Fardado e calado: Mauro Cid não responde a questionamentos da CPMI
Ex-ajudante de ordens evocou direito de não produzir provas contra si. Parlamentares aprovam quebra de sigilo
Foto: Lula Lopes/Agência Brasil
Ao que tudo indica, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), sairá de seu depoimento na CPMI do 8 de Janeiro sem dizer palavra sobre o seu envolvimento e de seu ex-chefe na tentativa de golpe de Estado. Na sessão iniciada na manhã desta terça-feira (11), no Congresso Nacional, ele evocou o direito de permanecer, concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para que não fosse obrigado a produzir provas contra si mesmo.
Cid – que chegou fardado e escoltado pela Polícia do Exército – apresentou sua justificativa pelo silêncio em um discurso de cerca de oito minutos no qual falou sobre sua trajetória nas Forças Armadas, na Ajudância de Ordens do governo Bolsonaro e as investigações das quais é alvo.
“Por todo o exposto e sem qualquer intenção de desrespeitar vossas excelências e os trabalhos conduzidos por essa CPMI, considerando a minha inequívoca condição de investigado, por orientação da minha defesa e com base na ordem no habeas corpus 229.323, concedido em meu favor pelo STF, farei uso ao meu direito constitucional ao silêncio”, disse.
Após essa declaração, ele se negou a responder aos questionamentos dos parlamentares. Contudo, no entendimento da deputada federal Fernanda Melchionna, há uma mensagem não verbal flagrante na figura de Cid hoje: “o envolvimento das Forças Armadas na tentativa de golpe ao chegar fardado e escoltado pela Polícia do Exército para depor na CPI dos Atos Golpistas”.
“É preciso investigar e punir todos os militares envolvidos, até o alto escalão.”, comentou a parlamentar em suas redes sociais.
Encrencado
O militar foi preso em maio após a descoberta de sua participação em um esquema de fraude nas carteiras de vacinação do ex-presidente, sua filha e pessoas da sua própria família. A Polícia Federal descobriu ainda, por meio de escrutínio em seu celular, uma minuta para justificar um golpe de Estado, que previa a declaração de um estado de sítio no Brasil. O aparelho ainda continha áudios de teor golpista com outros militares.
Outras investigações da qual Cid é alvo dizem respeito a suspeita de uso de dinheiro público para custear despesas da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, e na tentativa de reaver jóias milionárias dadas pelo governo saudita para o acervo particular do hoje inelegível – algo ilegal e que pode ser equiparado a roubo.
Quebra de sigilo
Antes mesmo do depoimento frustrado de Mauro Cid, a CPMI aprovou requerimentos para a quebra de sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático do militar, além do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal PRF) Silvinei Vasques e do coronel Jean Lawand.
Vasques é réu por improbidade administrativa por usar o cargo público para fazer campanha eleitoral para Bolsonaro; Lawand é autor de mensagens golpistas encontradas no celular de Cid pela PF. Também foram aprovadas a quebra de sigilos de George Washington de Oliveira Sousa, acusado de planejar um atentado a bomba no aeroporto de Brasília, em dezembro passado.