Protesto e projeto de lei: PSOL reage a racismo no futebol
Parlamentares exigem respostas do governo espanhol e propõem punições para crimes cometidos nos estádios
Foto: Fifa World Cul/Reprodução
Diante das aparentes dificuldades que clubes e cartolas de futebol enfrentam para combater o racismo no futebol e nos estádios, o deputado estadual Professor Josemar Carvalho (PSOL-RJ) apresenta uma proposta simples: punições rigorosas e pedagógicas para times, jogadores e torcedores.
Na manhã de terça-feira (23), o parlamentar protocolou, na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), um projeto de lei que prevê, além de campanhas educativas nos intervalos dos jogos, a interrupção de partidas em caso de denúncia ou manifestações racistas por qualquer pessoa presente no ambiente de jogo (leia mais abaixo).
“A aprovação deste projeto é importante para que tenhamos ações efetivas e reais de combate ao racismo. O caso de Vini Jr. nos mostra um limite, que se esgotou, pois não é possível aceitar mais atitudes deste tipo. Por isso, a nossa proposta vai se chamar ‘Vinicius Jr. de combate ao racismo’ e a esperança é que a aprovação ocorra em um prazo curto”, disse ao G1 o deputado, que também propôs conceder a Medalha Tiradentes, maior honraria do Poder Legislativo Estadual ao atleta do Real Madrid.
Além das medidas obrigatórias, o projeto também sugere a criação do ‘Protocolo de Combate ao Racismo’, com as seguintes orientações:
A lei proposta por Josemar Carvalho ainda contempla um protocolo de ações para lidar com a prática de racismo em eventos esportivos. Segundo a norma, qualquer cidadão poderá notificar conduta racista a autoridade que estiver presente no estádio; essa, por sua vez, informará imediatamente ao plantão do juizado do torcedor presente no local, ao organizador do evento esportivo e ao delegado da partida quando houver, e logo que for possível ao Ministério Público, à Defensoria Pública, Comissão de Combate às Discriminações da Alerj e a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). A partir daí, o árbitro deverá interromper o jogo. Se aprovadas pela Alerj e pelo governo do Estado, a lei passa a valer imediatamente em todo o Rio de Janeiro.
“Macaco”
O jogador Vinícius Junior sofre perseguição de cunho racista no futebol espanhol já há algumas temporadas. Porém, o episódio registrado no último domingo (21), durante partida entre Valencia e Real Madrid, chocou por sua violência. Da arquibancada, torcedores gritavam “mono, mono” (macaco). O jogo chegou a ser paralisado por cerca de oito minutos no segundo tempo, após denúncia do jogador ao árbitro. Porém, nos minutos finais, o brasileiro foi expulso após confusão com o goleiro Mamardashvili, mesmo tendo Vini Jr. sido agredido com um mata-leão por um jogador adversário.
A LaLiga, entidade responsável pela organização do campeonato espanhol, e a imprensa especializada resistem em reconhecer a existência do racismo e a necessidade de combater a questão. Mais de dez denúncias apontando ataques ao brasileiro já foram feitas para a autoridade esportiva Desses, três foram arquivados e os demais seguem correndo normalmente na justiça. Até agora, nenhuma medida punitiva foi tomada.
Apenas em fevereiro a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) estabeleceu punições mais rigorosas para o racismo nos estádios. Entre eles, multa de até R$ 500 mil, perda de mando de campo ou jogo com portões fechados. Ainda há o caso de perda de pontos. A conferir se tais medidas serão realmente aplicadas, uma vez que racismo já é considerado crime inafiançável no Brasil
Protestos nos consulados
Pelo menos dois atos públicos em solidariedade a Vini Jr foram realizados na noite de terça-feira, em frente aos consulados da Espanha em Porto Alegre e em São Paulo. Na Capital gaúcha, a atividade reuniu cerca de 30 pessoas, que deram depoimentos sobre experiências e cobraram uma postura mais rigorosa do governo espanhol no combate a essa mazela.
Cerca de 200 pessoas se manifestaram em frente a autoridade diplomática da espanha em Sâo Paullo, entre políticos, lideranças partidárias e militantes do movimento negro. No ato, foram projetadas palavras de ordem no prédio do consulado, como “LaLiga racista” e “Não é futebol, é racismo”. Nas falas ao microfone, parlamentares e ativistas cobraram mudança na cultura espanhola e se solidarizaram com o sofrimento do atleta brasileiro.
“A gente foi obrigado a assistir esse homem ser massacrado por um estádio inteiro na Espanha; esse homem ser agredido fisicamente, expulso do jogo e não ter nenhum tipo de apoio nem do Estado Espanhol, nem da LaLiga e de ninguém que se prontificou e se dignificou a parar aquele jogo. O correto teria sido paralisar, parar dar uma punição ao time, uma punição severa aos racistas e nada disso aconteceu. Isso é mais que um incidente diplomático. E por isso estamos aqui na frente do Consulado da Espanha. Esperamos ações de fato, de peso do governo espanhol ao que foi, sobretudo, uma agressao ao povo negro”, afirmou a vereadora Luana Alves.