Sabesp, Metrô e CPTM fazem greve histórica em São Paulo
Tarcísio fala em “motivação política” e demonstra desconhecimento sobre operações de linhas concedidas e estatais privatizadas
Fotos: Sintaema/Divulgação
A capital paulista sente, nesta terça-feira (3), os efeitos da grande mobilização de funcionários da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Desde a meia-noite, as três categorias paralisaram as atividades em protesto contra o plano de privatizações encampado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, José Faggian, participou pela manhã de ato em frente a Sabesp de Pinheiros, onde se reuniram trabalhadores, movimentos sociais, sindicais e parlamentares. Na ocasião, ele celebrou que as reivindicações de sabespianos, metroviários e ferroviários conseguiram “furar a bolha” dos grandes meios de comunicação.
“Conseguimos um espaço na grande mídia que antes não tínhamos”, disse, acrescentando que o movimento não se encerra nesta terça-feira. “A greve de hoje é apenas uma etapa dentro do processo de luta. Temos que dar prosseguimento e continuar unificados até que o projeto como um todo seja derrotado e o povo de São Paulo tenha seus direitos essenciais garantidos pelo Estado”.
Tarcísio mente
O movimento grevista ganhou repercussão nacional, recebendo o apoio de políticos – como a vereadora Luana Alves e a deputada Monica Seixas, do PSOL -, sindicalistas e funcionários do setor público. Trabalhadores e estudantes da Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, engrossaram a mobilização grevista em frente à Sabesp. Em Campinas, alunos e servidores da Unicamp fizeram um protesto contra as privatizações de estatais e a precarização da Educação. A partir das 15h, funcionários da Sabesp, Metrô e CPTM estarão reunidos em grande ato na Sabesp da Ponte Pequena, na Avenida Santos Dumond, 555.
Na contramão dessas manifestações de solidariedade e reconhecimento à relevância dos serviços dessas estatais, o governador Tarcísio de Freitas foi à imprensa para alegar que a motivação da paralisação é “política” e que a greve reforça a decisão de privatizar linhas do Metrô e da CPTM.
“Quais as linhas disponíveis hoje? As linhas 4, 5, 8 e 9, operadas pela iniciativa privada (…) Isso reforça a convicção de que estamos indo na direção certa”, disse Tarcísio.
O prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) também ironizou a greve do Metrô e da CPTM.
“Engraçado que fazem greve contra a privatização, mas aquilo que está privatizado, concessionado, está operando, não está prejudicando o trabalhador e aquelas [linhas] que são diretas, que estão sob poder dos sindicatos, estão em greve, causando esse transtorno aos trabalhadores”, comentou.
O movimento também é alvo de ataques do Judiciário, que determinou 100% de operação do metrô e da CPTM em horários de pico, sob pena de multa diária de R$ 500 mil. O sindicato dos metroviários prometeu recorrer da decisão por considerá-la um “ataque ao direito constitucional de greve”.
‘Via calamidade’
A presidente do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, disse em entrevista à Band que a paralisação só ocorre por decisão de Tarcísio, já que a categoria teria proposto protestar com um dia de catracas livres nos terminais públicos.
“Se ele estivesse preocupado com o trânsito da população, ele toparia esse desafio, preservaria o direito de protesto dos trabalhadores e o transporte para as pessoas se deslocarem”, disse a sindicalista.
Além disso, Camila destacou o desconhecimento do governador sobre as operações das linhas de trem e metrô que já foram privatizadas.
“Há mais de 1 ano e meio, quando a concessão começou, já houve oito descarrilamentos na linha 8, um na linha 9, trens atrasados, trem com porta aberta, 200 dias de velocidade reduzida, pessoas perdendo dias de trabalho, chegando atrasadas”, completou, acrescentando que as linhas foram apelidadas pela população como ”Via Calamidade”, um trocadilho para o nome da concessionária, a Via Mobilidade.
O movimento grevista, além de alertar a comunidade sobre os riscos de precarização e encarecimento dos serviços públicos em caso de concessão, também exige que a população seja consultada sobre o tema por meio de um plebiscito.
As categorias criaram um plebiscito próprio que vai até 5 de novembro. Saiba mais sobre essa mobilização clicando neste link.