2023 de greves: a resistência incansável contra a obsessão privatista foi a marca da luta de classes em São Paulo
Recado dos metroviários do MES-PSOL sobre a guerra contra as privatizações que se iniciou no estado de São Paulo em 2023 e as perspectivas para a continuidade da luta política em 2024
O ano de 2023 impôs um desafio angustiante aos trabalhadores e trabalhadoras de São Paulo: constituir uma frente política e social para frear a ambição do Governo Tarcísio em privatizar as empresas públicas do estado. Ainda que não estivesse claro que as privatizações estariam no centro da agenda política do recém eleito governo de extrema-direita, uma vez que sua campanha não se apoiou diretamente neste eixo, desde a posse são diversas declarações contra a permanência das empresas públicas sob controle estatal.
Em seu programa de governo, Tarcísio de Freitas não mencionava diretamente a privatização de empresas como Sabesp, CPTM e Metrô. As únicas menções reais sobre concessões se referiam aos aeroportos de Congonhas, do Campo de Marte e dos Portos de Santos e São Sebastião. Além de citações genéricas sobre parcerias público-privadas.
Mas as ameaças ao transporte público sobre trilhos e ao serviço de saneamento se dão desde janeiro de 2023 – o primeiro mês de mandato. Em entrevista para o SP2, da Rede Globo, o governador declarou que pretendia privatizar linhas da CPTM e do Metrô. (Fonte 1)
Após isso, Tarcísio buscou firmar sua imagem como agente privatizador com a famigerada cena dele quase quebrando o martelo da B3, numa performance caricata durante o leilão do trecho norte do Rodoanel em abril de 2023. A partir do segundo trimestre, Tarcísio intensifica o discurso sobre as privatizações e coloca a Sabesp no radar para “abrir” a rodada de venda das empresas públicas. Com diversos encontros com prefeitos e parlamentares para costurar politicamente essa agenda. (Fonte 2)
O CAOS DAS PRIVATIZAÇÕES NA PRÁTICA: AS LINHAS 8 E 9 DA VIA (I)MOBILIDADE
Panes, falhas, descarrilamentos e colisões. Se montarmos uma retrospectiva das linhas de trem privatizadas, essas seriam as palavras-chave que definem o sufoco que os passageiros das linhas 8 e 9 – operadas pela Via Mobilidade. Entre 2022 e 2023 a quantidade de ocorrências operacionais se transformou na representação do caos do transporte sobre trilhos. Um verdadeiro portfólio do que não fazer na gestão de uma malha ferroviária, por parte daquela que ficou conhecida como Via (I)Mobilidade – empresa que pertence ao grupo CCR.
Os números são avassaladores. Em 2022 o número de falhas das duas linhas privatizadas (8 e 9) somadas chegou à 132, enquanto na CPTM com cinco linhas (7,10,11,12 e 13) foram registradas 75 falhas. Em 2023 as duas linhas privatizadas somaram 95 falhas, enquanto as cinco estatais registraram 48. (Fonte 3)
Utilizadas como vitrine contra as justas greves unificadas do transporte público, as linhas privatizadas apresentaram falhas elétricas graves em ambos os dias de paralisação! Esse descaso da Via Mobilidade se soma aos escandalosos episódios de apagão na cidade de São Paulo e na região metropolitana que ocorreram no segundo semestre de 2023. Assim como as linhas 8 e 9, a gestão da ENEL é a cara da privatização no estado.
AS GREVES UNIFICADAS AMPLIFICARAM O DEBATE E DEMONSTRARAM A HIPOCRISIA DO GOVERNO
Na medida em que não só o discurso privatista do governo Tarcísio se intensificou, mas também sua articulação política começou a se armar para elaborar um cronograma concreto e iniciar esse processo, ficou evidente que só a luta parlamentar e as ações institucionais não seriam suficientes para barrar essa ofensiva contra as empresas públicas. Era necessário que a classe trabalhadora e os movimentos sociais entrassem em campo.
