IV Conferência Estadual do MES SP: Antifascista e Ecossocialista
Combater a extrema direita e construir uma alternativa
Nos dias 9 e 10 de março realizamos em São Paulo a IV conferência estadual do MES SP. O encontro reuniu cerca de 140 delegadas e delegados de todas as regiões do estado, representando mais de 30 cidades, além de observadoras/es e convidadas/os, totalizando 200 camaradas presentes. O evento foi uma vitória desde o período pré-conferência, quando verificamos o amplo envolvimento da militância da organização, expresso nas contribuições escritas. Trata-se de um marco para nossa organização no mais importante estado do País.
O primeiro aspecto a destacar é o salto na construção de nossa organização no estado de SP. Essa foi a primeira Conferência estadual presencial desde o último processo de fusões, em 2019, quando TLS, parte dos Anticapitalistas, Primeiro de Maio, e outros grupos regionais ingressaram no MES.
Esse salto de qualidade ficou evidente nos dois primeiros painéis. O primeiro, sobre Ecossocialismo, contou com a mestranda da Unicamp, Aline Schmidt, a Deputada Estadual pelo Movimento Pretas, Monica Seixas, e com a presença do dirigente do PSOL, militante da IV Internacional e ex-membro da Insurgência, Zé Correia, apontando que o processo de reagrupamento segue em curso. Vale destacar também a recepção feita à vereadora de Ourinhos, Roberta Stopa, que estava no PT e agora ingressa no PSOL, demonstrando o MES e o PSOL como polos de atração dos setores dinâmicos nas cidades e regiões.
Já no segundo painel, sobre o “mundo do trabalho”, a própria composição da mesa expressou o fortalecimento do nosso trabalho sindical, com Tonhão Brother (sindicato dos metalúrgicos de Campinas), Eliane e Fred Henriques (Apeoesp) e Annie Hsiou (Andes), que representaram algumas das categorias nas quais estamos desenvolvendo nosso trabalho sindical com a TLS. É uma mudança significativa para o MES no estado de SP o salto na inserção no movimento da classe.
Dentre as inúmeras contribuições apresentadas na tarde de sábado, de todas nossas frentes e setoriais, vale destacar a potência e a força das falas de Ricardo e Taline, coordenadores da Rede Emancipa. A militância do MES foi e é fundamental para enraizar o que hoje é um dos maiores movimentos de educação popular do País, seguiremos com muita prioridade organizando educadoras e educadores, nas periferias e comunidades de todo o Brasil.
O centro do debate da Conferência foi a permanência do fenômeno da extrema direita e o melhor meio para derrotá-la. Não poderia ser diferente, essa é a preocupação que está na cabeça de toda a vanguarda da esquerda social no Brasil. A prioridade do MES para o período seguirá sendo derrotar a extrema direita, em conjunto com a construção de uma alternativa independente e anticapitalista. As vitórias eleitorais, são importantes, mas não são suficientes para derrotar de vez um fenômeno que é, com viés reacionário, uma expressão da crise do sistema capitalista.
Dessa forma, o centro da disputa contra a extrema direita no terreno eleitoral se dará na capital do estado, onde Guilherme Boulos disputará com o representante do bolsonarismo, o atual prefeito, Ricardo Nunes. Nossa organização será parte desse amplo movimento pela derrota de Nunes, e a partir dele, nosso esforço será para impulsionar a construção de um polo social e político com independência de classe.
Para esse desafio combinado, derrotar a extrema direita e construir e fortalecer um polo independente e anticapitalista, a nossa Conferência estadual apontou três tarefas centrais:
- Reeleger, eleger ou instalar nossas tribunas nos principais centros, pois nossas figuras são as porta-vozes de nosso programa;
- Centralidade no debate programático. Com um movimento policlassista como o que elegeu Lula e hoje se organiza em torno de Boulos, há confusão na vanguarda, essa confusão dilui fronteiras e nosso programa. Firmeza e contundência na disputa do programa serão fatores fundamentais para disputa de consciência;
- Apostar na nossa construção como um polo independente no interior desse amplo movimento democrático, multiplicando nossa força militante organizada a partir de nossas campanhas e candidaturas.
Queremos construir com nossos aliados, sejam eles outras organizações, coletivos, movimentos sociais, intelectuais, um polo político independente. Para tanto, o processo eleitoral será fundamental, não somente pela eleição e reeleição de nossas figuras, mas para construir a partir desse processo, um programa comum com esses aliados, e, a partir do programa e de sua defesa e agitação, consolidar um corpo militante, que dispute na sociedade a ideia de que só a rua e a auto-organização da classe pode derrotar de uma vez por todas as ameaças da extrema direita.
Nossa resolução político-eleitoral aponta que nas cidades o PSOL deve, sempre que possível, buscar se postular como alternativa apresentando, preferencialmente, candidatura própria. Uma alternativa ecossocialista e antifascista não pode ser construída em aliança com setores da burguesia e seus partidos, dessa forma, nossa orientação quanto ao arco de aliança é restringir nossas coligações à esquerda radical podendo, a partir do debate e compromissos programáticos, ampliar para a federação liderada pelo PT. Sempre, nesses casos, dando hierarquia ao debate do programa.
Por fim, aprovamos por aclamação a indicação de nossas prioridades para o ano de 2024. A eleição da capital, pelo seu significado e impacto nacional é a prioridade de nossa organização, com a busca da reeleição de Luana Alves, como porta voz do programa independente que queremos levantar. Em seguida, as reeleições de nossas porta vozes nos grandes centros, com Mariana Conti em Campinas, Juliana, do AtivOz, em Osasco, e Bruna Biondi, do Mulheres por Mais Direitos em São Caetano do Sul.
Além desses primeiros nomes, teremos as reeleições de Débora (Marabá Paulista) e Leandro (Itapira), além de candidaturas com chances reais de eleição, que podem significar uma expansão de nosso alcance para a disputa de ideias, em pelo menos sete cidades ao redor do estado. Em outras, ainda, acumularemos para a nossa construção e diálogo social, mesmo em condições eleitorais mais difíceis.
Em tempos desafiadores, confiamos que o PSOL segue sendo uma ferramenta possível para a classe trabalhadora. A relação do partido com setores mais amplos se faz necessária na medida em que o enfrentamento à extrema-direita estiver em pauta. Já o MES, enquanto corrente interna, adquire centralidade como ferramenta estratégica de organização da nossa coluna de quadros e militantes. Por isso, também na Conferência, avançamos em nossos aspectos organizativos, atualizamos a compreensão da importância da formação política revolucionária, do internacionalismo, da aproximação de novos camaradas, da estruturação e expansão da Revista Movimento, com metas claras. Somos conscientes de nosso tamanho, responsabilidade e também limitações, e reafirmamos nosso caráter de uma organização revolucionária.
A IV Conferência Estadual do MES foi, dessa maneira, uma grande vitória. Demonstrou a força de nossa política e de nossa organização, consolidou um sentido comum para as disputas desse ano e foi mais um passo no processo de construção de uma alternativa independente e anticapitalista no Brasil.