Audiência pública reforça luta por segurança alimentar de servidores com baixos salários no RS
Audiência Segurança Alimentar

Audiência pública reforça luta por segurança alimentar de servidores com baixos salários no RS

Cerca de 11 mil trabalhadores do governo do Estado vivem com um salário-base abaixo do salário mínimo e auxílio alimentação de R$ 100

Mandato Luciana Genro 12 set 2023, 13:01

Foto: Mariana Czamanski/ Agência ALRS

Servidores do quadro-geral do governo do Rio Grande do Sul vêm denunciando a grave situação de fome pela qual passam. A Associação dos Técnico-Administrativos (Astap) chegou a realizar vaquinhas para que a categoria possa se alimentar, e está na luta pela implantação de um vale-rancho para complementar os baixos salários. A situação foi exposta em audiência pública proposta pela deputada Luciana Genro (PSOL) e pelo deputado Jeferson Fernandes (PT) na Assembleia Legislativa, em conjunto pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos e a Comissão de Segurança e Serviços Públicos.

A ausência de representantes do governo do estado foi criticada pelos presentes. 

“Evidentemente, há uma situação particular no Estado devido às enchentes. Estamos mobilizados e solidários aos trabalhadores e ao povo das cidades atingidas. No entanto, entendo que não justifica a ausência do governo aqui, pois o governo é composto por várias secretarias e departamentos”, apontou Luciana Genro. 

São 11 mil trabalhadores que vivem com um salário-base abaixo do salário mínimo. A audiência contou com a presença de servidores das diversas categorias de nível médio, técnico e fundamental, que compõem o quadro-geral. Dentre eles, estão funcionários que realizam trabalhos administrativos ligados a diversas secretarias, atuando em escolas, hospitais, delegacias e até em parques, os quais denunciaram a situação desesperadora pela qual passam. 

 Thomaz Willian da Silva, presidente da Astap, relatou que a entidade vem realizando vaquinhas.

“Já deve fazer mais de meio ano que a Astap faz doações de cestas básicas, e não raro o agradecimento vem no sentido de ‘ se não fosse isso, eu não teria o que comer’”, relatou Thomaz. 

Segundo ele, a associação estudou a legislação e as contas públicas e propõe a implantação de um vale-rancho de R$ 734 mensais para as categorias que estão abaixo do salário mínimo, medida que não teria impedimentos pelo regime de recuperação fiscal e teria um impacto de cerca de R$ 8 milhões aos cofres públicos.

Cristina Veríssimo, do Movimento Voz dos Servidores de Nível Fundamental e Médio da Secretaria da Saúde, reforçou o pleito: 

“Precisamos de uma solução urgente, temos funcionários que não têm mais como alimentar a sua família”. 

Rogério Viana, vice-presidente do Sindsepe, apontou que a medida do vale-rancho não teria grande impacto nas contas do Estado. 

“As pessoas têm em casa uma panela vazia. Nós temos que mudar a realidade do servidor e da servidora”, disse.

Alternativas do Legislativo

Além dos baixos salários, Alexandre Gomes, da Associação dos Guarda Parques, pontuou que o vale-alimentação recebido fica na faixa dos R$ 100. 

“Os nossos salários são baixíssimos, paupérrimos, e ainda temos muita dificuldade de nos alimentarmos. Não estamos pedindo nada demais”, afirmou. Os demais sindicatos e associações apoiaram a ideia trazida pela Astap de vale-rancho, pedindo celeridade na implementação da medida. 

O deputado Jeferson Fernandes lembrou que o Estado promoveu o desmonte na carreira dos servidores e que não há reposição das remunerações desde 2014. O deputado Airton Lima (Podemos) se fez presente e se comprometeu a levar as reivindicações ao governo. Enquanto projeto de lei, o vale-rancho precisa ser proposto pelo Executivo, mas Luciana Genro encaminhou a possibilidade dos deputados elaborarem um projeto autorizativo. 

“Temos a possibilidade de enviar esse projeto de forma autorizativa para buscar apoio de outros parlamentares. Não seria impositivo, porque isso não poderíamos fazer, pois os parlamentares não podem criar despesa para o Executivo. Mas podemos autorizar, é um efeito político de criar movimento mais forte”, sugeriu. 

A Astap manifestou acordo com a proposta, que será encaminhada pelos deputados nos próximos dias, buscando apoio também da base do governo.


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Pedro Micussi