Não podemos esperar até 2050! A luta pela Amazônia é agora!
O iminente colapso socioambiental que ameaça a Amazônia precisa ser enfrentado de forma contundente
Foto: Bruno Kelly / Wikimedia Commons
O artigo publicado nesta quarta-feira, 14, pela revista científica Nature, apontando que a Amazônia pode sofrer um colapso socioambiental irreversível até 2050, confirma o que os povos amazônidas já alertavam há anos: é urgente parar o desmatamento e as ações predatórias do capital na Amazônia, estimuladas pelo Estado, que destroem nossos rios, nossos solos e nossa floresta, e contribuem decisivamente para as mudanças climáticas e o aquecimento global.
Embora o Brasil tenha assumido alguns compromissos para a redução da emissão de gases nas conferências internacionais, o que continuamos vendo na prática é o incentivo à extração mineral, ao agronegócio, às monoculturas e à produção de combustíveis fósseis, como na tentativa de iniciar a prospecção de petróleo na foz do Rio Amazonas e na região do Salgado paraense, na Amazônia brasileira.
É preciso alertar que as políticas neodesenvolvimentistas do Estado brasileiro – e do governo Lula – se contrapõem à autodeterminação e sustentabilidade dos povos, ao desrespeitar territórios, violar direitos, violentar a história e a memória, e promover graves danos socioambientais, que são agravados em um contexto de emergência climática.
Isto porque o Estado tem priorizado a expansão do mercado capitalista na Amazônia, buscando ampliar sua acumulação por meio da espoliação dos recursos naturais abundantes na região. O objetivo é consolidar o Brasil enquanto exportador de commodities, considerando a exploração de matérias-primas como base essencial para a garantia do desenvolvimento industrial e dos interesses econômicos do Norte Global
Esse modelo de desenvolvimento imposto é uma prática neocolonial, que já foi experimentado ao longo da história na Amazônia. O resultado tem sido a reprodução de violências contra os povos da região, que têm sido condenados a um presente e um futuro de pobreza, em uma região extremamente rica com uma população absurdamente pobre. A legitimação de ‘cercamentos’, a precificação da natureza e a intensificação do processo de espoliação dos recursos naturais que dão fortes sinais de esgotamento, como mostra a revista Nature, avança para um nível perigoso de colocar em risco a própria humanidade.
Por isso, não podemos esperar até 2050. A luta em defesa da Amazônia é agora e é real! Sem falsas alternativas ou políticas travestidas de sustentabilidade, como o mercado de carbono e a bioeconomia, que não alteram as bases produtivas do capital, e se limitam a alterar dinâmicas territoriais ao promover a manutenção de práticas extrativistas, ao mesmo tempo que se resumem a uma estratégia discursiva para ampliar mercados e novos métodos de exploração da sociobiodiversidade
É necessário pensar e implementar uma nova base produtiva para a Amazônia, estruturada em práticas agroecológicas, e em novos valores estruturantes do processo de sociabilidade, como a solidariedade e a partilha, a partir da sabedoria popular e dos conhecimentos ancestrais dos povos amazônidas, em especial indígenas, quilombolas e ribeirinhos.
É urgente defender uma sociedade que não siga a lógica temporal e espacial do capital, mas que se estruture nos valores do ecossocialismo, enquanto uma construção do presente para termos a garantia do futuro. Não se trata de alarmismo ou uma vã utopia. Mas um chamado para nos contrapormos aos projetos do capital para a Amazônia, ao mesmo tempo em que é um convite para fortalecermos os processos de resistência e lutas, a fim de evitar que a humanidade chegue a um ponto de não retorno e se autodestrua, como temos observado com os crimes ambientais, os desastres naturais, a pandemia, as respostas da natureza e a emergência climática da atualidade.