Ricardo Salles é cotado para a relatoria da CPI do MST
Bolsonaristas devem estar à frente da comissão que pretende criminalizar luta pela reforma agrária e servir como cortina de fumaça à CPMI do 8 dos Atos Golpistas
Foto: José Cruz/Agência Brasil
Na esteira da esperada criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos Golpistas, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), leu na noite de quarta-feira (26) o requerimento para a criação da CPI que busca investigar a atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Outras duas comissões foram instaladas – a do rombo nas lojas Americanas e a da manipulação de resultados em partidas de futebol. Porém, é a do MST – a quinta instalada em 18 anos – que tem gerado maiores reações. Para a deputada federal Fernanda Melchionna, sua instalação é mais uma tentativa de criminalizar o movimento “para fomentar a narrativa da extrema direita, de perseguir quem luta pela reforma agrária”.
“Um dos casos mais absurdos da história recente desse país é a aliança entre a extrema direita e a bancada ruralista para criminalizar, atacar, desrespeitar um dos mais importantes movimentos sociais do Brasil”, afirmou a parlamentar, no plenário.
Fernanda ainda qualificou como “ridículo” o teor do requerimento de abertura, que propõe uma CPI para questionar o verdadeiro propósito do MST, buscar financiadores e verificar o estado das propriedades que já foram invadidas.
“[A justificativa do] requerimento de abertura, essa peça patética, é estudar o real propósito do movimento social. Falta livro de história e conhecimento da luta social no Brasil de décadas, anterior ao MST, com Julião e as ligas camponesas; e depois a importantíssima contribuição do movimento, que tem pautado a necessidade de reforma agrária em um dos países mais desiguais do mundo no acesso à terra”, argumentou.
Disparate ainda maior é a possibilidade de o colegiado ser presidido pelo deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), autor do requerimento de abertura da CPI. E piora: o ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro Ricardo Salles (PL-SP) é nome apoiado pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para assumir a relatoria da comissão..
Para Fernanda Melchionna, a concentração de esforços da extrema direita em implantar uma CPI para questionar o MST é uma cortina de fumaça para a CPMI dos atos golpistas, que deve implicar nomes de peso do antigo governo federal, além de empresários e ruralistas graúdos que incentivaram e financiaram a destruição de 8 de janeiro de 2023, entre outras ilicitudes contra a democracia.
“Na verdade, eles têm medo que a gente investigue os verdadeiros crimes, que são contra as liberdades democráticas, promovidos por esses delinquentes. Nós vamos fazer toda a luta necessária para desmascarar essa tentativa absurda de criminalização dos movimentos e vamos estar na linha de frente, junto com os movimentos sociais populares para que não haja anistia e para que os crimes do Bolsonaro e seus delinquentes sejam punidos”, asseverou.
Ministro é contra
Este mês, o MST realizou nova edição do Abril Vermelho, uma jornada nacional pela reforma agrária que incluiu a invasão de nove propriedades improdutivas e mobilizações pela mudança de superintendentes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Ainda que as ações tenham tido menor porte do que em governos anteriores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o movimento, temendo desgaste da relação com o setor do agronegócio.
Porém, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, disse nesta quinta-feira (27) que a criação da CPI vai “alimentar luta política” desnecessariamente..
“Vai investigar o quê? Vai investigar ocupações que não existem mais, famílias que já não estão naquelas terras?”, questionou. “Eu não vejo razão senão alimentar luta política, ideológica e que não serve a ninguém, não move o país e não resulta em algo positivo para o país. Eu acho que o Congresso Nacional tem matérias mais importantes para se debruçar”, completou o ministro.