Declaração: Por um mundo ecossocialista!
Leia a declaração do MES/PSOL sobre a primeira Conferência da Amazônia organizada pelo partido
Mude o sistema, não mude o clima!
A I Conferência da Amazônia do PSOL ocorre em um período histórico e decisivo para o futuro da humanidade. Em meio à destruição de ecossistemas, desmonte de políticas ambientais e ataques aos povos dos rios e das florestas, a humanidade vivenciou recentemente uma pandemia e enfrenta mudanças climáticas, o que coloca na ordem do dia a necessidade de intensificar a luta contra este sistema que se sustenta no lucro em detrimento do bem-viver do povo.
Amazônia: palco de conflitos, território das lutas!
O território estratégico dessa luta acontece, aqui, na Amazônia, pois além de representarmos 5% do planeta e 58% do território nacional, possuímos 25% de todas as espécies de peixes, animais e plantas, 20% da água doce do planeta, 180 etnias de povos indígenas, e cerca de 14 milhões de famílias urbanas e rurais. A Amazônia é estratégica e sua defesa tem que estar no horizonte estratégico do PSOL.
Historicamente, desde a militarização das margens dos rios e da colonização genocida dos povos da floresta, passando pelos projetos recentes agrominerais e hidrelétricos, os grandes projetos planejados para a Amazônia têm sido economicamente concentradores de renda, socialmente excludentes, ambientalmente predatórios e culturalmente racistas. Seja no campo ou na cidade, o que predomina ainda é o uso da força, a expulsão da terra, a criminalização dos movimentos sociais, a não participação dos povos da Amazônia na definição dos modelos de desenvolvimento adotados na região, a cooptação de lideranças, as ameaças e até os extermínios, ainda comuns contra lideranças que ousam lutar em defesa de seus territórios e direitos.
Os povos da Amazônia estão sob um cerco de morte, a mando de latifundiários, grileiros, madeireiros e garimpeiros, com o apoio das elites rurais e urbanas. Ao sul do bioma amazônico, o “arco do fogo”, consórcio de madeira, gado e soja pressionam para avançar sobre a floresta. Ao norte, a rede de garimpo ilegal utiliza o mercúrio para envenenar as águas e o solo como forma de eliminar Yanomami e outros povos indígenas e ribeirinhos. À leste, os grande projetos mineradores do Programa Grande Carajás se interliga ao escoamento de soja a partir do Maranhão, tornando essa região uma das mais violentas do mundo, com constantes assassinatos de quilombolas, indígenas e trabalhadores rurais. À oeste, as fronteiras da Amazônia e as terras indígenas continuam desprotegidas e disponíveis ao tráfico, desmatamento e pistolagem com desfechos gravíssimos, como o caso do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, assassinados em 2022.
A resistência dos povos da Amazônia!
Diariamente, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pequenos agricultores e demais trabalhadores rurais seguem na resistência a esse cerco de morte e o PSOL precisa estar lado a lado com estes sujeitos da luta. A saída jamais pode ser a pactuação ou aliança com as elites urbanas e rurais, que há décadas se revezam no poder, e são responsáveis pela sustentação desse modelo de desenvolvimento excludente, predatório e racista.
Tampouco, podemos nos iludir com o mantra do desenvolvimento sustentável ou da economia verde, conceitos em disputa, apropriados pelo sistema capitalista, para avançar sobre novas fronteiras, abrir novos mercados, manter sua lucratividade, enquanto o povo padece com a miséria e baixos indicadores sociais. A financeirização da natureza e a privatização dos recursos naturais também não podem ser apontados como alternativas, pois provocam insegurança e degradação de povos, culturas e sabedorias milenares, das nossas florestas, rios e sociobiodiversidade. A saída é o ecossocialismo!
O caminho é o ecossocialismo!
O PSOL precisa ter em sua estratégia a luta pelo Ecossocialismo. O sistema capitalista, desde o século XVIII tem seu crescimento ilimitado baseado na exploração dos combustíveis fósseis e isso tem nos conduzido a uma catástrofe ecológica e a mudanças climáticas. É o sistema do capital que divide a sociedade em classes sociais, concentra, acumula e expropria riqueza, explora o trabalho da maioria das pessoas que vivem na pobreza, utiliza o Estado para legislar a seu favor, subjuga a natureza e destrói o meio ambiente, os territórios e os povos que ali vivem.
Para enfrentar esse sistema, é necessário defender e construir um outro sistema alternativo e radical que integre ecologia e socialismo, e que permita a apropriação dos principais meios de produção e a instauração de um planejamento democrático, participativo e ecológico. Por mais que não pareça palpável no momento, precisa estar em nosso horizonte estratégico, pois o ecossocialismo é o único caminho possível e que a esquerda no planeta não poderá se furtar de construir. É um caminho civilizacional, que implicará em um novo modelo de vida, sustentado pelos valores da solidariedade de classe, da democracia substantiva, da cidadania ativa, da liberdade e respeito à terra. A Mãe Terra!
Entendemos, também, o ecossocialismo como uma exigência política e ética que orientará nossas ações em defesa da Amazônia e de seus povos, bem como do planeta. E que estamos dispostos a aprender com os conhecimentos ancestrais dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e comunidades tradicionais de como cuidar da terra e de seus povos. O mundo será ecossocialista!
Nesse sentido, não há defesa de território, não há defesa dos povos que vivem na Amazônia e da floresta e meio ambiente sem a superação do sistema capitalista e a construção de uma outra lógica de sociedade e de relação com a natureza. A defesa da construção do ecossocialismo é um convite aos militantes do PSOL na Amazônia, para que seja o nosso norte, que se materializa na defesa da proteção dos ecossistemas, da Reforma Agrária Popular, da Agroecologia, de um planejamento democrático, participativo e ecológico, de uma educação popular e emancipadora e está presente nas lutas pelo bem-viver e contra o agronegócio e os grandes projetos, como as usinas hidrelétricas, os novos poços de petróleos e as ações predatórias das mineradoras.
Movimento Esquerda Socialista (MES) – Tendência Interna do PSOL