização do I Fórum de Mulheres.
Nos últimos anos, temos assistido diversos levantes de mulheres pelo mundo todo. Podemos elencar, como exemplos: i) A mobilização das mulheres chilenas, durante as rebeliões populares: que resultou na primeira constituição com paridade de gênero do mundo; ii) derrota do Trump: mulheres norte americanas tomaram as ruas e as redes, em uma campanha histórica, com o objetivo de mobilizarem o eleitorado a comparecerem e votarem em Joe Biden; iii) A mare verde na Argentina: responsável pela conquista dos direito ao aborto e à aposentadoria das mulheres que se dedicam ao cuidado materno. No Brasil, não foi diferente, estivemos na linha de frente de processos como o Fora Cunha, cassação do deputado Arthur do Val (Mamãe Falei), além de sermos as pontas de lança na resistência ao Bolsonaro, desde o #EleNão até a sua derrota nas urnas ano passado.
Entretanto, o que percebemos dentro do movimento é que após grandes levantes há um arrefecimento, uma dispersão dessas mulheres. Sendo muito difícil termos o fio da continuidade para conseguirmos discutir e avançar a partir da noção de classe em si em classe para si, pois não há a permanência da disponibilidade militante de outra hora.
Então, estamos diante do grande desafio que é: como fazer que essas mulheres darem um salto de ativistas esporádicas para militantes do movimento feminista?
E para buscar essa resposta, que não é única, nem permanente, fizemos o processo de observar outras experiências organizativas, não só de mulheres, mas, também, de estudantes e sindicatos. Com isso, conseguimos ponderar que a dificuldade de permanência das mulheres da classe trabalhadora no movimento deriva massivamente de dois pontos: i) a dificuldade que as mulheres têm em conseguir tempo, em decorrência da divisão sexual do trabalho, que coloca sobre nós, as mulheres, a tarefa do cuidado reprodutivo ; ii) a ausência de um calendário de lutas, ou seja, diferente dos movimentos sindicais e de estudantes, não possuímos, ao longo do ano, um cronograma predeterminado para estimular a mobilização permanente.
Pensando nisso, inspiradas nas assembleias de mulheres, promovidas pelo movimento de mulheres da Argentina, começamos a elaborar a ideia de um fórum permanente de mulheres em São José do Rio Preto, com objetivo de criarmos um espaço mensal, onde diferentes mulheres, organizadas ou não, pudessem se encontrar para pensar e formular politica feminista e de esquerda.
Como estratégia de aglutinação, apresentamos a proposta da atividade dentro da frente feminista de esquerda, espaço impulsionado por nós, juntamente com outros coletivos, desde 2018. Realizamos o I Fórum de Mulheres de Rio Preto pela frente Feminista, em parceria com a Unesp, nos dias 20 e 21 de março, dentro da já tradicional agenda do Março de Lutas.
No evento contamos com a presença de cerca de 30 mulheres, entre elas trabalhadoras da saúde, educação, representantes de movimentos sociais como negritude e população T. Saímos do espaço com os seguintes indicativos: i) a elaboração de um documento, com as reinvindicações do movimento para ser apresentado à prefeitura; ii) que os Fóruns serão itinerantes, para que possamos falar com diferentes mulheres.
Nosso objetivo com isso é impulsionar uma agenda que ultrapasse o 8M e coloque dentro da cidade a cultura de mobilização permanente do movimento de mulheres de esquerda.
Sabemos que os desafios para a materialização e manutenção de uma mobilização permanente no movimento de mulheres são grandes, pelos motivos já elencados nesse texto, pela própria disputa política que se abre no próximo período com o Petismo e sua linha conciliadora. Mas apostamos nesses espaços permanentes como ferramenta de aglutinação das varias lutas feministas, das diferentes mulheridades que se ampliam, se chocam, se convergem nesse processo do fazer político, pois como já disse Rosa Luxemburgo: “Há todo um velho mundo ainda por destruir e todo um novo mundo a construir. Mas nós conseguiremos, jovens amigas, não é verdade?”