Lula sacrifica ministra Ana Moser para o Centrão
André Fufuca assume Ministério dos Esportes com foco em apostas e jogos eletrônicos
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Uma das promessas de Lula para seu terceiro mandato como presidente era usar o esporte como ferramenta de inclusão social. Escalou a ex-jogadora de vôlei Ana Moser para executar esse papel, à frente do reinventado Ministério dos Esportes. A atleta organizou a pasta, encheu o caixa, mas não chegou a colocar em prática o plano para o qual foi convocada. Perdeu o posto em troca de votos do Centrão no Congresso.
Agora quem vai comandar a pasta é o deputado federal André Fufuca (PP-MA), um bolsonarista convicto e expoente de um partido conhecido pelo apetite por verbas – algo que o ministério terá de sobra caso planos envolvendo apostas, loterias e cassinos se viabilizarem na Casa comandada por Artur Lira (PP-AL).
Por sua “fidelidade” ao governo, o PP exigiu poder criar o Fundo Nacional do Esporte, que receberia verbas de emendas parlamentares, além de novas quatro secretarias. Uma delas, sobre jogos eletrônicos; outra sobre apostas esportivas, para “regular e acompanhar a tributação das casas de apostas”.
‘Fio do bigode’
Ídolos do esporte protestaram contra a troca e cobraram de Lula a promessa feita – unindo-se aos que reclamam ao presidente seu anterior compromisso com a diversidade (nos ministérios e no STF). Em entrevista à CNN nesta quinta-feira (7), Ana Moser disse, sem esconder a decepção, de que sua saída representa um “abandono do esporte”.
“Foi uma decisão política, pena para o esporte. É pena para o esporte mesmo, é o abandono do esporte, mas faz parte da política”, disse Moser.
Lula não respondeu aos críticos. Até porque, trabalhou nas últimas semanas para acomodar aliados de Lira (e de Bolsonaro) na Esplanada dos Ministérios. O aliado Márcio França (PSB), aceitou deixar a pasta de Portos e Aeroportos e ir para o novíssimo Ministério do Empreendedorismo – considerado pequeno demais (ou pobre demais) para o guloso centrão. Em seu lugar entra Silvio Costa Filho (Republicanos-PE).
Antigamente, muitos negócios eram fechados tendo como garantia um fio do bigode. Em uma nação de analfabetos, valia tanto quanto o lacre, a assinatura e a rubrica na honestidade das intenções. Por justiça, é preciso dizer que o jogo político não é assim tão simples – e que talvez, talvez, Lula tenha calculado mal o poder de Lira e o apetite do Centrão. E o resultado disso é que sua necessidade de governar com esses “aliados” seja trocar palavra dada e certos princípios para saciá-los.