Violência nas escolas não se combate com repressão
No DF, especialistas debatem saídas para prevenir crimes no ambiente escolar.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A Subcomissão de Prevenção à Violência nas Escolas, criada pelo deputado e presidente da Comissão de Direitos Humanos Fábio Felix (PSOL-DF), realizou, na terça-feira (18) sua primeira reunião. O objetivo do encontro foi debater e propor soluções para os recentes ataques em escolas que ocorreram em diversos locais do país.
“Se criou um clima de pânico generalizado na cidade e a gente se solidariza muito com os familiares, com as crianças e adolescentes, mas tem um aspecto que eu queria ressaltar, tudo isso que está acontecendo tem raízes no neonazismo, essa é uma preocupação que a gente precisa ter”, enfatizou Fábio Felix em sua fala de abertura.
Outro ponto que o parlamentar tocou são as medidas que foram tomadas até então pelo poder público.
“Me preocupa muito, porque tem um projeto que cria o ambiente quase prisional dentro do nosso sistema educacional, um ambiente de extrema vigilância. Nós precisamos é de mais profissionais da psicologia e da assistência social, hoje existem apenas quatro ou cinco assistentes sociais em toda a rede de mais de 600 escolas. Então, eu acho que são algumas das medidas que poderiam colaborar para prevenir esses ataques”, frisou Fábio.
Em seguida, a professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e integrante do Comitê pelo Direito à Educação, Catarina de Almeida Santos, endossou que o atual cenário não se combate com mais repressão:
“Elaboramos um relatório chamado ‘Extremismo de direita e ataques nas escolas’, entregamos à equipe do governo de transição e concluímos que não dá para delegar às escolas a responsabilidade pela resolução dessa questão, ela tem que ser parte da solução estando cada vez mais aberta e integrando os jovens, caso contrário vamos aprisionar cada vez mais o ambiente escolar enquanto os responsáveis por isso tudo seguirão livres. Precisamos lidar com o problema e não só com suas consequências”.
De acordo com a pesquisadora, o relatório também aponta que o perfil das crianças e adolescentes que cometem os ataques são meninos brancos e heterossexuais cooptados por subgrupos neonazistas online, que propagam discursos de misoginia e racismo.
“A questão é que esses subgrupos existiam apenas na deepweb, agora os perfis estão abertos nas redes sociais, principalmente no Twitter e TikTok. Uma das recomendações que fizemos no relatório foi a necessidade do controle e regulamentação dessas plataformas, até porque existem muitas ameaças falsas que circulam e dificulta o monitoramento do que pode ser real, além de causar esse pânico geral”, explicou Catarina de Almeida.
A ex-secretária de Segurança Pública do Distrito Federal, Marcia Alencar, também fez um alerta em relação a internet:
“Os aparelhos ideológicos não são mais do Estado, são do mercado. As redes sociais modificam os padrões de comportamento porque constroem mentalidades, e o processo de massificação de informação faz com que tenha um nicho de negócios extremamente fácil de introduzir conceitos de grupos de extrema-direita”.
Marcia Alencar acrescentou dizendo ser necessário elaborar um protocolo integrado com ações educacionais internas que compactue com pais, professores, estudantes, conselheiros tutelares e a comunidade.
“Assim a gente consegue um protocolo que é da educação para a segurança, e não da segurança para educação que seria nada mais que uma nova forma de criminalizar nossa juventude. Precisamos de uma escola cidadã com trabalho efetivo de articulação para que a polícia atue depois que todos os acordos estiverem estabelecidos e a repressão vá em locais específicos e quando for extremamente necessário”, afirmou a ex-secretária.
Fábio Felix finalizou a reunião destacando a importância organizar uma escuta ativa dos adolescentes, que estão no centro da questão e com a saúde mental fragilizada.
“Eles têm um outro olhar, e conseguem até propor sugestões e melhorias para enfrentarmos essa situação”, destacou o parlamentar e também salientou a necessidade das violações cometidas na internet serem punidas com mais rigor.
“Não podemos ter esse território livre para cometimento de crimes, isso estimula diversos tipos de violência contra crianças, adolescentes, mulheres, população negra e LGBTQIA+. Ainda não temos legislação nesse sentido, por isso é urgente pensarmos nisso”.