Qual é a situação no Irã?
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Qual é a situação no Irã?

Sobre o cenário político do país após a recente grande onda de mobilização das mulheres iranianas

Behrouz Farahany 10 jul 2023, 14:00

Via International Viewpoint

Com o benefício da retrospectiva, é mais fácil tirar algumas lições do que aconteceu no Irã desde setembro do ano passado.

De setembro a janeiro, ocorreram manifestações diárias nas ruas de todo o país. Esse não foi um evento repentino que surgiu do nada. As experiências das revoltas de 2017 e 2019 estavam lá e foram usadas pelos jovens envolvidos nessa luta.

O caráter feminino desse levante o diferencia de todos os outros. A presença ativa das mulheres é inegável. Sua coragem diante das forças de repressão deslumbrou o mundo inteiro e provocou uma onda de solidariedade dos quatro cantos do planeta. Ao mesmo tempo, a presença de mulheres sem véu nos espaços públicos das cidades deu ao movimento geral de protesto uma dimensão sem precedentes de desobediência civil.

A participação de estudantes é uma reminiscência de seu papel nas revoltas de 2017 e 2019. Mas a escala do envolvimento maciço de estudantes excedeu em muito o ativismo deles em movimentos anteriores. A dispersão geográfica das universidades fez com que sua participação ampliasse o escopo dos protestos. Ao mesmo tempo, deu um impulso considerável às demandas do movimento, graças à heróica história moderna do movimento estudantil, que tem sido a vanguarda dos movimentos pela democracia e pelo progresso social nos últimos 70 anos.

Todas as classes sociais, com exceção da nova burguesia capitalista-religiosa, estiveram presentes nesse movimento, com predominância da classe média baixa, bem como de jovens trabalhadores em empregos precários, desempregados, pequenos comerciantes, etc. As greves ocorreram em todos os setores da sociedade. As greves ocorreram em lojas e shopping centers, especialmente no Curdistão, na província de Guilan, no norte do país, em Teerã e em algumas outras grandes cidades.

Ocorreram greves de solidariedade, inclusive no Bazaar de Teerã, a base histórica do regime islâmico. Isso também é novo e é uma característica distintiva do movimento Mulheres, Vida e Liberdade.

Grupos sociais como médicos e advogados, que não estavam envolvidos nos protestos de 2017 e 2019, estavam presentes, à sua maneira, nesse movimento. Esse fato inédito mostra que o caráter de “todos juntos” da revolta foi muito mais amplo do que no passado.

O país inteiro estava em turbulência: pessoas em todas as províncias, de norte a sul e de leste a oeste, cidades grandes e pequenas, no centro do país e nas regiões periféricas.

Minorias nacionais, como curdos, azeris, lors e baluchis, não só estavam presentes, mas também se solidarizavam com todos os manifestantes, frustrando as acusações de “separatismo” de seus oponentes. Mulheres, curdos e estudantes foram os três principais pilares do movimento.

A solidariedade da diáspora iraniana com a atual revolta é particularmente notável. A manifestação em Berlim, em dezembro passado, que reuniu mais de cem mil iranianos de toda a Europa, não teve precedentes na história da diáspora iraniana.

Mas houve uma grande ausência nesse movimento: a greve política dos trabalhadores como uma classe, não como cidadãos que participam de protestos de rua. O Irã é um país dominado por relações capitalistas de produção. Os assalariados urbanos, em toda a sua diversidade, constituem a maioria da população. Nada radical ou profundo acontecerá no Irã sem a participação da classe trabalhadora.

O sucesso das manifestações urbanas e estudantis exige que elas sejam acompanhadas de greves de trabalhadores, conforme demonstrado pela revolução antimonárquica de 1978-1979. Infelizmente, esse último confronto entre o povo iraniano e o regime atual não conseguiu compensar essa falha.

O ponto de virada no início de 2023

Ele foi marcado pelo fim das grandes manifestações e pela publicação, em 15 de fevereiro, de uma carta de 20 sindicatos e associações (“The Statement of Minimum Demands of Independent Iranian Unions and Civil Society Organizations”). Essa carta definiu as demandas mínimas do movimento social, combinando demandas socioeconômicas, políticas e de justiça social, que eram inatingíveis dentro da estrutura da República Islâmica,

Essa carta foi um ponto de virada. Ela atesta a maturidade dos líderes progressistas dos movimentos sociais no Irã. Ela poderia fornecer uma boa base para a próxima “tempestade” política e social.

Desde que o regime conseguiu acabar com as manifestações diárias em larga escala, as greves e as ações industriais dos trabalhadores têm aumentado. Funcionários, aposentados e professores apresentaram suas próprias demandas.

Há uma lacuna entre os movimentos com objetivos políticos e aqueles que são fundamentalmente movimentos de protesto. Enquanto essa lacuna existir, o sucesso de um levante contra o regime dos aiatolás estará comprometido, e é nesse assunto que se concentram as animadas discussões que estão ocorrendo atualmente entre os ativistas dos movimentos sociais iranianos.


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Camila Souza