Nós, metroviários de SP, estamos com uma greve marcada para amanhã, dia 13 de junho. O que está em jogo para esse período?
Metroviários de São Paulo votam a favor de greve em 2015 - Paulo Iannone/ Sindicato dos Metroviários de São Paulo

Nós, metroviários de SP, estamos com uma greve marcada para amanhã, dia 13 de junho. O que está em jogo para esse período?

Os metroviários se levantam contra os ataques aos direitos da categoria e da população de São Paulo.

Como o Bolsonarismo ainda nos afeta

A derrota de Bolsonaro em 2022 foi um sopro de alívio para a classe trabalhadora do país. Além dos ataques aos direitos trabalhistas, durante a pandemia ele foi um dos maiores negacionistas do planeta, indicando remédios ineficazes, demorando para comprar as vacinas e fazendo declarações que só ajudaram a aumentar o número de mortes durante a Covid-19.

Essa derrota ocorreu em âmbito nacional, mas a extrema direita se manteve forte e conseguiu eleger uma série de governadores no país. Em São Paulo não foi diferente, o carioca Tarcísio de Freitas foi eleito com mais de 55% dos votos, encerrando um período de quase 30 anos de governos do PSDB no maior estado do país. Tarcísio foi Ministro da Infraestrutura durante o período em que o bolsonarismo estava no poder executivo. Em sua campanha, ele foi um bolsonarista fervoroso, defendendo pautas conservadoras nos costumes e a agenda liberal/privatista nas questões econômicas. Uma de suas principais promessas era a privatização da SABESP, do Metrô e da CPTM.

A Herança Tucana nos transportes

A privatização de algumas linhas do Metrô (linhas 4 e 5) e da CPTM (linhas 8 e 9) iniciou-se no governo do PSDB. Todas as linhas privatizadas foram entregues à CCR, e os contratos estabelecidos nessas concessões só beneficiam a empresa privada. 

Na CPTM, as linhas comandadas pela CCR tiveram um grande aumento no número de atrasos e acidentes, inclusive já ocasionando na morte de trabalhadores. Mesmo com esse histórico, o governador continua com sua sanha privatista e frequentemente dá declarações nesse sentido. Trouxe para o cargo de presidente da Companhia, um burocrata que tem como grande trunfo ter sido o responsável pela privatização da Companhia das Docas do Espírito Santo, Julio Castiglioni. 

Nota para o próximo item: Com a pandemia, as votações de nosso sindicato tornaram-se onlines, causando assim duas novidades: as votações poderiam acontecer a qualquer momento, com defesas via vídeo-conferência e não é mais possível analisar o clima como eram nas votações na (saudosa) Quadra dos Metroviários. Hoje, apesar de ainda reunir a militância presencialmente e de analisarmos as discussões nas áreas e nos grupos de WhatsApp, todos os resultados podem ser resolvidos por uma silenciosa maioria. É um processo democrático, justo e seguro, porém que ainda nos causa surpresa com alguns resultados.

As Greves em período da Pandemia

Durante o período da pandemia, a direção do Metrô sempre manteve o mesmo discurso de com a queda na arrecadação, não haveria dinheiro em caixa para pagar reajustes, gatilhos para aumentos por desempenho e nem para a PR (Participação nos Resultados)

Em 2020, esse discurso prevaleceu e a categoria aceitou o contexto geral da população, jogando a discussão para um futuro pós-Covid. Já no ano seguinte, 2021, esse discurso repetido não funcionou e a categoria se revoltou. Após uma greve que durou menos de 3 horas, a empresa ofereceu a reposição da inflação, que foi aceita. No ano de 2022, a situação se repetiu, e após 1 dia de greve, a reposição da inflação foi oferecida e aceita pela categoria.

Porém, chegando em 2023, o sindicato fez uma proposta mediada pelo TRT e MPT: em vez de pagar as 3 PRs, o metrô pagaria um abono compensatório pelos períodos sem a PR. Essa proposta foi apresentada várias vezes, mas sempre foi negada. A situação chegou a um ponto em que a categoria se revoltou, mesmo com a maior parte da diretoria indicando um “não” à greve, para continuar o processo de negociação, a greve foi aprovada por uma pequena margem.

