Depois do carnaval: prisão para Bolsonaro e todos os golpistas
Após as novas revelações sobre os planos golpistas do bolsonarismo, é hora de ir as ruas por sua prisão
Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil
Foi se o tempo em que o ano político começava “depois do carnaval”.
O fato é que o ano político é intenso e cruza os meses de verão, com um reconhecimento do caráter político do próprio carnaval. A maior festa popular brasileira é uma expressão da coletividade e da diversidade, uma referência maior na cultura nacional. Foram milhões de pessoas nas ruas, entre blocos, trios e escolas de samba em apresentações que muitas vezes combinaram a festividade com o protesto social.
Vale destacar, por exemplo, o desfile da Vai-Vai em São Paulo, que falou da história do Hip-Hop e da violência policial que marcou (e continua marcando) a realidade do movimento. Isso rendeu, além de uma polêmica, a fúria dos conservadores, chegando ao cúmulo do PL de Bolsonaro pedindo represálias contra a tradicional escola paulistana. Em Belo Horizonte, parte dos blocos de rua mais populares da cidade decidiu se somar no apoio à causa palestina, levando bandeiras e adesivos para as ruas. A cena se repetiu em alguns blocos de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Nas vésperas do carnaval, contudo, um fato relevante incidiu sobre a conjuntura: a Operação da PF que colocou os golpistas na defensiva e a prisão de Bolsonaro na ordem do dia.
Uma inflexão na conjuntura
O fato é que o clima geral está propício à rua e a recente operação da Polícia Federal colocou a prisão de Bolsonaro na ordem do dia. Como escrevemos em editorial recente da Revista Movimento, a operação Tempus Veritas representou uma inflexão na conjuntura. Um ano após a ação da extrema direita em Brasília no 8 de janeiro, reforçamos que a intentona mal-sucedida, além de representar dar uma amostra de até onde querem ir os agentes do bolsonarismo, colocou essa corrente golpista na defensiva entre a opinião pública. Agora, com as novas revelações da PF – amparadas em temas profundos como o da ABIN e na delação de Mauro Cid – se abre ainda mais espaço para exigir punição rigorosa ao ex-presidente e seus asseclas.
Cada vez mais se comprova a articulação golpista, o papel consciente e protagonista de Bolsonaro e a íntima participação de parte da cúpula das Forças Armadas nos planos de tomada do poder. Frente a isso, os setores democráticos não podem aceitar nenhum tipo de anistia aos golpistas, exigindo agora uma ação exemplar que derrote de forma categórica a sanha autoritária da extrema direita.
Os problemas do bolsonarismo não são poucos. Mesmo antes da ação da PF, os inúmeros escândalos de corrupção marcaram todo o governo do genocida, e suas dificuldades de articulação com setores importantes da burguesia levaram a suas primeiras crises e à total rendição do governo ao chamado “Centrão” parlamentar.. Após sua ação negacionista na pandemia e a formação de uma ampla unidade de ação para derrotá-lo, Bolsonaro se movimentou em diversos níveis para se garantir no poder, como o orçamento secreto representando um marco nesse sentido. Porém, as novas revelações mudam de qualidade sua situação porque confirmam as grandes suspeitas a respeito da manipulação e do não reconhecimento do resultado das eleições de 2022.
Para enfrentar esta situação, é preciso entender que o problema concreto está na própria essência do regime político, a começar pelo comando do exército que flertou por inúmeras vezes com as atitudes golpistas. Mesmo no governo atual, o ministério da Defesa é ocupado por José Múcio, escolhido justamente por preservar boas relações com este comando. O artigo 142 da Constituição, reivindicado pelo bolsonarismo como justificativa legal para sua ação, permanece sem ser questionado e mantém aberta a porta para outra futura interpretação golpista. Portanto, não se trata de uma ação de limpeza qualquer, os artífices da tentativa golpista estão entre as peças chaves do generalato e das forças de segurança e ainda possuem muitos aliados nos salões do poder.
É hora das ruas
A “hora da verdade” para enfrentar os golpistas deve ser a própria “hora das ruas”.
Bolsonaro lutando para se defender e cavar espaços político apelou para a convocatória de um ato para o próximo dia 25 de fevereiro, na Avenida Paulista. E vai buscar polarizar na sociedade, buscando palco nas ruas e nas eleições que se aproximam. Um exemplo disso é a confirmação do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes no ato.
As revelações de Cid não pararam apenas na cúpula do PL e do Exército. Três grandes empresários, Luciano Hang (lojas Havan), Meyer Nigri (Tecnisa), Afrânio Barreira (Coco Bambu) foram citados em audio de Cid para o General Freire Gomes, como parte da conspiração golpista.
È preciso construir uma ampla unidade de ação para levar adiante a luta por medidas imediatas contra Bolsonaro, os golpistas das Forças Armadas e seu núcleo de empresários aliados. Apenas nas ruas e com uma campanha que consolide a maioria social para a prisão de Bolsonaro poderemos aproveitar a brecha que está aberta.
O governo precisa mudar sua postura. Não é possível conciliação com os golpistas, que querem superar esse momento, para voltar mais forte no futuro. O ajuste que o governo impôe sobre os servidores e a rendição diante de Lira apontam um caminho que vai gerar mais frustração social.
Por um campanha pela prisão de Bolsonaro e dos generais golpistas! Sem Anistia!
Para materializar as tarefas democráticas que temos à frente é preciso construir uma campanha nacional pela prisão de Bolsonaro e dos generais golpistas, levantando também temas que impeçam tentativas golpistas no futuro. Para isso, devemos tratar também dos chamados serviços de inteligência e das forças policiais cujos comandos estão ocupados por bolsonaristas. As revelações recentes sobre a ABIN demonstraram seu comprometimento com os interesses golpistas mesmo após o fim do governo Bolsonaro e desmascararam seu principal expoente, o delegado Alexandre Ramagem, então cotado para a prefeitura do Rio.
Esta ampla campanha só poderá ser vitoriosa se reunir os setores mais combativos da luta contra a extrema direita para exigir avanços concretos como a prisão de Bolsonaro. Essa é a principal batalha.
Como medidas transitórias deve se incluir na discussão temas como a extinção da ABIN, , a suspensão do artigo 142, o fim do dispositivo da Garantia da Lei e da Ordem, o desmantelamento das mílicias urbanas e rurais, entre outras pautas democráticas.
Precisamos tomar as ruas, dialogando com os milhões que querem ver Bolsonaro na prisão, para um campanha massiva que leve adiante essa tarefa.