O PSOL precisa disputar a cidade
Qual a melhor tática para as eleições municipais em Osasco?
Via Ativoz
O PSOL mudou bastante nos últimos anos. Se, por um lado, houve aspectos positivos como o aumento geral da audiência do partido, também é inegável que parte do espírito militante que encantou uma geração se perdeu. Hoje, vemos Marta Suplicy compartilhando mensagens do 8 de Março nas redes sociais do partido, a bancada no congresso votando e comemorando reforma tributária elogiada por banqueiros, e boa parte dos dirigentes e figuras públicas exaltando os feitos do governo petista de uma maneira que eles próprios considerariam vergonhosa alguns anos atrás. A tarefa de derrotar o bolsonarismo e a extrema-direita, que o PSOL abraçou corretamente, também acabou alimentando abordagens meramente carreiristas e preguiçosas. Não é necessário analisar nada: o que parece ter alguma ligação com o bolsonarismo é nosso inimigo, e tudo que parece enfrentá-lo é automaticamente aliado. O problema com esse raciocínio é duplo: por um lado, perdemos a capacidade de ir além da aparência; por outro, se diminuiu a vocação do PSOL para imaginar um mundo para além do capitalismo.
Sem dúvida, a atuação em nível municipal precisa ter como ponto central o combate à extrema direita e ao bolsonarismo. A atuação do PSOL e do mandato liderado por Juliana em Osasco nunca deixou dúvidas sobre essa centralidade. Agora, enquanto discutimos qual seria a melhor tática para as eleições, não achamos que simplificar as características dos adversários e exagerar as qualidades dos possíveis aliados seja o melhor método. Também soa ridículo procurar interesses egoístas ou ocultos em quem acredita que a melhor tática é a candidatura própria.
A principal característica de Rogério Lins é o oportunismo. Ele iniciou sua carreira política no auge do PT e aproveitou a crise que o partido dos trabalhadores enfrentou após o impeachment de Dilma para consolidar um projeto que engloba desde quadros oriundos do PT e do campo popular até evangélicos fundamentalistas que se tornariam os principais apoiadores do bolsonarismo na cidade. Enquanto Lins criava a imagem de um homem simples que jogava futebol na várzea e frequentava os bairros pobres da cidade, suas políticas favoreciam grandes empresários que obtiveram incentivos fiscais generosos, e entregou a cidade às construtoras e incorporadoras que destroem o meio ambiente e pioram as condições de vida de todos. Agora, Lins deseja colocar seu concunhado na prefeitura e consolidar seu domínio sobre a política da cidade.
“Bota a cara no Sol” – Um nome e um programa
Higor é um jovem da periferia de Osasco que conhece na prática os muitos problemas de nossa cidade. Ele sabe o que é não ter dinheiro para se deslocar, como é ter medo de andar no próprio bairro e ser “confundido” pela polícia, e já passou meses esperando por consultas e exames no caos da saúde em Osasco. Higor é socialista e entende que seu papel é levar o programa do PSOL e fazer com que as pessoas vejam Lins e Gerson como inimigos de classe. Ele aceitou a tarefa complexa de apresentar sua pré-candidatura ao diretório do PSOL e aos osasquenses atendendo a um pedido de figuras importantes do partido, como as deputadas Sâmia Bomfim e Monica Seixas, a vereadora do PSOL na cidade, Juliana Curvelo, e personalidades da sociedade osasquense, e conta com o apoio de pelo menos um terço dos membros do Diretório. Não se trata apenas de uma vontade pessoal ou de uma missão solitária, mas da compreensão de que o programa do PSOL tem espaço na sociedade e precisa de uma voz para representá-lo. Essa pré-candidatura defende pontos programáticos que acreditamos não poderem ser apresentados da mesma forma por outra candidatura que não seja a do PSOL – como passe livre nos ônibus, câmeras nos uniformes dos GCMs, e rompimento dos contratos das OSs na saúde.
Não vetamos Emidio, mas não aceitamos o apoio automático que diminui o partido
Emidio foi prefeito da cidade de Osasco por dois mandatos, esteve no governo durante o período áureo do lulismo, quando Lula ultrapassou 80% de aprovação popular. No entanto, o legado de sua administração é misto, como evidenciado pela baixa votação que o ex-prefeito obteve na última eleição na cidade – 13,3% contra 4,5% da candidata do PSOL, mesmo gastando 30 vezes mais. Uma das piores heranças de Emídio foi deixar como sucessor o prefeito Lapas, que contribuiu para o desmantelamento da centro-esquerda na cidade e absorveu muitos quadros petistas que acabaram aderindo à direita. Não é à toa que o PSOL foi oposição ao governo Emídio durante todo o seu mandato.
Também incomoda a forma conciliadora e pouco combativa que Emídio e o PT de Osasco mantiveram durante as gestões de Lins. Emídio, por exemplo, participou pouco da resistência ao bolsonarismo na cidade, e uma das poucas agendas recentes foi ao lado do concunhado e possível sucessor de Lins, Gerson Pessoa, e de um dos vereadores mais reacionários da história de Osasco, o deputado ligado à extrema-direita católica Rogério Santos. Embora essa agenda com deputados da base do Tarcísio até certo ponto possa ser considerada puramente institucional, por que fazer colab com eles nas redes sociais?
Apesar dessas dificuldades, reconhecemos como uma possibilidade real retirarmos nossa candidatura para compor com o candidato do PT porque tememos que aconteça em Osasco o mesmo que ocorreu em Barueri – o estabelecimento de uma oligarquia familiar capaz de cooptar todas as forças políticas e, utilizando de períodos de arrecadação confortável, distribuir pequenas concessões para os pobres e classe média, ao mesmo tempo em que formata a cidade de acordo com os interesses das elites, das grandes empresas que recebem benefícios fiscais, e das construtoras e sua forma predatória. Para que isso aconteça, teríamos que acreditar que o objetivo da campanha do PT é construir uma oposição real e não se cacifar para obter espaços no possível governo de Gerson, teriam que assegurar um espaço condizente com a força do PSOL na chapa e na coordenação da campanha, e abraçar pontos programáticos importantes para o nosso partido.