Anderson Torres depõe na CPI dos Atos Golpistas da CLDF
Ex-ministro de Bolsonaro respondeu a distritais sobre envolvimento na tentativa de golpe de Estado
Foto: Eurico Eduardo (estagiário) /Agência CLDF
O ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, foi inquirido na CPI dos Atos Antidemocráticos da CLDF na quinta-feira (10). Torres chegou a ser preso acusado de omissão no dia 8 de janeiro e agora, mesmo fora da prisão, segue com tornozeleira eletrônica. Ele foi convocado anteriormente diversas vezes para a CPI, mas não havia comparecido até então.
Fábio Felix iniciou sua fala ressaltando a importância da oitiva de hoje, tendo em vista todo o cenário da tentativa de golpe que se criou desde os ataques ao sistema eleitoral, os acampamentos no QG do Exército, até o dia da depredação das sedes dos Três Poderes:
“A gente está tratando de uma questão gravíssima, de um ex-presidente da República que de forma recorrente atacava as urnas eletrônicas. Não estamos tratando de um evento pontual, mas sim da utilização do estado brasileiro contra a democracia”.
Em seguida, Fábio questionou Torres sobre a live em que ele participou, promovida por Bolsonaro, com intuito de provar fraude nas urnas eletrônicas. O depoente justificou que participou apenas dos cinco minutos finais da transmissão, mas que acredita na confiabilidade das urnas. O parlamentar rebateu que Torres foi incluído no inquérito das Fake News, do STF, exatamente por essa participação na live.
Fábio Felix perguntou também sobre a iniciativa de Anderson Torres, quando era ministro da Justiça, de enviar um ofício ao TSE sugerindo a possibilidade da Polícia Federal fiscalizar as urnas, fazendo uso de programas próprios. Anderson negou que tenha sido ordem de Bolsonaro e frisou que sua participação no governo anterior era “unicamente técnica”, afirmação que foi questionada por Fábio Felix.
“Obviamente todo mundo tem uma perspectiva técnica, mas o senhor decidiu participar de um projeto político e quando o senhor faz isso, além de técnico é parte desse projeto. Então, não dá pra dissociar uma coisa da outra e isso tem que ficar bem claro. O senhor se permitiu participar de uma live que de técnica não tinha nada, era um ataque deliberado às urnas eletrônicas e à democracia brasileira”, enfatizou o deputado.
Operações no Nordeste no 2º turno
Marília Ferreira de Alencar trabalhou com Anderson Torres no Ministério da Justiça e afirmou, em depoimento à CPI da CLDF, que a ordem para mapear as intenções de voto nos municípios do Nordeste foi do ex-ministro de Bolsonaro.
“O senhor se encontrou com Marília, com o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques ou com o ex-diretor de inteligência da PRF no dia 19 de outubro? Porque o relatório da Polícia Federal que embasou a ordem de prisão do Silvinei mostra mensagens no celular indicando que eles reuniram com o senhor nessa data”, indagou Fábio Felix.
Anderson primeiro negou; depois disse que não se reuniu com os três ao mesmo tempo e, em seguida, alegou não se recordar devido à “agenda gigante” que tinha como ministro.
“Houve uma tentativa clara de tentar atrapalhar o direito ao voto de um grupo do eleitorado brasileiro”, destacou Fábio e Anderson novamente se eximiu da responsabilidade pelas operações da PRF que ocorreram no segundo turno no Nordeste.
Sobre os atos do dia 8 de janeiro, Torres seguiu a mesma linha de respostas que já havia dado à CPI do Congresso Nacional. Reafirmou não ter recebido relatórios de inteligência sobre o risco da manifestação e que se o Plano de Ações Integradas tivesse sido cumprido, as invasões e depredações não teriam ocorrido.
Com o PAI do dia 8/1 em mãos, e com protocolos operacionais de diferentes manifestações, Fábio chamou atenção para o fato de todos trazerem a classificação de risco, menos o do dia dos atos golpistas.
“Eu desconheço porque foi feito desta forma, eu não o elaborei, eu só corroborei”, disse Torres, que já havia confirmado ter participado da elaboração do Plano de Ações Integradas.
Fábio finalizou dizendo que houve falta de gestão, Anderson Torres era o secretário de segurança pública do Distrito Federal e cabia a ele organizar e demandar as forças de segurança para atuarem no 8 de janeiro.