Ao nosso dia
Israel Dutra registra a data de aniversário da fundação do MES/PSOL
Numa tarde como hoje, no dia 06 de novembro de 1999, na Casa de Portugal, em Porto Alegre, era realizado o encontro fundacional do Movimento Esquerda Socialista. Com centenas de ativistas, a fundação de uma nova organização animava a vanguarda, rapidamente com potencial de nacionalização e marcando um ponto de inflexão na esquerda brasileira.
Temos a tradição de comemorar as efemérides de datas “redondas”: 10, 20, 30 anos. Esse pequeno texto busca apenas não deixar a data passar despercebida.
O ato contou com debates políticos gerais: Roberto Robaina conduzindo a discussão sobre a necessidade de construir uma “esquerda da esquerda” no Rio Grande do Sul de Olívio e da Frente Popular; Neida Oliveira e as dirigentes do CPERS intervieram para apontar a preparação da luta, dias mais tarde aconteceria uma paralisação nacional, no ano seguinte teríamos uma grande greve dos professores estaduais; a delegação internacional de venezuelanos já abria hipóteses de recomposição da esquerda, a partir da radicalização do então recém-eleito, Hugo Chavez. Interviram lideranças sindicais e da juventude, além da defesa necessária do mandato de Luciana Genro, que vinha sendo ameaçado pela direção do PT por conta da sua defesa dos direitos dos educadores. Esse foi o quadro geral.
24 anos depois, a militância do MES/PSOL tem mantido à fidelidade às lutas do seu tempo, com destaque para os parlamentares e quadros jogados na solidariedade à luta palestina. Os atos que ocorreram no sábado, dia 04 de novembro, em várias capitais brasileiras, foram uma demonstração de empenho que o MES está dispondo para que triunfe a luta do povo palestino. No nosso DNA sempre esteve o internacionalismo e o firme propósito de que apenas a luta muda a vida.
Em 2019, fizemos um ato que celebrou os 20 anos da organização. A atividade, na Quadra dos Bancários em São Paulo, apontou novos desafios e orientou a linha para as batalhas dos últimos anos.
Rememorando e homenageando os que são e foram parte ativa dessa construção, gostaria de destacar dois elementos que julgo importantes e constituintes para a data. Vários camaradas já não estão mais aqui, outros optaram por caminhos diferentes, contudo, a nossa “longevidade” política em tempos de fragmentação e confusão política é fruto do esforço coletivo dos que construíram o MES. Merecem nossa referência.
O primeiro é a experiência que motivou a conformação do MES, a combinação de uma fórmula teórica e política a serviço do reagrupamento dos revolucionários com um trabalho de base exemplar, enraizado na categoria dos professores do estado do Rio Grande do Sul.
A fusão da antiga CST – corrente da qual o MES se origina – com o MSTB (Movimento Sindical de Transformação pela Base) foi uma experiência singular, riquíssima.
A construção do MES foi calcada na atualização das nossas teses acerca da orientação: superar o esquema que perdurou por muitos anos da “construção linear”, a partir de um núcleo original e homogêneo. A realização de uma fusão originária seria acompanhada, nos anos posteriores, de novas fusões e incorporações, com destaque para a elaboração que resultou na fundação do PSOL, em 2004.
Essas teses encontraram corpo num dedicado e genuíno trabalho de base, da qual o MSTB era a expressão dessas contradições, com raízes ligadas na cultura política do professorado, com relações com o MST e com a esquerda petista. Tais relações entraram em contradição com a linha da secretária de educação à época, Lucia Camini, ex-presidente do CPERS.
O segundo elemento é nossa capacidade/necessidade de atualizar nossa concepção e orientação para levar em conta as circunstâncias reais da luta concreta.
Um exame concreto da realidade nos exige atualizar questões centrais, sobre as quais a nossa VIII Conferência que está convocada deve se debruçar. Entre os vários temas, a necessidade de atualizar a visão acerca do PSOL como ferramenta de luta. As incógnitas e a questão de uma nova localização que mantenha a disputa dos rumos do PSOL, mas também coloque ênfase na necessidade de fortalecer o MES e o campo de forças à esquerda do PSOL como polo crítico e independente. Não por uma deriva ultimatista, mas porque a realidade exige isso quando vemos o PSOL muito assimilado aos governos, com uma orientação demasiado eleitoral e com um lugar insuficiente, por exemplo, na luta da questão palestina, tema conhecido e reconhecido pela vanguarda militante.
São essas determinações e essas escolhas que fazem do MES uma ferramenta necessária para a construção de um projeto revolucionário internacionalista e com vocação de disputa de amplas massas.
Brindamos nossa história. Mas fazemos da tradição um ponto de apoio moral e político para as batalhas que virão. O melhor e mais importante está no porvir.