A Primeira Greve do Novo Governador e a Catraca Livre

Essa última greve teve um elemento novo: o judiciário aceitou uma reivindicação antiga da categoria: os trabalhadores voltariam aos seus postos, porém que não houvesse cobrança de passagens. Assim, apenas a empresa teria de arcar com o ônus da greve e não a população. Após uma série de conversas entre a direção da empresa e o sindicato, essa proposta foi aceita pelo metrô e anunciada nas redes sociais pelo governador Tarcísio.

No entanto, quando chegou a hora de abrir as estações com as catracas liberadas, o governador apresentou um mandado de segurança que impediu o que ele mesmo havia anunciado em suas redes sociais momentos antes.

Até esse momento, o metrô se recusava a pagar qualquer valor aos funcionários. No final do dia, a categoria, mais revoltada pela irredutibilidade da Companhia e pelo golpe baixo do Governador, votou pela manutenção da greve, e na madrugada do primeiro para o segundo dia da paralisação, a empresa enviou uma proposta de pagamento. 

Essa proposta foi significativamente menor do que a pedida pelo sindicato. Dessa vez, um setor ainda maior da diretoria do sindicato defendeu que deveríamos aceitar essa proposta. Foi uma votação muito apertada, mas, por uma diferença de 21 votos, a proposta do metrô foi aceita e a greve foi encerrada. Essa greve foi o primeiro enfrentamento do governo Tarcísio com os servidores estaduais. Apesar de a proposta financeira ter ficado aquém do esperado pela categoria, foi uma greve bem-sucedida politicamente. Conseguimos arrancar uma proposta do governo, que durante quase 2 meses manteve a mesma posição de não pagar nem um centavo à categoria.

O Governador saiu com a imagem manchada perante a população, principalmente por anunciar a abertura das catracas e, em seguida, impedir isso através de um mandado de segurança. Para os servidores, ficou o exemplo de que apenas a luta impede a perda de direitos e, principalmente, a privatização.

A categoria metroviária protagonizou um dos primeiros confrontos do serviço público com o governo ultraprivatista de Tarcísio, com a greve do dia 23/03. Marcada por ampla adesão e organização dos trabalhadores, esse processo também evidenciou a má fé do governo ao enganar a população ao permitir que o Metrô operasse com as catracas abertas enquanto negociávamos nossas PRs atrasadas.

Queremos um futuro possível no Metrô de SP!

O Metrô de São Paulo é uma referência nacional e internacional na prestação de serviços e operação de transporte sobre trilhos. Sempre aparece nas listas de melhores serviços públicos avaliados pela população. Contraditoriamente, temos sofrido com a falta de funcionários, causando problemas para os trabalhadores, colocando em risco a população e o sistema como um todo, além de resultar em adoecimento dos funcionários.

Por essa realidade dramática, é vital que haja uma ampliação urgente do quadro de funcionários por meio de concurso público. Há cerca de 6 anos, o Metrô não realiza concurso para o cargo de entrada na operação, o OTM-1 (anteriormente chamado de Agente de Estação)..

Outro problema latente na categoria é a disparidade salarial entre funcionários que desempenham as mesmas funções. Portanto, outro ponto importante é a demanda por salário igual para trabalho igual. Essa diferença salarial é particularmente evidente entre os trabalhadores mais novos e pode chegar a até 40% de diferença.

Sendo assim, entendemos que a luta pela não privatização da Companhia deve também vir acompanhada pela luta por mais contratações. Uma empresa que é um orgulho para seus funcionários pela qualidade do seu serviço, que é bem vista pela população deve ser mantida e incentivada. Mais contratações para os cargos na operação e na manutenção servem para uma prestação de serviço de qualidade para a população e também é a chance de empregar mais pessoas em um momento em que os índices de desemprego continuam altos.

Uma privatização só serviria para atender os pleitos dos grandes empresários do setor de transportes, para diminuir a força do sindicalismo no Estado de São Paulo. Lembramos também que a empresa já está sofrendo com a terceirização em setores da manutenção, trazendo já os ares da privatização para dentro da Companhia. Processos que antes eram feitos por técnicos da empresa agora são feitos por empresas “faz-tudo” que buscam atender priorizando a quantidade e não a qualidade. Pensando no lucro ao invés da prestação de serviço com excelência.

Pode ser que ao final do dia de hoje, 12 de junho, decidamos entrar em greve à partir da meia-noite.. Seremos, como sempre, atacados pela grande mídia e pelos políticos como radicais (ou coisas piores) mas apenas queremos manter os direitos que nós e nossos colegas lutaram e lutam desde os anos 70. 


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Pedro Micussi