A partir do momento em que as investidas de Tarcísio tomaram forma, o governo do estado definiu que iniciaria a venda do patrimônio público pela Sabesp. A maior empresa de saneamento básico da América Latina. A partir daí, e dos sucessivos planos de desmonte dos serviços do Metrô e da CPTM através das terceirizações, os sindicatos representantes das três empresas constituíram um comitê contra as privatizações para tirar ações unificadas de mobilização.
Além de unificar a atuação dos sindicatos, tivemos a construção de duas greves gerais muito poderosas nos dias 03/10 e 28/11. Greves com adesões acima dos 90% dos trabalhadores do Metrô. Na primeira tivemos um feito histórico: pela primeira vez em décadas não foi possível implementar o plano de contingência para rodar os trens durante a paralisação! A adesão entre supervisores e o CCO (operadores de console de trens) foi majoritária como nunca visto antes.
Entre as duas greves unificadas, destaca-se o papel cumprido pelo vitorioso plebiscito popular contra as privatizações. Iniciativa tirada no comitê e construída em todo o estado de São Paulo pelos sindicatos, movimentos sociais, centrais sindicais, coletivos populares e diversos partidos políticos. Com 97% contrários à privatização do Metrô, CPTM e Sabesp e quase um milhão de votos, o plebiscito se firmou como importante instrumento de diálogo com a população usuária destes serviços. Todas essas iniciativas contribuíram para pautar o tema e fazer a disputa na sociedade.
EM 2024 A LUTA CONTINUA E TEM QUE SER MAIOR!
Após a enorme demonstração de força da categoria metroviária com as greves unificadas e o envolvimento de setores da operação que até então não tinham tradição de participar das greves, a direção do Metrô organizou uma verdadeira campanha de assédios para nos retaliar. Tivemos demissões arbitrárias, descontos salariais, advertências escritas entregues à domicílio e ataques ao já defasado plano de carreira. A empresa passou a indicar os cargos de supervisão na operação, transformando em cargo comissionado o que até então era cargo de carreira através de concurso público interno.
O plano da direção do Metrô e do governo do estado é acabar com as greves, tendo maior controle sobre a contingência com uma supervisão de operação indicada que não participe das mobilizações. Num ambiente de trabalho marcado pelo assédio e cooptação através de gratificações de função. Esse elemento novo impõe ao ativismo da categoria ainda mais organização e ousadia para armar a resistência contra essas investidas antissindicais – que de fundo servem para criar as condições para a privatização.
Como se tudo isso não bastasse, o Metrô ainda tem dois grandes ataques planejados para a segunda quinzena de janeiro: a terceirização do atendimento nas linhas de bloqueio das estações e a redução dos horários de atendimento nas bilheterias de algumas estações.
O primeiro diz respeito à empresa terceirizada que passará a atender os passageiros nas catracas, função que hoje é desempenhada pelos metroviários da estação (OTM1, OTM2 e OTM3). O plano do Metrô é, a médio prazo, extinguir o cargo de OTM1 com empresas terceirizadas assumindo essas atribuições. O segundo se refere à redução do horário em que passageiros podem adquirir bilhetes na bilheterias em estações como Brás, Santa Cecília, Santa Cruz, Clínicas, Sumaré, Tiradentes e Carandiru. O novo horário de funcionamento será das 06h às 22h, uma medida que irá impactar milhares de passageiros.
Em resumo, o ano de 2024 já começa com enfrentamento! O governo Tarcísio ainda decidiu aumentar o preço das tarifas para R$5,00. Um desrespeito com os passageiros que terão menos direito à cidade e aos equipamentos públicos. Aumentar a tarifa tem tudo a ver com a privatização do transporte público. Tarcísio quer garantir a todo custo o lucro da CCR e Via (I)Mobilidade enquanto precariza o serviço e diminui o quadro de funcionários nas estações para atender a população. Ao mesmo tempo em que tenta convencer o povo que vender o patrimônio público é a solução.
De nossa parte, garantimos que Tarcísio não vai conseguir colocar São Paulo à venda sem muita luta!
Fontes: