Sabesp se une com metrô e CPTM em greve conjunta
Sob ameaça de privatização, as três categorias paralisam atividades na terça-feira (3)
Foto: Sintaema/Divulgação
São Paulo testemunhará uma mobilização inédita na próxima terça-feira (3). Neste dia, trabalhadores da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), do Metrô e da CPTM farão uma greve conjunta. O objetivo é denunciar o projeto privatista do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que pretende entregar os serviços essenciais para a iniciativa privada. Um ato público também está previsto para a data, em frente ao prédio da Sabesp, na Avenida Santos Dumont, a partir das 15h.
A Sabesp é considerada a maior empresa da América Latina no setor de saneamento ambiental, tendo sido eleita a melhor empresa de saneamento das Américas pela Associação Interamericana de Engenharia Sanitária e Ambiental. Ainda assim, as sucessivas gestões estaduais insistem em abrir mão da companhia.
O plano entreguista nasceu em ninho tucano, ainda na gestão Mario Covas, dentro de um programa chamado de parceiro estratégico – na prática, uma privatização disfarçada de parceria. O projeto acabou derrotado pela mobilização dos trabalhadores e do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Porém, a ameaça de venda rondou a Sabesp por praticamente todo o período que o PSDB governou o Estado. Só no governo Covas, pelo menos duas dezenas de empresas públicas e rodovias foram privatizadas, o que injetou no DNA do tucanato o desejo de liquidar as estatais – plano executado com sucesso por João Doria e Rodrigo Garcia nos anos seguintes.
Sem justificativas
Em 2023, o ex-ministro de Bolsonaro desembarcou no Palácio dos Bandeirantes com um caminho todo pavimentado para passar nos cobres as jóias da coroa: Sabesp, Metrô e CPTM. E o plano segue acelerado, com a venda de linhas de trem e metrô; mas não só isso: o governo manipula a opinião pública ao fomentar o sucateamento das operações e a precarização das condições do trabalho, enquanto prepara o cofre para receber a próxima paga. A Sabesp está no alvo e não há justificativa plausível além de ganância e especulação.
“Não existem motivos para vender a Sabesp. É uma empresa enxuta, uma empresa altamente lucrativa, uma empresa que tem um quadro técnico de excelência. O que ele [Tarcísio] alega para privatizar a Sabesp é querer baratear a conta da água. Mas isso não é verdadeiro. Todos nós sabemos que quando se privatiza um serviço, uma empresa, ocorre o contrário. Aumenta-se o valor de maneira exorbitante”, reclama o diretor de Assuntos Jurídicos do Sintaema, Abdon da Costa Sousa.
Outro motivo alegado para a privatização seria uma suposta universalização do saneamento, algo que, segundo Abdon, não procede.
“A Sabesp atua em 375 municípios. Em 310, já está universalizado o serviço, o abastecimento da água, a coleta e o tratamento de esgoto, então essa justificativa que o governo utiliza é uma falácia, não é isso. Ele quer privatizar, ele quer entregar o patrimônio do povo paulista para o capital especulativo”, afirma.
A venda da Sabesp traria uma enxurrada de prejuízos para os mais pobres e para as pequenas cidades paulistas. A estatal adota políticas públicas que beneficiam essa camada da população – como a tarifa social e da tarifa vulnerável, que garantem serviços mais baratos para usuários registrados no CadÚnico, desempregados ou moradores de habitações sociais – e que podem ser extintas. Também fica sob ameaça o subsídio cruzado, política na qual cidades mais ricas se responsabilizam por parte dos gastos de municípios com menor arrecadação. Como se não bastasse, a privatização deve comprometer a qualidade do serviço, reduzir investimentos nas redes de água e esgoto e promover a demissão de milhares de servidores da companhia. Apesar da ameaça, a categoria está mobilizada para impedir que esse estrago se realize.
“Constantemente o sindicato está na base, dialogando com os trabalhadores, conversando, falando da situação da privatização, falando da situação da terceirização, defendendo concurso público. Então, há uma disposição de luta, sim, dos trabalhadores. E agora vamos buscar apoio fora, relatando toda essa problemática, toda essa situação, a intenção do governo de vender a Sabesp para a população. Sem nenhuma dúvida, não vai faltar a luta, disposição do sindicato, da classe trabalhadora, do sabespiano para vencer, como nós vencemos o parecer estratégico lá no final da década de 90”, projeta Abdon.
Luta conjunta
É para fazer reverberar a necessidade de defender a Sabesp, o Metro e a CPTM, que trabalhadores e sindicatos dessas categorias se organizaram para fazer um trabalho conjunto e unificado. Isso só foi possível pelo entendimento de que todos travam a mesma batalha.
“Todas as categorias tiveram a clareza, a consciência de que o caso da Sabesp não se trata um problema eminentemente dos trabalhadores da Sabesp, assim como os metroviários entenderam que a privatização do metrô não se trata apenas de um problema dos metroviários, bem como a CPTM. É um problema de todos. E agora é chamar à unidade não somente a unidade dessas três categorias, mas como publicizar essa situação perante a população, perante os movimentos sociais, perante outros sindicatos, centrais sindicais, povo da periferia, associações de bairros, partidos políticos de esquerda, até mesmo os vereadores, deputados, mesmo sendo da direita, mas que tenham compromisso com a população, com a própria empresa e que defende a Sabesp. A gente está pedindo apoio desses parlamentares. Então, nós achamos que esse movimento da unidade, a gente tem condições de vencer essa batalha. Sabemos que não será fácil, não está sendo fácil de maneira alguma fazer esse embate, mas nós estamos fazendo. O apoio da população, o apoio dos movimentos nos dá mais força, mais garra, mais vontade de lutar”, finaliza Abdon.
As categorias ainda criaram um plebiscito contra a privatização da Sabesp, Metrô e CPTM, que vai até 5 de novembro. Saiba mais sobre essa mobilização clicando neste link.