Argentina: uma história que se repete?
Parlamentares do PSOL comentam a desastrosa vitória de Javier Milei
Foto: Reprodução/Twitter
O candidato de ultradireita Javier Milei foi eleito futuro presidente da Argentina no último domingo. Candidato da oposição, ele obteve 55,7% dos votos, contra 44,3% de Sergio Massa, ministro da Economia do atual governo.
Ao votar no início da tarde, Milei disse que “tudo o que tinha de ser feito já foi feito” e a hora de as pessoas falarem tinha chegado, “apesar da campanha do medo”. O candidato da coalizão La Libertad Avanza disse que o momento era de esperança, para impedir o que chamou de “continuidade da decadência”. Perto das 22h, já eleito, fez o discurso da vitória em um hotel no Centro de Buenos Aires.
“Hoje começa a reconstrução da Argentina”, declarou Milei. “Hoje começa o fim da decadência argentina. Hoje começamos a virar a página. Hoje termina o modelo do Estado onipresente e empobrecedor. A Argentina tem futuro e é liberal. Abraçaremos o modelo da liberdade para ser uma potência mundial”, disse em discurso transmitido em rede nacional.
Resta saber como o economista vai transformar as bravatas em realidade em um país onde a inflação chegou a 142,7% nos últimos 12 meses. Comparado a políticos como o ex-presidente norte-americano Donald Trump e o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL), o argentino compartilha com ambos a verborragia e um apaixonado séquito de admiradores. Sabe-se lá como, conquistou corações jovens com ideias como a comercialização de órgãos e a livre venda de armas.
Autodeclarado anarcocapitalista, fez promessas ambiciosas, como dolarizar a economia e extinguir o Banco Central para acabar com a inflação. Havia prometido também privatizar a saúde e as escolas públicas, mas acabou voltando atrás após sair como segundo colocado no primeiro turno das eleições.
Tal qual Jair Bolsonaro (PL), Milei se tornou famoso como comentarista de TV e entrou para a corrida presidencial se apresentando como um candidato antissistema. Figura excêntrica, é amante de cães e admitiu manter conversas com um pet que morreu anos atrás, e de quem diz ter feito vários clones. Durante o segundo turno, chamou o papa Francisco de comunista, e prometeu cortar relações econômicas com o Brasil, seu principal parceiro comercial.
Em aparente ato de descontentamento nas gestões “à esquerda”, a maioria dos argentinos foi às urnas em 2023 disposta a votar em candidatos de outras correntes políticas. Foi o que favoreceu Milei, que de segundo colocado no primeiro turno, abriu 10 pontos de vantagem contra o adversário no pleito de ontem. É uma conta que pode custar caro para o país já combalido que hoje flerta com o fascismo. Vereador pelo PSOL em Porto Alegre, Roberto Robaina qualificou a vitória de Milei como “uma escolha trágica”.
“O governo peronista foi incapaz de vencer. Sua natureza de submissão aos planos do FMI o tornou odiado por milhões. Milei surgiu dessa experiência e da insuficiência da esquerda de se apresentar como alternativa. As fortes lutas que se produzirão nos próximos meses e anos espero que possam forjar uma nova direção. As lutas que travamos contra Bolsonaro serão pequenas comparadas com as que veremos no vizinho”, projeta Robaina.
Outras considerações
A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) apontou a reprise do modus operandi do fascismo entre os argentinos.
“Já vimos esse filme: da extrema direita que galvaniza um setor do movimento de massas diante da crise econômica com um discurso demagógico e uma agenda antipovo. Lamento o resultado, mas tenho muita convicção na capacidade de resistência do movimento operário, das mulheres e do povo argentino. Não passarão! Haverá resistência e forte. Força, hermanos!”, disse.
A deputada estadual Monica Seixas (PSOL-SP) se solidarizou com o povo argentino..
“Nós, brasileiros, já conhecemos essa história. Nos solidarizamos com os hermanos e confiamos na força da luta. O povo argentino derrotará o totalitarismo nas ruas”, afirmou.
O deputado estadual Prof. Josemar (PSOL-RJ) ainda lembrou da necessidade de nós, brasileiros, lutarmos sem cessar contra a extrema direita.
“A trágica vitória de Milei nas eleições da Argentina revela que o fascismo não está morto. Aqui no Brasil, é preciso derrotá-los de uma vez por todas. É preciso prender os golpistas de 8 de janeiro, anular todas medidas de retirada de direitos realizadas por Bolsonaro”, recomendou.