Nossa resposta política ao bolsonarismo no 23 de março
A necessária convocação de uma manifestação em resposta ao bolsonarismo nas próximas semanas enfrenta dilemas importantes
Foto: SINDIUTE
Finalmente, após reunião entre as frentes e movimentos sociais, se acordou a convocatória de uma manifestação unitária para o 23 de março, em resposta às articulações/manifestações bolsonaristas. Contudo, existe um debate sobre a pertinência ou não de ir às ruas, sobre quais palavras de ordem devemos defender e como se relacionar com outras pautas urgentes.
Tendo como ponto de partida que a luta contra a extrema direita é mundial e que Bolsonaro logrou uma importante manifestação no último domingo, devemos nos colocar em ação para disputar a maioria da sociedade.
Reivindicamos a luta das ruas, colocando como tarefas a prisão de Bolsonaro, a luta contra qualquer anistia aos golpistas e a defesa da causa palestina. Ao lado dessas consignas, devemos defender a pauta de reivindicações econômicas e sociais da classe trabalhadora e da juventude. O dia 23 deveria ser parte de um plano de lutas mais amplo.
Bolsonaro na Av. Paulista: a melhor defesa é o ataque
Definimos, em nota do secretariado nacional do MES, o sentido do ato de Bolsonaro em São Paulo:
“No último domingo, Bolsonaro fez seu ato político na Avenida Paulista, convocando apoiadores para uma manifestação defensiva em resposta à situação que ele e aliados golpistas enfrentam. O discurso reivindicou seu governo, sua pauta reacionária e contrarrevolucionaria, apelando pela anistia aos que estiveram envolvidos na tentativa de golpe de 08 de janeiro (como o próprio Bolsonaro, em primeiro lugar, o chefe da operação). Reivindicou uma borracha no passado e pediu que o país se pacificasse. “
Bolsonaro demonstrou que, apesar de estar com agenda defensiva, está organizado e tem uma base social disposta a defendê-lo. Essa base está composto nas cidades por setores fundamentalistas religiosos, liderados por figuras como Magno Malta e Silas Malafaia. A enorme quantidade de bandeiras do estado de Israel na manifestação não deixou dúvidas quanto à estética que remete à aliança entre o sionismo de direita e uma parte das igrejas evangélicas.
A presença de dirigentes políticos, como deputados, quatro governadores e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes indica o roteiro bolsonarista para 2024: pressionar por anistia, “uma borracha no passado”, armar a disputa eleitoral e manter sua base mobilizada nas ruas e nas redes.
Ao realizar uma manifestação de força, que em nossa opinião é incapaz ainda de incidir sobre a decisão do STF , Bolsonaro busca deslocar a agenda de sua eventual prisão para o tema da anistia, envolvendo uma rede mais ampla de atores civis e militares. uma agenda para polarizar e lutar n’outra esfera
A polêmica sobre “disputar as ruas”
A resposta ao ato deflagrou uma polêmica e um debate. Em primeiro lugar, não houve nenhuma convocatória para manifestações antes do ato bolsonarista que tomou a Paulista. Diante da força do bolsonarismo, que surpreendeu a alguns, a resposta foi dividida. Um importante yotuber, Felipe Neto, colocou dúvidas se ir às ruas não enfraqueceria a luta contra Bolsonaro, na hipótese de um número diminuto de manifestantes. Na Folha de São Paulo, dirigentes do MTST e de outros movimentos populares afirmaram que a defesa da prisão de Bolsonaro não deveria ser parte da convocatória do ato do dia 23 e novas iniciativas.
O chamado à mobilização do dia 23 ficou debilitado por conta da política das frentes – Povo sem Medo e Brasil Popular – que hesitaram ao não convocar um dia de luta pela prisão de Bolsonaro antes do próprio Bolsonaro marcar a sua manifestação. Nessa ausência, o bolsonarismo recupera a iniciativa, com um protesto central que teve um êxito evidente, sem condições contudo de alterar a dinâmica de estar na defensiva diante da Justiça. A convocatória do 23 de março nasce de certa forma vacilante e o debate sobre suas características, seu conteúdo político e local de realização aind anão foi definido pelas frentes. Defendemos e nos somamos ao 23, mas como dito, este deve ser parte de um plano mais amplo de lutas. Um ato demarcatório e isolado corre o risco de ser esvaziado.
Nossa visão é oposta. Nossa resposta a Bolsonaro e sua agenda deve ser aumentar o trabalho de base, ganhando maioria social a partir das ações de rua e da massificação de um programa de urgência que defenda os interesses de amplas massas e combata o grande capital. Existe uma grande base social que simpatiza e vota na esquerda, mas necessita ser organizada ao redor de um programa.
É preciso debater os pontos programáticos que são urgentes para mobilizar. E ir às bases fazendo essa discussão. A campanha eleitoral será um momento importante para essa construção.
Sem massificar o movimento, sem levarmos centenas de milhares nas ruas de todo país, com um calendário de mobilização, que envolva a juventude, que acompanhe o processo argentino, não é possível enfrentar a força – real – do bolsonarismo.
Nossa política
Nossa política passa por defender as bandeiras de luta conta a extrema direita (em defesa da Palestina, contra a anistia aos golpistas e por justiça por Marielle), com prioridade para a prisão de Bolsonaro e dos golpistas. E combinar, num plano de lutas, tais bandeiras com as reivindicações mais gerais dos trabalhadores como a valorização do salário mínimo e do bolsa-família, a luta pela reforma agrária e urbana, por verbas para saúde e educação, além da valorização dos servidores públicos e contra as privatizações.
Temos que transformar o calendário pautado num plano de lutas genuíno, que envolva a datas do 8 de março, os atos a favor da Palestina, o dia 23, apontando para um 1 de maio unificado e de lutas e uma possível marcha à Brasília ainda esse ano.
Vamos apoiar greves como a que o ANDES votou em seu congresso. Estamos coordenando forças para a conferência antifascista em Porto Alegre, em maio. E preparando-se para uma campanha eleitoral a quente, polarizando contra a extrema direita e defendendo uma agenda da classe.
Não há fórmula mágica para lutar e vencer o bolsonarismo. Ganhar maioria social e retomar as ruas. Isso passa pela postura que a esquerda e o PSOL devem ter nas eleições